“O terrorismo nasce da pobreza”, disse Francisco aos quenianos
Em Nairobi, Papa pediu aos políticos que “trabalhem com integridade e transparência para o bem comum” e “protejam o futuro dos jovens”.
Terrorismo, pobreza, corrupção, governação, reconciliação, diálogo entre religiões e clima. No primeiro discurso do seu périplo africano, o Papa tocou em todos os temas que se esperava viesse a tratar na viagem ao Quénia, Uganda e República Centro-Africana.
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Terrorismo, pobreza, corrupção, governação, reconciliação, diálogo entre religiões e clima. No primeiro discurso do seu périplo africano, o Papa tocou em todos os temas que se esperava viesse a tratar na viagem ao Quénia, Uganda e República Centro-Africana.
No avião que o levou a Nairobi, primeira paragem de seis dias marcados por desafios de segurança, um jornalista perguntou a Francisco se não tem medo de um atentado: “Para dizer a verdade, tenho mais medo dos mosquitos”, respondeu, com um sorriso, recomendando aos jornalistas que usem repelente.
“A experiência demonstra que a violência, o conflito e o terrorismo se alimentam do medo, da desconfiança e do desespero, que nascem da pobreza e da frustração”, afirmou o Papa no discurso na Casa do Estado, horas depois de aterrar na capital queniana.
Ao lado do Presidente, Uhuru Kenyatta, quis deixar desde logo uma mensagem aos políticos destes três países e do continente, nesta que é a sua primeira viagem a África, encorajando-os a “trabalharem com integridade e transparência para o bem comum”. A Kenyatta pediu ainda que “proteja as necessidades e as aspirações dos jovens”.
“Sem medo”, disse o Papa argentino aos quenianos, menos de oito meses depois da morte de 147 estudantes cristãos num ataque a Universidade de Garissa reivindicado pelos extremistas somalis das milícias Al-Shabbah.
Se “na nossa sociedade há divisões, sejam étnicas, religiosas ou económicas, todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados a trabalhar pela reconciliação e paz, pelo perdão”, pediu. “No trabalho de construção de uma ordem democrática sólida, de reforço da coesão e da integração, da tolerância e do respeito pelos outros, a procura do bem comum deve ser um objectivo principal.” Francisco concluiu que, “em última análise, a luta contra os inimigos da paz e da prosperidade deve ser travada por homens e mulheres que, sem medo, acreditem nos grandes valores espirituais e políticos que inspiração o nascimento da nação” cristã.
Para além de ser palco de atentados terroristas, o Quénia tem assistido nos últimos anos a conflitos étnicos que entre 2007 e 2008 deixaram mais de mil mortos e 600 mil deslocados.
A poucos dias da abertura da conferência do clima em Paris (começa no dia 30), o Papa também não deixou de fora as alterações climáticas, lembrando que a “responsabilidade em transmitir a beleza da natureza na sua totalidade às futuras gerações e o dever de administrar de forma justa os dons que recebemos” é de todos.
Repetindo a ideia de “bem comum”, o Papa afirmou que “há uma clara ligação entre a protecção da natureza e a edificação de uma ordem social justa e equilibrada” e que os valores da beleza, da transparência e da integridade “devem inspirar os esforços dos governantes em promoveram modelos de desenvolvimento económico responsável”.
Francisco estará no Quénia até sexta-feira, dia em que partirá para o Uganda. Há 10 mil membros das forças de segurança quenianas envolvidos na segurança da visita em Nairobi, onde as autoridades encerraram as estradas por onde passará o cortejo do Papa, que viajará sempre em viaturas abertas.
Quinta-feira, Francisco, o Papa que disse querer dedicar o seu pontificado aos mais pobres, aos que vivem “nas periferias do mundo”, deverá visitar um bairro de lata de Nairobi, antes de, já no Uganda, visitar um centro para sem abrigo. No segundo dia da sua visita ao Quénia, decretado feriado nacional “de oração e reflexão”, o Papa vai ainda presidir a um encontro ecuménico e inter-religioso, antes de passar pela sede da agência da ONU para o Clima.
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