Estudo conclui que a cultura científica em Portugal foi vítima da crise financeira

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O ministro Nuno Crato e a secretaria de Estado da Ciência, Leonor Parreira Daniel Rocha

Um estudo sobre cultura científica em Portugal concluiu que o progresso feito nesta área desde meados da década de 1990 foi posto em causa pela crise financeira recente, havendo agora menos investigação, divulgação, massa crítica e ambição.

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Um estudo sobre cultura científica em Portugal concluiu que o progresso feito nesta área desde meados da década de 1990 foi posto em causa pela crise financeira recente, havendo agora menos investigação, divulgação, massa crítica e ambição.

Da autoria dos jornalistas e professores universitários António Granado e José Vítor Malheiros, o estudo "Cultura Científica em Portugal: Ferramentas para perceber o mundo e para aprender a mudá-lo" dá conta, nas suas considerações finais, do impacto da "asfixia financeira que afectou o sistema científico nos últimos cinco anos".

Segundo os autores, essa asfixia "ameaça amputá-lo de um número considerável dos seus membros é, actualmente, o maior risco para a cultura científica", referindo que a comunidade científica está "constrangida a centrar-se nas actividades essenciais que a justificam".

O estudo indica que nem só a crise financeira explica a "fragilidade do sistema de cultura científica", identificando problemas como a "atomização dos projectos existentes" e a falta de massa crítica e sustentabilidade que lhes está associada. "Essa atomização e falta de massa crítica é um reflexo da cultura de pobreza que voltou a enraizar-se na sociedade portuguesa e que se traduziu por um insensato reforço da competição por recursos escassos e por uma menor disponibilidade para a cooperação", lê-se no documento.

Outra vítima da falta de investimento na ciência é, do ponto de vista dos autores, a ambição dos investigadores e da comunidade científica.
"Falta hoje a ambição de grandes projectos, difíceis e mobilizadores, capazes de entusiasmar uma geração. Falta também uma política de transparência das instituições de investigação – e de todas as instituições que usam dinheiros públicos – que permita um fácil acesso a informação actualizada por parte de todos os cidadãos. Falta, dramaticamente, a assunção pelo Estado de uma política pública de promoção da cultura científica como existiu no passado e que já deu tantos frutos", afirma-se nas conclusões do estudo.

António Granado e José Vítor Malheiros, que pertenceram aos quadros do PÚBLICO, defendem ser "lamentável" que o consenso em torno da promoção da cultura científica em Portugal não se tenha conseguido manter, e, mais do que isso, que se tenha transformado em "arma de arremesso do debate político", lado a lado com o "investimento em investigação, cuja importância se julgava adquirida de um ponto de vista civilizacional", e que isto tenha acontecido quando o Ministério da Educação e Ciência era tutelado por Nuno Crato, que "possuía um currículo de campeão da cultura científica antes de entrar para o Governo".

"A actual situação de retrocesso é provavelmente circunstancial, mas demonstra a necessidade permanente de uma forte posição de argumentação em defesa da cultura científica e de constante esforço de envolvimento das várias franjas da sociedade civil em todas as actividades", concluem os autores.

O trabalho, que se traduz num levantamento exaustivo da actividade científica em Portugal nas últimas duas décadas, dando conta de iniciativas públicas, envolvimento da sociedade, iniciativas escolares e cobertura mediática, entre outros pontos, foi desenvolvido para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, e é apresentado nesta segunda-feira, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, pelas 18h30. A apresentação está a cargo do investigador e sociólogo António Firmino da Costa, e do físico Carlos Fiolhais, que coordena o trabalho na área da Ciência da Fundação Francisco Manuel dos Santos.