Benjamin Clementine vence o Mercury e dedica-o às vítimas de Paris

O galardão, que premeia o melhor álbum do ano da autoria de um músico britânico, foi atribuído ao seu álbum de estreia At Least For Now. Digressão em Portugal começa no domingo.

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O músico estreou-se em Portugal no festival Super Bock Super Rock em Julho enric vives-rubio

O músico inglês Benjamin Clementine, descoberto para a música no metro de Paris, foi o grande vencedor do prémio Mercury, o mais importante e legitimado do Reino Unido no campo da música popular e um dos que mais impacto tem a nível global, soube-se na noite desta sexta-feira em Londres. O galardão, que premeia o melhor álbum do ano da autoria de um músico britânico, foi atribuído ao seu álbum de estreia At Least For Now.

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O músico inglês Benjamin Clementine, descoberto para a música no metro de Paris, foi o grande vencedor do prémio Mercury, o mais importante e legitimado do Reino Unido no campo da música popular e um dos que mais impacto tem a nível global, soube-se na noite desta sexta-feira em Londres. O galardão, que premeia o melhor álbum do ano da autoria de um músico britânico, foi atribuído ao seu álbum de estreia At Least For Now.

Entre os nomeados estavam nomes como Florence and the Machine, Jamie xx ou Aphex Twin. Na altura de receber o prémio fez um discurso emocional, dizendo-se incrédulo com a distinção e incentivando os que sonham em alcançar os seus propósitos a nunca desistirem dos seus sonhos. Na altura de dedicar a distinção às vítimas dos recentes ataques terroristas de Paris não conseguiu conter as lágrimas. Recorde-se que foi na capital francesa que acabou por iniciar o seu percurso como músico.

“Sou inglês, mas respeito imenso Paris, e as pessoas de Paris, porque amam a arte e tenho que lhes dedicar este prémio”, disse. No sábado passado o músico foi visitar o local da sala de concertos Bataclan, num gesto de homenagem às vítimas dos atentados.

O músico de 25 anos, que se estreou em Portugal no festival Super Bock Super Rock de Julho passado, em Lisboa, tem agora agendada uma pequena digressão pelo país, a ter início já este domingo no Theatro Circo de Braga, seguindo-se Aveiro (3ª feira, Teatro Aveirense), Porto (4ª feira, Casa da Música), Lisboa (sexta-feira, festival Mexefest) e Faro (sábado, Teatro das Figuras).

Em Fevereiro deste ano, quando o álbum foi editado em França, contávamos a sua história e escrevíamos que o cantor, compositor e pianista impressionava “pela presença magnetizante, pelo lirismo vocal grandioso e pela música híbrida, com qualquer coisa de clássica, jazz, gospel ou canção ligeira francesa”.

E em Junho, quando o álbum foi lançado no resto da Europa, fomos vê-lo a Brighton, em Inglaterra, onde o entrevistámos. Na altura parecia algo alheado da atenção que despertava: “Não tinha nenhuma expectativa em particular com este álbum porque era o primeiro”, dizia-nos. “Apenas queria gravar as minhas canções e dá-las a conhecer às pessoas. Tudo o que aconteceu depois acaba por ser um bónus.”

A sua história é conhecida. Saiu de casa dos pais aos 17 anos, vagueou pelas ruas Londres e dois anos depois tentou a sua sorte em Paris. Não tinha contactos em França. Não dominava a língua. E acabou a dormir nas ruas, em hotéis precários ou em cozinhas de restaurantes onde trabalhou. Ao mesmo tempo, começou a cantar no metro da cidade, acabando por ser convidado a gravar por um editor e produtor que o viu cantar.

A sua biografia é uma bela história, mas quando se fala com ele percebe-se que ele deseja que a sua música não seja relegada para segundo plano, o que tem sem dúvida conseguido: “Apenas quero que as pessoas falem do meu trabalho, porque a minha música também é uma óptima história”, haveria de dizer-nos.

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O músico estreou-se em Portugal no festival Super Bock Super Rock em Julho Enric Vives-Rubio

O prémio Mercury tem catapultado várias carreiras ao longo dos anos. Tem um modelo credível e prestígio a condizer. Por norma, quem o recebe vê a sua carreira ser impulsionada. Foi isso que aconteceu com Antony, The xx, Portishead, Arctic Monkeys, James Blake ou Franz Ferdinand, hoje conhecidos do grande público, mas apenas em vias de o serem quando foram premiados com o Mercury. E quando a lógica não é essa, trata-se de galardoar quem ainda está na fase ascendente do seu percurso criativo, apesar de já ser conhecido. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com PJ Harvey.

Da responsabilidade da indústria fonográfica e da associação de comerciantes discográficos, o Mercury é o prémio mais credível do sector no Reino Unido. Não é entregue numa longa cerimónia como os Grammys americanos na música, nem tem inúmeras categorias, apostando apenas num nome. A credibilidade é-lhe garantida por um painel de 60 pessoas, entre músicos, executivos, jornalistas e personalidades ligadas à música.