Altas temperaturas e escassez de chuva aceleram a propagação do jacinto-de-água
Autoridades espanholas investem mais 600.000 euros numa intervenção de “choque” para controlar a infestante no troço do rio Guadiana entre Medellín (Badajoz) e o rio Caia.
O ministério de Agricultura, Alimentação e Ambiente espanhol autorizou que a Confederação Hidrográfica do Guadiana (CHG) accionasse mais um investimento, desta vez, de 600 mil euros, para realizar uma intervenção de “choque” no controle do jacinto-de-água (Eichhornia crassipes) no troço do rio ibérico entre Medellín na província de Badajoz o rio Caia na fronteira com Portugal.
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O ministério de Agricultura, Alimentação e Ambiente espanhol autorizou que a Confederação Hidrográfica do Guadiana (CHG) accionasse mais um investimento, desta vez, de 600 mil euros, para realizar uma intervenção de “choque” no controle do jacinto-de-água (Eichhornia crassipes) no troço do rio ibérico entre Medellín na província de Badajoz o rio Caia na fronteira com Portugal.
É a primeira vez que as autoridades espanholas assumem oficialmente a presença do jacinto-de-água “nas proximidades da fronteira” mas admitindo que a presença a infestante “não é significativa na albufeira do Alqueva”. Ou seja: a planta oriunda da Amazónia está em Alqueva por mais sofisticado que seja o recurso à subtileza da CHG.
Em pleno Outono e no espaço de uma semana, a extracção da planta aquática passou das 500 para as 600 toneladas por dia. A CHG justifica esta situação anómala com a temperatura da água do rio que continua “demasiada elevada para a época” encontrando-se entre 18,5 ºC em Medellín e os 19,5ºC em Badajoz, factor que contribui para o “continuado crescimento da planta”.
A planta continua a registar um vigor vegetativo e grande capacidade de flutuabilidade e de colonização. “Em apenas 10 ou 12 dias, a exótica duplica a sua biomassa e atinge um peso por metro quadrado entre 11 a 51 quilos” descreve a CHG. Com estas características, fica muito dificultada a sua extracção. Ao mesmo tempo concentra nas suas raízes grandes quantidades de sedimentos que acabam por contribuir para a redução do calado nas zonas onde está depositada.
Neste momento, o dispositivo de recolha da planta envolve “40 trabalhadores, 14 embarcações, quatro equipas munidas de maquinaria pesada, reforçada na semana em curso com mais uma equipa de maquinaria pesada que opera em Badajoz”.
A CHG salienta ainda que o troço mais afectado pela contaminação estende-se de Mérida a Medellín numa extensão de 75 quilómetros. Seguem-se, até Badajoz, “pequenas manchas dispersas”. Mas no troço do Guadiana que atravessa a área urbana da cidade espanhola, na zona conhecida por Brazo Jamaco, encontra-se “a mais significativa” concentração da planta de onde chegam a ser retiradas uma média de 3 toneladas por dia.
As autoridades portuguesas “estão a colaborar nas acções de vigilância e limpeza nas proximidades da fronteira” anuncia a CHG. Com efeito, desde meados de 2014, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) procede à recolha de plantas concentradas numa mancha retida nas três barreiras que colocou no Guadiana em território nacional. Em Agosto passado, a empresa portuguesa reconheceu ao PÚBLICO que a presença do jacinto-de-água junto à confluência com o rio Caia “é preocupante”, frisando “estar consciente das implicações” associadas a eventos extremos “nomeadamente cheias significativas no Outono”, que não se verificaram, mas subsistindo o receio de que “ tal possa vir a acontecer em relação a Alqueva”.
Em declarações prestadas à Agência EFE, Francisco María Vásquez Pardo, investigador do Centro de Investigações Científicas e Tecnológicas da Extremadura sustenta que o jacinto-de-água está a alterar o ecossistema do rio Guadiana.
O impacto da planta infestante baixa a quantidade de oxigénio disponível na água, reduz “enormemente” a quantidade da luz que chega à água e subtrai “ muitíssimos nutrientes” em detrimento de outras espécies autóctones. “Há uma percentagem elevada de espécies naturais do rio que está a desaparecer em benefício de outras que não necessitam de luz”, enquanto outros organismos "não têm nutrientes suficientes e procuram outras zonas” para subsistir, adverte Francisco Pardo.