Sindicato acusa Calzedónia de “violentar desempregados”
Novo caso a envolver grupo italiano, depois de acção de recrutamento. Currículos de candidatos a emprego em sacos de lixo acessíveis na via pública.
O CESP — Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal acusa o grupo Calzedónia, especializado em roupa interior e ao qual pertencem as marcas Tezenis e Intimissimi, de “violentar desempregados através de entrevistas públicas de emprego nas montras e áreas comerciais” e de atirar “ao chão e ao lixo os documentos exibindo fotos e dados pessoais”.
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O CESP — Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal acusa o grupo Calzedónia, especializado em roupa interior e ao qual pertencem as marcas Tezenis e Intimissimi, de “violentar desempregados através de entrevistas públicas de emprego nas montras e áreas comerciais” e de atirar “ao chão e ao lixo os documentos exibindo fotos e dados pessoais”.
No final de Outubro, uma acção de recrutamento de trabalhadores realizada numa das montras da loja Tezenis situada no Rossio, em Lisboa, causou indignação nas redes sociais. Uma fotografia tirada por alguém que passou no Rossio no dia de recrutamento mostrava uma entrevista a decorrer numa das montras da loja, perante os olhares de quem estava no estabelecimento e passava na rua.
Na altura, o grupo Precários Inflexíveis publicou a imagem na sua conta no Facebook, considerando que se tratava de “uma lamentável sessão de recrutamento” e um “triste espectáculo de exposição e vexação”. “O direito à privacidade é um dos direitos mais elementares de todos os trabalhadores, ainda mais no processo de contratação”, sublinharam, antecipando ao PÚBLICO que iriam levar o caso à Autoridade para as Condições do Trabalho.
Fausto Leite, advogado especialista em Direito Laboral, considerou que o caso que envolveu o grupo Calzedónia era “humilhante” e “uma atitude oportunista que devia envergonhar a empresa”. Do ponto de vista legal, o advogado considerou que esta iniciativa “ofende a dignidade dos candidatos”, lembrando que esse “é o princípio matricial do direito e da constituição do trabalho”.
Depois deste caso, surgiu uma nova situação a envolver o grupo Calzedónia, agora através da sua loja Intimissimi, na Rua Augusta, em Lisboa. Três fotografias tiradas à porta do estabelecimento e publicadas no Facebook mostram sacos com lixo abertos, dos quais saem currículos de alegados candidatos a postos de trabalho. Os documentos surgem espalhados pela calçada e é possível ler os dados pessoais de quem presumivelmente entregou os seus currículos na loja. Na página da Intimissimi na rede social, vários utilizadores deixaram as suas críticas à situação, considerando que, mesmo que o caso tenha sido acidental, o grupo Calzedónia devia dar uma explicação.
Tal como aconteceu aquando da acção de recrutamento, desta vez, a empresa voltou a manter-se em silêncio. Tentativas de contacto com a representação do grupo em Portugal e com a sede em Itália revelaram-se infrutíferas.
Após a divulgação das imagens, o CESP lamentou, em comunicado, que as empresas se sintam “à vontade para fazer todas as alarvidades” e que a Calzedónia decida “humilhar e violentar, espezinhar, literalmente, os direitos humanos dos desempregados”. “Exige-se respeito, decoro e bom senso a todos. Começando pelos mais altos responsáveis de Portugal e, às entidades [oficiais], uma actuação punitiva exemplar desta empresa para prevenir a repetição de tais abusos”, sustenta o sindicato.
O CESP avança que já exigiu à Autoridade para as Condições de Trabalho e à Comissão Nacional de Protecção de Dados uma “actuação coerciva” e que irá denunciar o caso à Procuradoria-Geral da República, Assembleia da República, Parlamento Europeu, Organização Internacional do Trabalho, Confederação Europeia de Sindicatos, Conselho Económico e Social Portugal, Conselho Económico e Social Europeu e à Embaixada de Itália em Lisboa.
O PÚBLICO contactou a Autoridade para as Condições de Trabalho para apurar se recebeu algum denúncia sobre estes casos, mas até ao momento ainda não obteve resposta.