A mulher morreu em Paris e Antoine recusa-se a odiar o Estado Islâmico
"Vocês não terão o meu ódio", diz o viúvo de uma das vítimas do ataque ao Bataclan.
Hélène Muyal, 35 anos, foi uma das 129 vítimas dos atentados de dia 13 em Paris. Estava no concerto no Bataclan. O seu corpo foi identificado dias depois pelo marido, Antoine Leiris. Na profunda dor de ter perdido a mulher e a mãe do filho de 17 meses, o jornalista na rádio France Bleu escreveu uma carta aberta aos que mataram Hélène e às restantes vítimas dos ataques. “Vocês não terão o meu ódio”, escreve Antoine, num post publicado na sua conta no Facebook.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Hélène Muyal, 35 anos, foi uma das 129 vítimas dos atentados de dia 13 em Paris. Estava no concerto no Bataclan. O seu corpo foi identificado dias depois pelo marido, Antoine Leiris. Na profunda dor de ter perdido a mulher e a mãe do filho de 17 meses, o jornalista na rádio France Bleu escreveu uma carta aberta aos que mataram Hélène e às restantes vítimas dos ataques. “Vocês não terão o meu ódio”, escreve Antoine, num post publicado na sua conta no Facebook.
O texto tornou-se viral nas redes sociais e nos media. Esta quarta-feira, na rede social, a carta tinha sido partilhada perto de 173 mil vezes e recebido 116 comentários.
"Vocês não terão o meu ódio,
Na noite de sexta-feira vocês roubaram a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho, mas vocês não terão o meu ódio. Não sei quem são e não quero sabê-lo, vocês são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à Sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher foi uma ferida no Seu coração.
Por isso eu não vos darei o prazer de vos odiar. Vocês procuraram-no, mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que vos fez ser quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com um olhar desconfiado, que sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a viver da mesma maneira.
Eu vi-a esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Estava ainda tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente há mais de 12 anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos essa pequena vitória, mas será de curta duração. Sei que ela nos acompanhará todos os dias e que nos vamos reencontrar nesse paraíso das almas livres ao qual vocês nunca terão acesso.
Somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Não tenho mais tempo a dar-vos, quero juntar-me a Melvil que acorda da sua sesta. Tem só 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer-vos a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio."
Numa entrevista ao programa C à vous, no canal France 5, após a publicação da carta, Antoine voltou a emocionar os franceses e o mundo. O jornalista partilhou algumas das reacções que recebeu nos dias a seguir ao seu post, nas quais foi considerado "formidável" e "um exemplo". "Não sou um ser formidável, não sou um exemplo. Talvez a raiva vá aparecer, talvez vão existir momentos em que eu vou olhar para os outros cidadãos desconfiado. (...) Ficaremos tristes toda a nossa vida, parte de mim morreu com ela, mas não o vamos permitir, não temos o direito de ceder. Se eu deixar o meu filho crescer com o ressentimento que poderia ser o meu, ele vai tornar-se exactamente o que essas pessoas são", declarou.
Eles morreram na sexta-feira 13 de Novembro em Paris