Porto/Post/Doc: o “arrojo" de mostrar cinema documental na Baixa do Porto

Segunda edição do festival de novo cinema documental, que decorre de 1 a 8 de Dezembro no Rivoli e no Passos Manuel, foi apresentada esta quarta-feira na presença de Rui Moreira.

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A decorrer de 1 a 8 de Dezembro no “eixo” formado entre o Rivoli e o Passos Manuel, com algumas sessões no espaço Maus Hábitos, o segundo Porto/Post/Doc apresentará 12 filmes em competição, seleccionados entre mais de 400, sensivelmente o dobro dos que se candidataram na edição inaugural. Com o mesmo orçamento de 150 mil euros de que dispôs em 2014, o festival exibirá este ano um total de 66 filmes, 11 dos quais em estreia mundial e 44 nunca antes mostrados em Portugal.

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A decorrer de 1 a 8 de Dezembro no “eixo” formado entre o Rivoli e o Passos Manuel, com algumas sessões no espaço Maus Hábitos, o segundo Porto/Post/Doc apresentará 12 filmes em competição, seleccionados entre mais de 400, sensivelmente o dobro dos que se candidataram na edição inaugural. Com o mesmo orçamento de 150 mil euros de que dispôs em 2014, o festival exibirá este ano um total de 66 filmes, 11 dos quais em estreia mundial e 44 nunca antes mostrados em Portugal.

Entre os 12 títulos a concurso, o destaque vai para The Event, onde o bielorrusso Sergei Loznitsa (A Praça) utiliza exclusivamente imagens de arquivo para contar o “golpe” de 1991 que pretendeu derrubar o líder russo Boris Yeltsin; Cartel Land, do americano Matthew Heinemann, sobre as tensões fronteiriças entre o México e os EUA à volta da “guerra contra as drogas”; e Behemoth, olhar sobre a destruição das montanhas chinesas em nome da mineração de aço, da autoria do chinês Zhao Liang (Petition).

A selecção competitiva do Porto/Post/Doc inclui ainda duas presenças portuguesas, que não são inéditas: A Toca do Lobo, de Catarina Mourão, um dos mais aclamados documentários portugueses dos últimos anos, que vem do concurso do IndieLisboa, e Portugal, um Dia de Cada Vez, de João Canijo e Anabela Moreira, que estreou no DocLisboa.

As novidades nacionais no festival serão apresentadas fora de concurso: Cercados, de André Tentúgal e Vasco Mendes, sobre o bairro portuense do Cerco; Bairrismos, de Pedro Neves, sobre os bairros camarários da mesma cidade; e ainda Como Se, do fotógrafo Daniel Blaufuks, sobre o campo de concentração de Theresienstadt.

A inauguração oficial do Porto/Post/Doc dar-se-á no dia 1 de Dezembro com The Wolfpack, onde a documentarista americana Crystal Moselle acompanha a descoberta do mundo pelos sete irmãos Angulo, criados isolados do mundo num apartamento de Manhattan. The Wolfpack ilustra igualmente uma das “direcções temáticas” do festival, sob o genérico Teenage, dedicada às identidades e influências da adolescência; esta secção mostrará igualmente o documentário construído sobre gravações da voz de Marlon Brando, Listen to Me, Marlon. O festival encerra uma semana depois com a exibição do último trabalho do mestre Frederick Wiseman, In Jackson Heights.

A pecha do cinema

O programa do segundo Porto/Post/Doc foi apresentado esta quarta-feira no Teatro Rivoli, onde Rui Moreira esteve não apenas como presidente da câmara, mas também, e pela primeira vez, enquanto responsável pelo pelouro da Cultura, que assumiu após a inesperada morte do vereador Paulo Cunha e Silva. O autarca, que ao longo destes dias, e nos locais adequados, tinha já prestado a Cunha e Silva as devidas homenagens, foi ao Rivoli falar de cinema, que considerou “talvez a pecha mais significativa” na vida cultural da cidade. “Havia muito pouca coisa, e estamos a tentar preencher essa lacuna”, disse Rui Moreira, cumprimentando o director do Porto/Post/Doc, Dario Oliveira, pelo “arrojo” de ter avançado com este festival.

Numa breve intervenção, o autarca confessou a sua admiração pela recém-falecida Chantal Akerman, a quem o festival dedica uma breve retrospectiva encimada pelo seu último filme, No Home Movie: “Gosto muito dos seus filmes e recomendo a todos que os vejam: são filmes que nos comovem e emocionam”. O festival vai ainda apresentar retrospectivas de dois cineastas norte-americanos de diferentes gerações: Lionel Rugosin, um veterano muito apreciado por realizadores como Scorsese ou Tarantino, comentou Dario Oliveira, e Thom Andersen, um documentarista de Los Angeles a quem se deve um filme sobre a arquitectura de Eduardo Souto de Moura.

Rui Moreira acabaria por referir Paulo Cunha e Silva, que estava decerto na cabeça de todos os presentes, e fê-lo de forma inteiramente natural, ao congratular-se pela presença na programação de Cercados, sobre o bairro do Cerco. Sublinhando que o filme nascera do projecto Oupa!, que integra o programa Cultura em Expansão, lembrou: “Quando o Paulo Cunha e Silva e eu pensámos na programação cultural da cidade, tínhamos outro nome para o Cultura em Expansão, chamávamos-lhe Cultura Fora do Sítio, mas era, e continua a ser, uma das nossas grandes apostas”.

Quem evocou mais detidamente Cunha e Silva, uma vez que ainda não tivera oportunidade de o fazer publicamente enquanto director do Porto/Post/Doc, foi Dario Oliveira, que para lá dos agradecimentos que lhe deve o festival observou que o malogrado vereador “elevou o patamar do que é um programador cultural" e "conseguiu fazer no curto espaço de tempo em que esteve à frente do pelouro da Cultura uma imensidão de coisas que mudaram para sempre o panorama cultural da cidade”. E concluiu fazendo votos de que o nível a que Paulo Cunha e Silva conseguiu levar a vida cultural do Porto “nunca mais venha a ser reduzido”.

Com Luís Miguel Queirós