Eanes defende concertação entre Rússia, EUA, China e Europa para responder a guerra na Síria e Iraque
Antigo Presidente da República defende que resposta às várias guerras do Médio Oriente tem de ser militar e política para que o problema seja resolvido. Maria de Belém diz que Portugal deve contribuir para a "firme condenação do terrorismo".
O antigo Presidente da República, Ramalho Eanes, defende a concertação entre Rússia, Estados Unidos, China e Europa para resolução da guerra na Síria e Iraque, considerando que a resposta bélica imediata francesa "por si não vai resolver nada".
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O antigo Presidente da República, Ramalho Eanes, defende a concertação entre Rússia, Estados Unidos, China e Europa para resolução da guerra na Síria e Iraque, considerando que a resposta bélica imediata francesa "por si não vai resolver nada".
À chegada para a conferência "Portugal e a Defesa Nacional", que decorre no Museu do Oriente, em Lisboa, Ramalho Eanes - que alertou desde logo que não iria fazer comentários à situação política nacional - foi questionado sobre as consequências dos atentados de sexta-feira em Paris, começando por afirmar que na zona da Síria e do Iraque "não há uma guerra, há várias guerras", o que faz com que "seja muito difícil responder ao Estado Islâmico, que acaba por ser de alguma maneira um instrumento nas mãos de todos estes grandes poderes".
"Pessoalmente, entendo que não há possibilidade de responder àquela situação, àquela guerra e acabar com ela, sem que haja uma concertação entre a Rússia, os Estados Unidos, a China e a Europa, embora a Europa não conte porque não tem meios, não tem política externa - infelizmente não há nada", defendeu.
Na opinião do antigo chefe de Estado, "uma concertação dessas poderia permitir, primeiro, que acabassem os financiamentos feitos por debaixo da mesa ao dito Estado Islâmico e, em segundo lugar, poderia levar a uma concertação de utilização de forças militares que poderiam resolver o problema". E continuou: "A resposta bélica imediata da França é evidente que a compreendo, agora o que eu penso é que ela por si não vai resolver nada porque quando há um grande problema, este só se resolve atacando-o na sua configuração e não atacando nas consequências", alertou.
Ramalho Eanes considera "perfeitamente natural e correcto que a França peça apoio aos aliados", mas mostrou-se apreensivo já que esta União [Europeia] é tão pouco união que não vai concertar esforços na resposta. E a resposta tem que ser não apenas militar mas militar e política para que o problema seja resolvido."
"O problema iraquiano, que é um problema gravíssimo e que de alguma maneira gerou tudo isto, só se resolve com um programa político. Na Síria, o problema só se resolve desde que as potências entendam que é necessário um programa político", evidenciou o antigo Presidente da República.
Homenagens na embaixada de França em Lisboa
Sobre a participação de Portugal no combate aos actos de terrorismo, a candidata presidencial Maria de Belém Roseira, que foi recebida pelo embaixador francês esta terça-feira de manhã, lembrou que Portugal "tem estado enquadrado na definição que decorre da sua presença em organizações internacionais" e "estão ainda a ser definidas posições".
"Caberá a Portugal, no quadro dessas organizações, e perante as decisões que forem tomadas, contribuir para elas dentro deste registo de firme condenação do terrorismo", vincou Maria de Belém. E acrescentou: "Esta é a fase, nos próximos dias, para se definir qual pode ser o concerto entre as nações e nessa altura Portugal ficará enquadrado dentro das suas obrigações".
A candidata presidencial manifestou a Jean-François Blarel o seu "profundo pesar" pelos ataques de sexta-feira em Paris. "Vim manifestar também a minha firme condenação por este tipo de atentados terroristas que pretendem pôr em causa os valores da convivência pacífica, das liberdades, da democracia", vincou Maria de Belém em declarações aos jornalistas no final do encontro com o embaixador.
Ferro Rodrigues deseja “a mesma liberdade” de sempre em segurança
O presidente da Assembleia da República assinou esta terça-feira o livro de condolências pelas vítimas dos ataques terroristas de Paris, na Embaixada de França, em Lisboa, desejando "a mesma liberdade" de sempre em ambos os países.
"É preciso que não nos deixemos intimidar e que a vida continue, evidentemente com segurança, mas respirando sempre a mesma liberdade, em França e em Portugal", afirmou Ferro Rodrigues, junto do embaixador gaulês, Jean-François Blarel, no Palácio de Santos, após terminar a sua mensagem com 'vivas' a Paris e à França.
Os atentados múltiplos com explosivos e armas semiautomáticas, reivindicados pelo extremista e autoproclamado Estado Islâmico, provocaram 129 mortos e 352 feridos na sexta-feira, em diversos locais de diversão de Paris.
A segunda figura de Estado lembrou os seus laços pessoais com a França, pois estudou entre os quatro e os 16 anos no Liceu Francês Charles Lepierre e foi embaixador luso na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), precisamente na capital gaulesa, durante quase seis anos. "Quero manifestar mais uma vez o horror, a tristeza, indignação e solidariedade dos deputados e deputadas portuguesas para com Paris e a França e todas as vítimas daquele massacre horrível que houve na sexta-feira", afirmara Ferro Rodrigues, no antigo mosteiro da Ordem de Santiago de Espada e morada dos aristocráticos Lancastre antes de ser embaixada de França em Lisboa.
O representante do Estado francês salientou a importância do acto e recordou que Ferro Rodrigues já tinha tido o cuidado de colocar a bandeira tricolor na varanda principal do Palácio de São Bento durante o fim-de-semana. "É muito importante ter o apoio de amigos, particularmente amigos portugueses, nestes dias de luto", disse Jean-François Blarel, salientando tratar-se do "mais alto representante parlamentar" e de um "testemunho da amizade e profundo afecto dos portugueses pelo povo francês".