Nova caça ao homem. Polícia procura segundo atacante de Paris em fuga

Não há ainda identidade para o novo fugitivo. França e Bélgica perguntam como foi possível que as suas agências de informação não impedissem um ataque orquestrado por pelo menos cinco jihadistas retornados da Síria.

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A polícia francesa procura por um segundo homem que se acredita ter participado nos atentados de Paris, para além do francês Salah Abdeslam, ainda a monte. O gatilho para que se iniciasse uma nova caça ao homem surgiu na manhã desta terça-feira, na forma de um carro de matrícula belga que a polícia encontrou estacionado no 18.º bairro de Paris. O facto de a viatura ter sido alugada por Salah e ser encontrada neste local foi o suficiente para que a polícia abrisse uma nova porta na investigação.

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A polícia francesa procura por um segundo homem que se acredita ter participado nos atentados de Paris, para além do francês Salah Abdeslam, ainda a monte. O gatilho para que se iniciasse uma nova caça ao homem surgiu na manhã desta terça-feira, na forma de um carro de matrícula belga que a polícia encontrou estacionado no 18.º bairro de Paris. O facto de a viatura ter sido alugada por Salah e ser encontrada neste local foi o suficiente para que a polícia abrisse uma nova porta na investigação.

Este é o bairro a que o grupo Estado Islâmico se refere como o quarto alvo dos atentados. Fá-lo explicitamente num dos comunicados em que reivindica a autoria das operações, para além da sala de espectáculos Bataclan, Estádio de França e 10.º e 11.º bairros, onde dezenas de pessoas morreram em ataques a bares e restaurantes.  

Nestes últimos alvos há uma outra pista que aponta para um novo atacante desparecido. Muitos dos que sobreviveram aos disparos disseram à polícia que viram três homens armados de kalashnikov - coincidentemente, o número de espingardas automáticas encontradas num dos carros abandonados pelos terroristas. As autoridades contavam até agora apenas o fugitivo Salah e o seu irmão mais velho, Ibrahim, que se fez explodir no restaurante Comptoir Voltaire.

A decisão de procurar por um segundo atacante em fuga foi finalmente tomada pela tarde, depois de a polícia francesa ter conseguido um vídeo que mostra três pessoas no mesmo carro usado por Salah e Ibrahim para atacar quatro bares e restaurantes em Paris. A sua identidade é ainda desconhecida.

Salah continua fugido e, possivelmente, na Bélgica, de acordo com as declarações de um alto-responsável da polícia à edição europeia da revista Politico. Na imprensa belga e francesa, adiantaram-se detalhes da sua fuga de Paris. Ao que indicam duas pessoas detidas em Bruxelas e entretanto acusadas de actividades terroristas, a saída de Salah de França foi improvisada.  

De acordo com os dois suspeitos, o francês ligou durante a noite e propôs-se pagar-lhes as portagens e gasolina caso o fossem buscar à capital francesa. Foi o que fizeram. Pelo caminho, a polícia parou-os não uma, mas três vezes. Sem informação de que Salah era um dos suspeitos nos atentados, e estando os documentos em ordem, foram mandados seguir. Uma entre as muitas manchas da resposta das agências de informação aos ataques de sexta-feira.

Falhas europeias
Os serviços de informação europeus foram incapazes de relacionar ou de se aperceberem da chegada de pelo menos cinco jihadistas europeus vindos de lutar pelo Estado Islâmico na Síria e evitar que, juntos, cometessem o pior atentado terrorista em território francês desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Entre os cinco extremistas de Paris já identificados não há um que não fosse já conhecido, de uma forma ou de outra, pelas agências de segurança francesas e belgas. E todos conseguiram iludir as autoridades europeias para irem treinar e lutar com os jihadistas na Síria.

O caso do francês Sami Amimour é talvez o que mais deixa a nu a inoperância europeia. Foi detido em França no ano de 2012 por associação terrorista e “inserido em controlo judicial”, segundo se lê no seu ficheiro, agora nas mãos da investigação e citado pelo Le Figaro. Amimour queria então viajar para a jihad no Iémen, mas seria para a Síria que acabaria por ir, em 2013, apesar da suposta interdição. O seu pai tentou ainda retirá-lo das fileiras do Estado Islâmico, mas não conseguiu. Amimour regressou à Europa e, depois, à França, onde na sexta-feira atacou a sala de espectáculos Bataclan com outros dois extremistas. Mataram 89 pessoas.

Não foi só Amimour que a polícia europeia foi incapaz de travar, ou Salah nas três vezes que foi parado. O suposto cérebro dos atentados de Paris fugiu mais do que uma vez à rede antiterrorista na Europa antes de se instalar definitivamente na Síria. E Omar Ismaïl Mostefaï, segundo atacante identificado no Bataclan, sobre quem a Turquia alertou duas vezes os serviços de França, pertencia ao quase redundante sistema que identifica presumíveis radicais. Estava marcado com uma “lista S”, de “Segurança de Estado”. Ele e mais perto de 10 mil pessoas, segundo Manuel Valls, primeiro-ministro francês.

“O que sabemos é que a maior parte destas pessoas voltaram da Síria e ninguém as travou”, disse esta semana a senadora francesa Natalie Goulet. A sua queixa ecoou no país vizinho, na deputada belga Stefaan Van Hecke: “Parece que os terroristas conseguiram escapar ao radar das agências de informação e polícia.” De um lado, o país que mais violentamente tem sofrido com a ameaça do terrorismo. Do outro, a plataforma giratória do extremismo islâmico na Europa e o local onde foram organizados os ataques de Paris.

Resposta securitária
As autoridades na Europa podem não ter agido devidamente por falta de informação. Alguns dos terroristas de Paris estavam no registo francês. Outros, no belga. A Europa já reconhecera a urgência de reformas no funcionamento dos seus serviços de informação no passado. Fê-lo em Janeiro, quando foi confrontada com os ataques à redacção do Charlie Hebdo e ao supermercado judaico, também em Paris. Mas as promessas, por exemplo, de um sistema comum de registo de passageiros na Europa – fundamental para se controlar a chegada de combatentes da Síria e Iraque – não se concretizaram ainda.

Isso não impediu que nesta semana se prometessem as mesmas reformas estagnadas, como o faz notar o Le Monde. “Depois de 2001, cada ataque terrorista suscita os mesmos comentários. E as coisas progridem ao ritmo tradicional da tomada de decisões ao nível europeu – que é dizer lentamente, e, sobretudo, em função de um grande constrangimento: a segurança residente amplamente nas competências do Estado”.

Na ausência de reformas europeia, há uma reposta securitária. “A França está em guerra”, como vai repetindo o Presidente francês, François Hollande, que pede agora milhares de novos polícias, agentes de alfândega, funcionários de penitenciárias e serviços jurídicos. Enquanto isso não acontece, a polícia dá-se a grandes operações no terreno. Fizeram-se mais de 200 rusgas em França só nesta terça-feira: 128 durante a noite e outras 104 ao longo do dia. Dezasseis pessoas foram detidas pela polícia, que age ainda ao abrigo do estado de emergência decretado na noite dos ataques de Paris e que permite buscas domiciliárias sem um mandado judicial. Já se fizeram quase 400 operações desta natureza desde o início da semana.