Hospitais com melhor uso de antibióticos vão ter compensação financeira

Director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência aos Antimicrobianos preocupado com surtos como o do Hospital de Gaia.

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A venda de antibióticos nas farmácias está em queda, mas ainda acima do recomendado Nuno Ferreira Santos

Os hospitais e restantes unidades de saúde que contribuam para um uso mais racional de antibióticos ou que tenham menos infecções associadas à resistência a estes medicamentos devem passar a receber compensações financeiras no futuro. A ideia foi apresentada nesta segunda-feira pelo director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde (DGS), José Artur Paiva, no arranque de umas jornadas dedicadas a este problema de saúde pública.

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Os hospitais e restantes unidades de saúde que contribuam para um uso mais racional de antibióticos ou que tenham menos infecções associadas à resistência a estes medicamentos devem passar a receber compensações financeiras no futuro. A ideia foi apresentada nesta segunda-feira pelo director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde (DGS), José Artur Paiva, no arranque de umas jornadas dedicadas a este problema de saúde pública.

“Cada vez mais queremos entrar na área da auditoria e do financiamento, de forma a termos uma capacidade de percebermos o que está implementado, o que existe, e termos mecanismos de motivação não só psicológica, mas também financeira a hospitais, ACES [agrupamentos de centros de saúde] e cuidados continuados que tenham melhores resultados”, explicou José Artur Paiva, nas Primeiras Jornadas do Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e de Resistência aos Antimicrobianos. A ideia de pagar em função dos melhores resultados já tinha sido defendida pelo anterior ministro da Saúde, Paulo Macedo, no final da última legislatura.

Na sessão, o especialista fez um balanço de 33 meses de trabalho no programa da DGS e traçou planos para os próximos 15 meses. Segundo o coordenador, Portugal tem conseguido melhorar os resultados relacionados com as infecções hospitalares e a resistência a antibióticos em vários indicadores. Há, por exemplo, menos pneumonias nos internamentos de adultos em unidades de cuidados intensivos e menos infecções associadas a locais cirúrgicos – como é o caso da prótese da anca ou da prótese do joelho.

“Tanto em ambulatório como em hospital verificamos uma redução do consumo de antibióticos em Portugal”, afirmou, dando como exemplo a queda num tipo de antibióticos conhecidos como quinolonas, muito potentes, e que eram usados em muitos doentes sem necessidade. “Verifica-se uma melhoria muito boa na prescrição de quinolonas, com uma queda de 27% entre 2011 e 2014”, acrescentou. Segundo os dados da consultora IMS Health, citados pela Lusa, o consumo dos antibióticos em geral está em queda desde 2010, mas ainda assim foram vendidos mais de sete milhões de embalagens nos primeiros dez meses deste ano.

José Artur Paiva mostrou-se, no entanto, preocupado com uma bactéria recentemente mais mediatizada com os casos no Hospital de Gaia: a Klebsiella pneumoniae. O surto desta bactéria no Hospital de Gaia, resistente aos antibióticos de largo espectro conhecidos como carbapnemos, já fez três vítimas mortais. Desde Agosto já foram rastreadas mais de 340 pessoas e a bactéria foi detectada em mais de 100, ainda que só quatro pessoas estejam mesmo infectadas.

José Artur Paiva adiantou que em 2015, pela primeira vez, o consumo de carbapnemos caiu 5%, mas alertou que “o consumo em Portugal ainda é 2,3 vezes superior à média da União Europeia”. O especialista admitiu que há um risco cada vez maior de assistirmos a repetições de surtos por Klebsiella pneumoniae: “Portugal tem uma tendência baixa mas crescente, que é preocupante”. Como exemplo de mau uso de antibióticos, o médico lembrou que 36% dos doentes sem sinal de infecção ainda fazem mais de 24 horas de antibióticos antes de serem submetidos a uma intervenção cirúrgica.

Presente na mesma sessão, o ministro da Saúde também reconheceu que este tipo de surtos, como o de Gaia, merecem preocupação e uma maior atenção das autoridades de saúde, frisando que “as responsabilidades individuais têm consequências colectivas muito graves”. Para Fernando Leal da Costa, é preciso “mudar mentalidades” e conseguir processos “eminentemente inclusivos” de todos os profissionais e doentes. O governante deu como exemplo as campanhas da DGS que alertam que um antibiótico é tão eficaz numa gripe como um protector solar, ou seja, não deve ser usado.