Julgamento de activistas angolanos: penas de prisão podem chegar aos três anos
Acusação de “actos preparatórios” de rebelião para derrubar José Eduardo dos Santos.
Domingos, Manuel, Nuno, Afonso, José, Sedrick, Fernando, Benedito, Arante, Albano, Osvaldo, Inocêncio, Hitler, Nelson, Henrique – que estão detidos desde Junho – e também Rosa e Laurinda – em liberdade – devem começar a responder, esta segunda-feira, em Luanda, pela acusação de “actos preparatórios” de rebelião e atentado contra o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
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Domingos, Manuel, Nuno, Afonso, José, Sedrick, Fernando, Benedito, Arante, Albano, Osvaldo, Inocêncio, Hitler, Nelson, Henrique – que estão detidos desde Junho – e também Rosa e Laurinda – em liberdade – devem começar a responder, esta segunda-feira, em Luanda, pela acusação de “actos preparatórios” de rebelião e atentado contra o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
A mudança da secção do Tribunal Provincial de Luanda onde corre o processo, do município do Cacuaco para a zona de Benfica, no município de Belas, na semana passada, chegou a motivar rumores de que o início do julgamento dos 17 pudesse ser adiado. Para além dos 15 detidos, as duas acusadas estão em liberdade. Mas a data manteve-se. Henrique Luaty Beirão, que se tornou conhecido internacionalmente por uma greve de fome de 36 dias que desencadeou uma onda de solidariedade, e os seus companheiros devem ser julgados ao longo dos próximos cinco dias.
A acusação de “actos preparatórios” faz com que incorram numa pena de até três anos de prisão ou multa durante 360 dias, explicou ao PÚBLICO o advogado Luís Nascimento. Se a acusação fosse não de actos preparatórios mas de tentativa concreta de rebelião e atentado, a pena poderia ir até 12 anos de cadeia.
O advogado não vê sequer razão para acusação por “actos preparatórios”, mas não afasta cenários de condenação pesada. O caso de José Marcos Mavungo, condenado em Setembro em Cabinda a seis anos de prisão, por incitamento à rebelião, “apesar de não ter sido apresentado um único facto que o justificasse”, justifica a incerteza.
Quando, na tarde de sábado, 20 de Junho, foram detidos por agentes do Serviço de Investigação Criminal do Ministério do Interior de Angola, a maioria dos activistas estavam na Livraria Kiazele, no bairro Vila Alice, em Luanda. Algemados, foram conduzidos às suas casas, onde lhes foi apreendido material profissional, e levados depois para a cadeia, segundo a informação então divulgada pelo Grupo de Apoio aos Presos Políticos.
As autoridades informaram que tinham sido detidos “em flagrante delito”, quando “se preparavam para realizar actos tendentes a alterar a ordem e segurança pública do país”.
O Ministério Público afirmou depois que nas reuniões em que discutiram, em Maio e Junho, o livro Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura – Filosofia Política da Libertação para Angola, tomaram a decisão de “destituir e substituir” José Eduardo dos Santos e os outros “titulares dos órgãos de soberania”.
É-lhes atribuída a intenção de tencionarem desenvolver acções de “consciencialização e mobilização da população, extensiva a mulheres, crianças, estudantes universitários, moto-taxistas, estivadores, zungueiros, entre outros”.
O objectivo final da sua acção seria promover “arruaças”, com “queima de pneus nas distintas ruas das cidades angolanas, extensivos aos domicílios dos órgãos de soberania, incluindo o palácio presidencial. E também “greves injustificadas”, actos de “desobediência civil” e “desacatos e afronta aos órgãos de defesa e segurança do país, com excepção das F.A.A. [Forças Armadas].
O despacho de pronúncia diz ainda que o grupo tencionaria usar a população mobilizada para entrar no palácio presidencial “para despejar o Presidente da República se resistisse à pressão dos manifestantes”.
São essas as intenções que a procuradoria entende que tinham quando estavam a ler e a discutir as Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura – uma assumida adaptação “à realidade angolana” da obra Da ditadura à democracia, do norte-americano Gene Sharp, feita por um dos detidos, Domingos da Cruz, que inclui citações, entre outros, de Mahatma Ghandi e Martin Luther King Jr.