Desemprego reduz atracção do ensino superior em Portugal
Comissão Europeia quer que as instituições do superior olhem mais para o mercado de trabalho. No geral considera que a qualidade dos professores é indispensável para garantir uma melhor educação.
A taxa de desemprego entre os licenciados está a contribuir para que o ensino superior seja menos atractivo para os jovens em Portugal do que noutros países da Europa, alerta a Comissão Europeia (CE) no seu último relatório sobre educação divulgado nesta sexta-feira.
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A taxa de desemprego entre os licenciados está a contribuir para que o ensino superior seja menos atractivo para os jovens em Portugal do que noutros países da Europa, alerta a Comissão Europeia (CE) no seu último relatório sobre educação divulgado nesta sexta-feira.
No estudo Education and Training Monitor 2015, a Comissão Europeia lembra que a percentagem de emprego em 2014 de jovens licenciados, entre os 20 e os 34 anos, estava em Portugal nos 73,6% quando a média europeia era então de 80,5%. Segundo o relatório, esta poderá ser uma das razões para que o país não só continue longe da meta estabelecida pela UE para 2020 (40% da população entre os 30 e os 34 anos com o ensino superior), como para o facto de a percentagem de conclusão deste nível de ensino ter sofrido uma queda acentuada.
“A percentagem da população entre os 30 e os 34 anos com ensino superior aumentou muito nos últimos 10 anos, mas, com 31,3% em 2014, continua significativamente abaixo da média europeia (37,9%), e da meta de 40% estabelecida para 2020”, frisa-se no relatório da CE. Em 2005, neste grupo etário a percentagem dos que completaram o ensino superior era inferior a 20%.
Em contraponto a este aumento, Portugal foi contudo o país europeu onde se registou uma maior quebra na taxa de conclusão do ensino superior, frisa-se no relatório da CE, que remete a propósito para um estudo recente sobre a implementação do processo de Bolonha, onde se dá conta que esta diminuição foi de 19 pontos percentuais entre 2008 (86%) e 2011 (67%). Por outro lado, constata a CE, as entradas no ensino superior “têm registado flutuações nos últimos três anos, apesar do aumento do número de estudantes que completam o ensino secundário”. É mais um dos exemplos apontados para sustentar a relação entre desemprego e a redução do poder de atracção do ensino superior em Portugal. O número de candidatos ao ensino superior esteve em queda desde 2010, uma tendência que se interrompeu este ano, com a entrada de mais de 50 mil estudantes no superior.
No geral, a taxa de emprego entre os licenciados na Europa (80,5%) continuava em 2014 a ser superior aos que tinham completado cursos profissionais de nível secundário (70,8%). Mas esta, segundo a CE, é apenas uma parte da questão. A outra tem a ver com esta realidade: as oportunidades de emprego "têm vindo a crescer lentamente para os jovens com o secundário completo, enquanto se regista uma estagnação no que respeita aos que concluíram o ensino superior". Por outro lado, acrescenta-se no relatório, na Europa cerca de 25% de jovens licenciados têm empregos que requerem qualificações inferiores.
Por estas razões, a CE considera que o desafio actual para os Estados-membros é o de “convencer as instituições do ensino superior a estar atentas às necessidades do mercado de trabalho”. E “porque as qualificações e competências adquiridas não são relevantes para sempre”, sobretudo num mundo em acelerada mudança, a CE considera também que os Estados-membros têm de “repensar” as estratégias com vista a garantir a participação da população adulta em acções de formação ao longo da sua vida activa. Actualmente, apenas 10,7% dos europeus entre os 25 e os 64 anos participam nestas, uma percentagem que desce para 4,4% entre os que têm níveis de escolaridades mais baixos.
Na estratégia para 2020, a UE acordou em que esta percentagem deveria situar-se no mínimo nos 15%. Em Portugal, a participação dos adultos em acções de formação desceu de 11,5% em 2011 para 9,6% em 2014.
Qualidade dos professores
No geral, este último relatório da UE confirma que Portugal reduziu significativamente a percentagem dos que abandonam precocemente o sistema de ensino, que passou de 23% em 2011 para 17,4% em 2014. Apesar deste feito, o país continua longe da meta estabelecida para 2020 (10%), frisa-se. Por outro lado, os resultados dos testes PISA de 2012 mostram que ”há um abrandamento dos progressos registados entre 2000 e 2009”, alerta a CE.
Estes testes, promovidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), destinam-se a avaliar as competências dos jovens de 15 anos em Leitura, Matemática e Ciências. A CE lembra que, em Portugal, “a proporção dos estudantes com desempenhos fracos a Matemática manteve-se nos 24,9%, acima da média europeia (22,1%), enquanto os resultados em Leitura e Ciências mostram uma pequena deterioração entre 2009 e 2012”. Em leitura, os alunos que mostraram não ter as competências básicas passou de 17,6% para 18,8% e em Ciências de 16,5% para 19%.
Entre os problemas que se mantêm em Portugal a CE aponta para o elevado número de alunos que chumbam, uma situação já identificada pelo Conselho Nacional de Educação como a mais grave do sistema educativo português. E também para o peso que a origem socioeconómica continua a ter nos resultados alcançados pelos alunos portugueses.
Para a CE, um dos desafios actuais para promover uma efectiva educação inclusiva passa por garantir a qualidade das ofertas educativas. A qualidade da educação deve começar a ser assegurada logo a partir da pré-escolar, passar pelo reforço do ensino de línguas estrangeiras e sobretudo pela qualificação dos professores. “Todos os esforços para elevar a qualidade dos sistemas educativos na Europa depende em grande medida das competências dos professores e no estabelecimento de elevados padrões de exigência na sua formação inicial”, defende a CE.