Depoimento: “Só no segundo tempo [do jogo] é que soube o que estava a acontecer”
O testemunho de um espectador do jogo de futebol França-Alemanha no Stade de France, onde três bombas explodiram no seu exterior.
Carlos Parada estava na última fila das bancadas do Estádio de França, com o filho mais novo, de dez anos. “Já estávamos a assistir o jogo quando se ouviu a primeira explosão”, conta. Eram 9h17 e poucos reagiram ao estrondo, que vinha do lado de fora do recinto. Uma rapariga à sua frente começou a chorar e disse que queria ir embora. Mas quase ninguém deixou o estádio e poucos terão notado que François Hollande, que acompanhava o jogo, abandonou o recinto às 9h35, quando já se sabia dos outros ataques em Paris.
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Carlos Parada estava na última fila das bancadas do Estádio de França, com o filho mais novo, de dez anos. “Já estávamos a assistir o jogo quando se ouviu a primeira explosão”, conta. Eram 9h17 e poucos reagiram ao estrondo, que vinha do lado de fora do recinto. Uma rapariga à sua frente começou a chorar e disse que queria ir embora. Mas quase ninguém deixou o estádio e poucos terão notado que François Hollande, que acompanhava o jogo, abandonou o recinto às 9h35, quando já se sabia dos outros ataques em Paris.
“Só no segundo tempo é que soube mesmo o que estava a acontecer”, diz Parada, um psiquiatra brasileiro que vive há quase 30 anos em Paris. Não houve alertas através dos altifalantes. Mas os espectadores foram sabendo aos poucos do que se estava a passar e a meio do segundo tempo muitos começaram a sair. “Eu preferi ficar porque estava na última fila, num lugar preservado. Eu podia olhar para fora, vi que estava cheio de polícias. Pensei: ‘Estou no lugar mais seguro que posso estar agora’”, afirma Carlos Parada.
A situação mais complicada ocorreu depois do fim do jogo. Houve dois episódios de correria desenfreada, em pânico. Foi então que os espectadores foram para o relvado. Muitos já estavam fora do estádio e voltaram. “É um reflexo esquisito. O relvado era o lugar mais exposto e mais iluminado para se levar um tiro”, avalia Carlos Parada. “Fiquei num recanto da arquibancada e esperei tudo acabar”.
“Disseram-nos depois, nos altifalantes, que podíamos ir embora, que era seguro. Mas não quis apanhar o metro, porque me pareceu mais perigoso, poderia haver uma nova bomba ou outro movimento de massa”, relata o psiquiatra.
Carlos Parada e o filho andaram três quilómetros a pé, até chegar ao limite Norte de Paris. Dali telefonou à mulher que os veio buscar.
Hoje, diz o psiquiatra, a cidade está praticamente deserta. “Ninguém sai nem para ir ao barbeiro”.