Sobe para 125 mil o número de carros da Volkswagen afectados em Portugal
Cerca de 17.500 automóveis estão abrangidos pela garantia de dois anos.
Há mais oito mil carros do Grupo Volkswagen vendidos em Portugal com o sistema que engana os testes antipoluição. São ao todo 125.491 veículos, de acordo com os números divulgados pelo grupo de trabalho formado há um mês e meio pelo Governo para analisar o caso e que admite ainda não ter os dados necessários para perceber os impactos fiscais e ambientais da fraude do fabricante alemão.
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Há mais oito mil carros do Grupo Volkswagen vendidos em Portugal com o sistema que engana os testes antipoluição. São ao todo 125.491 veículos, de acordo com os números divulgados pelo grupo de trabalho formado há um mês e meio pelo Governo para analisar o caso e que admite ainda não ter os dados necessários para perceber os impactos fiscais e ambientais da fraude do fabricante alemão.
O grupo, que integra várias secretarias de Estado e outros organismos, apresentou nesta sexta-feira, em conferência de imprensa, um relatório preliminar, depois de ter decidido adiar por tempo indeterminado as conclusões dos trabalhos, numa medida justificada com o facto de a situação ainda estar em desenvolvimento e de a própria Volkswagen ter entretanto detectado mais problemas.
Os números anteriores indicavam um total em torno dos 117 mil automóveis. O aumento deve-se a uma revisão dos números da Siva, que representa em Portugal as marcas Volkswagen, Audi e Skoda, e que indica terem sido matriculados 102.140 veículos a gasóleo com o sistema fraudulento. A Seat, que opera de forma independente das outras marcas, matriculou 23.351.
Estes números não incluem os carros abrangidos pelo novo problema de emissões detectado mais recentemente pelo Grupo Volkswagen. Para além do sistema que reduzia durante os testes as emissões de óxidos de azoto – tornado público em Setembro e que afecta 11 milhões de carros em todo o mundo –, a Volkswagen comunicou ter descoberto “irregularidades” nas emissões de dióxido de carbono em 800 mil automóveis, o que inclui carros a gasolina.
O nível de emissão de dióxido de carbono é usado no cálculo de dois impostos (o Imposto Único de Circulação e o Imposto Sobre Veículos) e a nova descoberta poderá significar que o Estado perdeu receita fiscal. No entanto, para calcular eventuais impostos devidos, é necessário saber quantos carros estão afectados em Portugal e qual o desvio nas emissões deste gás face aos valores que foram dados às autoridades – e estes dois elementos ainda são desconhecidos.
O relatório preliminar indica ainda que, dos 125 mil carros afectados, 17.524 estão abrangidos pela garantia de dois anos, o que significa que, eventualmente, os proprietários poderão pedir uma substituição. A secretária de Estado da Economia, Vera Rodrigues, fez, no entanto questão de ressalvar que as reparações aos motores feitas nas oficinas poderão ser suficientes.
O plano de recolha às oficinas está a ser trabalhado pela Volkswagen e pela autoridade alemã dos transportes motorizados. As regras comunitárias determinam que esse plano é válido em toda a União Europeia. Vera Rodrigues disse não saber “se a correcção vai ser uma correcção de cinco minutos em oficina” ou durar vários dias.
Já o secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos, notou que o peso no total da frota automóvel é reduzido. O relatório indica que os veículos afectados são 2,8% dos carros em Portugal.
Numa medida de transparência invulgar, o relatório contém correspondência trocada entre as autoridades portuguesas e a Volkswagen, a fábrica Autoeuropa e as autoridades europeias.
Numa das mensagens, com data de 16 de Outubro, Miguel Frasquilho, presidente da AICEP (a agência estatal para investimento estrangeiro), questiona o presidente executivo da Volkswagen sobre “o baixo nível de execução” do investimento contratualizado entre o Estado e a Autoeuropa. A resposta chegou quase um mês depois, assinada pelo director da fábrica portuguesa, António Melo Pires, e afirma que “o investimento está a decorrer dentro dos prazos e planos previstos”.