Realizadora portuguesa impedida de participar em festival em Angola
Inês Oliveira não obteve visto, apesar de ser convidada do Estado angolano. O motivo, acredita, foi o seu apoio público a Luaty Beirão e restantes presos políticos. O consulado alega que há apenas um atraso na atribuição do visto
O Serviço de Migração e Estrangeiros de Angola recusou à realizadora portuguesa Inês Oliveira visto para entrar no país. Convidada pelo próprio Estado angolano para participar no Festival Internacional de Cinema de Luanda (FIC), onde a exibição do seu mais recente filme, Bobô, estava agendada para este sábado, a realizadora diz estar segura de que a recusa se deveu ao seu apoio público à causa dos 15 jovens detidos em Junho, acusados de conspiração, e pelos quais se tem manifestado nas redes sociais e nas vigílias públicas em Lisboa.
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O Serviço de Migração e Estrangeiros de Angola recusou à realizadora portuguesa Inês Oliveira visto para entrar no país. Convidada pelo próprio Estado angolano para participar no Festival Internacional de Cinema de Luanda (FIC), onde a exibição do seu mais recente filme, Bobô, estava agendada para este sábado, a realizadora diz estar segura de que a recusa se deveu ao seu apoio público à causa dos 15 jovens detidos em Junho, acusados de conspiração, e pelos quais se tem manifestado nas redes sociais e nas vigílias públicas em Lisboa.
“A dada altura recebi uma mensagem privada de um amigo de Luanda a dizer-me que se queria ir ao festival não devia publicar as minhas opiniões sobre o caso do Luaty Beirão e os outros presos. A minha resposta foi a lamentar a falta de liberdade de expressão em Angola”, explicou a realizadora ao PÚBLICO. “Não vejo outro motivo para não ir ao festival, aceitando o convite que me foi dirigido, a não ser pelas minhas manifestações de repúdio.”
Já em 2014 a realizadora esteve convidada a participar no mesmo evento. Nesse ano, não teve problemas em conseguir visto. Tinha tudo pronto para partir quando o festival acabou por ser cancelado por problemas internos. Desta vez, tinha já o bilhete de avião comprado quando começou a notar que a organização do festival, promovido pelo Ministério da Cultura de Angola, estava a deixar de dar os passos necessários à viagem e exibição do filme.
“Os emails começaram a ser escassos”, explica. “O FIC, que até eu me começar a manifestar estava a tomar todas as diligências necessárias, deixou de agilizar o processo. A partir do momento em que manifestei o meu apoio [aos ‘15 de Luanda’ e ao movimento Liberdade Já] tudo se complicou.”
Em nome do consulado de Angola em Lisboa, Natália Jamba, vice-cônsul, disse ao PÚBLICO que o visto da realizadora “não foi negado, está à espera de resposta”. Segundo esta responsável, “é normal nesta altura haver atrasos” devido às celebrações dos 40 anos da independência de Angola, a 11 de Novembro. Inês Oliveira refuta estas afirmações. A realizadora explicou ao PÚBLICO que o seu passaporte já lhe foi devolvido – foi-lhe entregue pelo consultado na manhã desta sexta-feira.
Os “15 de Luanda”, que começam a ser julgados na segunda-feira, podendo incorrer numa pena de prisão de até três anos, são Henrique Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Afonso Matias “Mbanza Hamza”, José Gomes Hata, Hitler Jessia Chiconda “Samussuku”, Inocêncio Brito, Sedrick de Carvalho, Fernando Tomás Nicola, Nelson Dibango, Arante Kivuvu, Nuno Álvaro Dala, Benedito Jeremias, Osvaldo Caholo, Manuel Baptista Chivonde “Nito Alves” e Albano Evaristo Bingobingo. O mesmo processo abrange também Laurinda Gouveia e Rosa Conde, que aguardam julgamento em liberdade provisória, por não terem sido “apanhadas em flagrante delito” no momento em que os activistas estavam juntos a ler “Da Ditadura à Democracia”, o livro em que Gene Sharp, professor de Ciências Políticas da Universidade do Massachusetts, elenca 198 formas pacíficas de luta pela democracia.