Reabriu o Museu Rodin, recuperado sob o espírito do escultor

Instalado na mansão habitada por Auguste Rodin nos últimos anos de vida, o museu parisiense voltou a receber visitantes depois de três anos de obras de recuperação. 600 peças ocupam as várias galerias e os famosos jardins. Esperam-se 800 mil visitantes por ano.

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Foi mansão de nobres, foi embaixada russa, foi depois disso escola religiosa e, quando já ameaçava derrocada, casa de vultos da cultura como Jean Cocteau, Henry Matisse, Rainer Maria Rilke ou Isadora Duncan. O seu último hóspede, que rapidamente ocupou todo o vasto edifício e os seus jardins, foi um já sexagenário Auguste Rodin, que nele se instalou em 1908 e ali viveu e trabalhou até à sua morte, em 1917. Fechada para remodelações em Janeiro deste ano, a mansão parisiense que acolhe o museu do escultor reabriu a 12 de Novembro, dia em que se completam 175 sobre o seu nascimento. Está, dizem, como Rodin, no seu tempo, gostaria que estivesse.

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Foi mansão de nobres, foi embaixada russa, foi depois disso escola religiosa e, quando já ameaçava derrocada, casa de vultos da cultura como Jean Cocteau, Henry Matisse, Rainer Maria Rilke ou Isadora Duncan. O seu último hóspede, que rapidamente ocupou todo o vasto edifício e os seus jardins, foi um já sexagenário Auguste Rodin, que nele se instalou em 1908 e ali viveu e trabalhou até à sua morte, em 1917. Fechada para remodelações em Janeiro deste ano, a mansão parisiense que acolhe o museu do escultor reabriu a 12 de Novembro, dia em que se completam 175 sobre o seu nascimento. Está, dizem, como Rodin, no seu tempo, gostaria que estivesse.

Agora organizado de forma cronológica, contextualiza as esculturas em bronze, mármore e gesso de Rodin com a imensidão de estudos que, perfeccionista, elaborava previamente, e, novidade, com os quadros que criou em início de carreira, quando se mostrava ainda indeciso entre dedicar-se à pintura ou à escultura.

Integrando obras da sua colecção (fragmentos de esculturas gregas e romanas, obras de Van Gogh, o amigo Monet ou Renoir), o museu sofreu ao longo dos últimos três anos a maior remodelação desde que o estado francês, em 1919, lhe deu o estatuto de instituição nacional dedicada àquele que foi considerado o maior escultor desde Michelangelo.

A recuperação da mansão custou 16 milhões de euros, financiadas em partes praticamente iguais pelo Estado francês e pelo próprio museu, o único museu francês auto financiado – o que é conseguido, desde a sua abertura, através da venda de réplicas em bronze das obras mais emblemáticas do escultor, algo possibilitado pela cedência ao Estado francês, no final da vida do escultor, das suas obras e respectivos direitos autorais.

Nascido a 12 de Novembro de 1840, Auguste Rodin ultrapassou primeiro os preconceitos da academia (foi recusado três vezes pela Escola de Belas-Artes de Paris e a sua formação fez-se enquanto artesão) e, depois, do meio artístico, que recebeu inicialmente as suas obras como escandalosas. “Já não parecem controversas porque Rodin mudou a panorama artístico”, escreve Terry Cook na BBC Arts. “Como todos os grandes artistas, ele levou-nos até ao seu ponto de vista”. A directora do museu, Catherine Chevillot, classifica-o como “um elo entre o século XIX e o século XX”.

Localizado na Rua de Varenne, em Paris, o museu foi recuperado eliminando traços modernos (nem vestígios de aparelhos electrónicos, por exemplo). Mantêm-se o chão outrora danificado pelos 700 mil visitantes que recebia anualmente (espera-se que esse número aumente agora para 800 mil), as molduras de portas e janelas, substituídas por cópias dos originais, as paredes pintadas agora de um tom cinzento criado especificamente para o efeito (o Biron Gray, baptizado segundo a mansão erigida em 1730), e os famosos jardins onde várias das suas esculturas, como o famoso Monumento a Balzac, estão expostas. Fleur Pellerin, o ministro da cultura francês, afirmou, citado pelo Guardian, que a recuperação do museu “não era meramente uma necessidade técnica – era um dever moral”.

Ao longo das 18 galerias e no jardim dispõem-se 600 objectos (o dobro das exibidas antes da remodelação) de uma colecção que totaliza 30 mil obras. Entre elas, podemos encontrar a reconstituição do atelier de Rodin e, claro, obras-primas como O Pensador, O Beijo, Os Burgueses de Calais, ou As Portas do Inferno. Mas também, pela primeira vez e como já referimos, os seus quadros iniciais, bem como obras da sua aluna e amante, a escultora Camille Claudel.

“Rodin foi um homem muito do século XIX na sua forma de se inscrever no realismo e no naturalismo da época, mas a sua obra também inclui aspectos de uma modernidade impressionante na sua relação com o espaço e o movimento, que logo influenciou [Alberto] Giacometti e [Lucio] Fontana”, referiu Chevillot ao El País. Pelo estatuto e pela forma como as obras se impõem perante o nosso olhar, o museu não terá nas paredes os por vezes habituais longos textos explicativos – Chevillot considera que desviam a atenção da arte em exposição. No novo Museu Rodin, o escultor explica-se a si mesmo.