A indefinição do Presidente

Não se percebe o longo compasso de espera de Cavaco Silva.

O Presidente da República começa hoje a ouvir os parceiros sociais sobre o actual momento político, tendo em conta a indigitação do próximo primeiro-ministro e a formação do futuro Governo. Foi anunciada a sua intenção de ouvir várias personalidades, mas não se sabe exactamente quando nem quantas serão. Também se sabe que estará segunda e terça-feira na Madeira, embora ninguém perceba exactamente a importância do que lá vai fazer, sobretudo tendo em conta a importância do que está em jogo em Lisboa. Em suma, é impossível prever quando irá Cavaco Silva tomar uma decisão definitiva capaz de pôr termo à indefinição política que o país está a viver.

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O Presidente da República começa hoje a ouvir os parceiros sociais sobre o actual momento político, tendo em conta a indigitação do próximo primeiro-ministro e a formação do futuro Governo. Foi anunciada a sua intenção de ouvir várias personalidades, mas não se sabe exactamente quando nem quantas serão. Também se sabe que estará segunda e terça-feira na Madeira, embora ninguém perceba exactamente a importância do que lá vai fazer, sobretudo tendo em conta a importância do que está em jogo em Lisboa. Em suma, é impossível prever quando irá Cavaco Silva tomar uma decisão definitiva capaz de pôr termo à indefinição política que o país está a viver.

No mínimo, este protelamento contraria afirmações recentes do chefe de Estado. Numa delas, logo no início deste processo, garantiu estar preparado para tudo, visto ter estudado todos os cenários. Ora manifestamente não está… e talvez ninguém estivesse. Mas António Costa disse logo na noite eleitoral ao que vinha e Jerónimo de Sousa fez, dois dias depois, a declaração histórica sobre a abertura do PCP à viabilização de um Governo do PS. Como Catarina Martins fora suficientemente clara, num debate televisivo com Costa, sobre a disponibilidade do BE para entendimentos com os socialistas, é imperdoável que o Presidente não se tenha apercebido do novo quadro político e que (aparentemente?) não se tenha preparado para ele.

Outra afirmação que colide com indecisão do Presidente remete para o seu discurso de 22 de Outubro, quando indigitou Passos Coelho como primeiro-ministro. Nessa altura, entregou nas mãos dos deputados a decisão sobre o que estava em cima da mesa: apoiar ou rejeitar aquela solução de Governo. “A última palavra cabe à Assembleia da República ou, mais precisamente, aos deputados da Assembleia da República”, disse. A resposta foi dada terça-feira. Se o Presidente não a aceita, é bom que o diga de uma vez por todas, pois tanta indefinição só contribui para agravar, ainda mais, a situação do país.