Reinado do carvão começa a dar sinais de declínio
Queda do consumo na China e nos países ricos e políticas para energias limpas e menos poluentes prometem destronar o mais sujo dos combustíveis fósseis.
O reinado do carvão na arena energética mundial começa a dar sinais de declínio. O mais poluente dos combustíveis fósseis irá enfrentar “tempos turbulentos” nos próximos 25 anos, devido à menor procura na China e nos países industrializados, segundo um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgado esta terça-feira.
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O reinado do carvão na arena energética mundial começa a dar sinais de declínio. O mais poluente dos combustíveis fósseis irá enfrentar “tempos turbulentos” nos próximos 25 anos, devido à menor procura na China e nos países industrializados, segundo um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgado esta terça-feira.
Nos países da OCDE, o consumo de carvão deverá cair em 40% até 2040, nas perspectivas traçadas pelo World Energy Outlook 2015, da AIE. E a China, com as suas políticas para combater a poluição e controlar as emissões de gases que aquecem o planeta, deixará de ser o “porto seguro” do mercado do carvão.
A fatia do bolo energético mundial que cabe ao carvão subiu de 23% em 2000 para os actuais 29%. A China estava a ser locomotiva do grande aumento no consumo. Em 2014, porém, a procura no gigante asiático caiu pela primeira vez este século. E nos primeiros nove meses de 2015 voltou a descer, entre 3% e 5%, segundo uma análise da organização ambientalista Greenpeace.
“O momento por detrás da subida do carvão está a desaparecer, e a sorte deste combustível enfrenta uma reviravolta”, refere a AIE, no seu relatório.
A agência relembra que, na última década, o carvão supriu 45% do aumento do consumo energético mundial. Até 2040, porém, responderá por apenas 10% da subida prevista, à medida que mais países adoptam medidas para um uso mais eficiente e menos poluente da energia.
É na produção de electricidade que se verão as maiores mudanças. A parcela do carvão poderá cair de 41% para 30%, com a renováveis a tomar o seu lugar. Na Europa, as renováveis deverão responder por 50% da electricidade produzida, na China e na Japão, 30%, e nos Estados Unidos e Índia, 25%.
Hoje, segundo a AIE, um em cada seis habitantes do planeta (17%) ainda não tem acesso à electricidade. São 1,2 mil milhões de pessoas, um número que poderá cair para 800 milhões em 2030.
Já a proporção da população que usa na cozinha combustíveis primários e poluentes – como a lenha, resíduos vegetais ou dejectos de animais – deverá cair menos, de 2,7 mil milhões para 2,3 mil milhões.
O uso da energia no mundo continuará a subir até 2040 – em cerca de um terço em relação a hoje, no cenário central da AIE. E a Índia é quem está a tomar o lugar da China como líder neste processo. O país tem um sexto da população do mundo mas apenas 6% do consumo energético global. O país promete seguir os passos da China e alimentar o seu crescimento económico sobretudo com mais carvão – que em 2040 deverá representar metade do seu bolo energético.
Em um ano, desde o seu último relatório, a AIE diz que “os sinais de mudança na energia mundial multiplicaram-se”. A queda abrupta no preço do petróleo é um deles. O barril de Brent, que caiu de valores acima dos 100 dólares há dois anos para a faixa dos 50 dólares, poderá recuperar para 80 dólares até 2020, no cenário central da AIE.
O petróleo de xisto dos Estados Unidos, que revolucionou o mercado nos últimos anos, deverá atingir o seu pico em 2020 e cair gradualmente a seguir.
A possibilidade do Irão regressar ao mercado do petróleo, como um grande fornecedor, a explosão das renováveis e as promessas anunciadas para combater o aquecimento global, tudo se combina num cenário de mudança.
O relatório da AIE surge a menos de um mês de uma conferência decisiva das Nações Unidas, em Paris, onde deverá ser adoptado um novo tratado climático global, com forte impacto sobre as políticas energéticas. O objectivo é limitar o aquecimento global a 2oC até ao final do século.
Mas as intenções e medidas até agora apresentadas por uma centena e meia de países à ONU não são suficientes para cumprir essa meta. “É preciso mais para evitarmos os piores efeitos das alterações climáticas”, diz a AIE.