Chegou o museu pedagógico e interactivo da sexualidade — “porque merecemos ser felizes”
É o primeiro museu do mundo online a juntar pedagogia e interactividade à volta do tema da sexualidade. Projecto da sexóloga Marta Crawford deverá estar disponível em Março de 2016. Para já há uma campanha de "crowdfunding" para o apoiar
Marta Crawford anda há 20 anos a repetir a mensagem: uma pessoa realizada sexualmente é uma pessoa mais feliz. Esta convicção é possivelmente a melhor forma de explicar a motivação por detrás do novo projecto da sexóloga: um museu pedagógico e interactivo da sexualidade com “uma causa”: quebrar tabus e preconceitos e permitir que todos possam ser “sexualmente felizes”. Será o “primeiro museu do mundo com estas características” — e é para todo o mundo, já que estará exclusivamente online.
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Marta Crawford anda há 20 anos a repetir a mensagem: uma pessoa realizada sexualmente é uma pessoa mais feliz. Esta convicção é possivelmente a melhor forma de explicar a motivação por detrás do novo projecto da sexóloga: um museu pedagógico e interactivo da sexualidade com “uma causa”: quebrar tabus e preconceitos e permitir que todos possam ser “sexualmente felizes”. Será o “primeiro museu do mundo com estas características” — e é para todo o mundo, já que estará exclusivamente online.
A escolha do aeroporto de Lisboa como local de apresentação deste museu digital — e de lançamento da respectiva campanha de “crowdfunding” — não foi um acaso. A sexóloga quis precisamente frisar que este é um projecto “global”: e o facto de estar programado para ser bilingue (português e inglês) é um dos passos dados nesse sentido. Não foi sempre assim. Quando a ideia deste “Sex & - Pedagogical and Interactive Museum of Sexuality” surgiu, há já mais de quatro anos, Marta Crawford imaginava-o como um espaço físico, em Lisboa. Mas algumas barreiras depois, decidiu dar a volta ao projecto e transformá-lo numa plataforma online.
Esqueçam os “museus virtuais” já existentes e esqueçam também museus do sexo como o de Amesterdão, Nova Iorque ou Barcelona. O que este projecto — online em Março do próximo ano — pretende é algo completamente diferente. Palavra a Marta Crawford: “O objectivo é fugir de museus do sexo mais ‘kinky’ e fazer algo pedagógico e interactivo. As exposições, por exemplo, não serão só de contemplação. Serão mostras em que o utilizador da plataforma tem de dar um pouco de si.”
No museu online haverá espaço para essas exposições, mas também para conteúdos, uma loja (não a tradicional "sex shop" mas um local com “artigos para pensar e educar”), um espaço de aconselhamento — e outras surpresas que a equipa liderada pela sexóloga quer guardar mais para a frente. “É muito mais do que um museu. Além de ser um projecto de vida, a ideia é pôr a minha experiência e conhecimento ao serviço de toda a gente”, disse Marta Crawford ao P3, numa conversa telefónica feita horas antes da apresentação oficial esta segunda-feira.
O projecto é para todos. “Se fosse um museu físico teria três portas, para crianças, jovens e adultos”, explica. Os conteúdos estarão distribuídos também por faixas etárias, com alguns materiais mais típicos para crianças outros para jovens e outros para adultos.
“Achamos que a sexualidade e a promoção da saúde e do bem-estar psicológico devem ser consideradas pilares do FIB — a Felicidade Interna Bruta. Sermos mais felizes sexualmente significa que somos mais felizes em termos gerais e que, de alguma forma, estamos a contribuir para a paz. Este projecto existe por isso. Porque todos merecemos ser felizes.” E esta equação deve ser válida para todos, independentemente do género, orientação sexual e condição física ou mental. E sempre livre de preconceitos, doenças, culpa ou violência.
Agora como há 50 anos...
Com mais de duas décadas de experiência, inclusive como apresentadora de programas de televisão sobre sexualidade, Marta Crawford já lidou com todo o tipo de casos. E o que vê hoje não é substancialmente diferente do que viu no início da carreira: “Apesar de falarmos mais de sexo e de as pessoas estarem mais à vontade e informadas, o que vejo no dia-a-dia é que as pessoas, quando chegam ao consultório, são do tempo da minha avó.”
Exemplos? Continua a existir a “ideia bizarra” de que o orgasmo feminino tem de acontecer através da penetração, de que os homens têm de estar sempre disponíveis e têm de ter sempre desejo sexual ou ainda a “nova tendência” de casais que se sentem incompletos sem os brinquedos sexuais. Para Marta Crawford, a essência da sexualidade é a capacidade de as pessoas serem capazes de falar com os parceiros e dizerem claramente o que querem e o que não querem. “Continuo a ver casais infelizes sexualmente porque aceitam coisas inaceitáveis. Como o serem tocados de uma forma que não gostam e não dizerem nada porque acham que têm de aceitar. É uma violência que as pessoas se auto-infligem.”
Estas realidades — “muito próximas daquilo que se entendia que era o sexo há 50 anos” — mostram que um projecto como o “Sex & - Pedagogical and Interactive Museum of Sexuality” é necessário, acredita a sexóloga. “Mais do que temas de consultório são temas da sociedade. O nosso projecto quer concentrar informação e permitir uma relação mais directa, para que as pessoas exponham dúvidas.”
A campanha de “crowdfunding” estabeleceu como barreira os 77 mil dólares (aproximadamente 71670 euros) e está online por 31 dias. Quem contribuir poderá receber em troca uma das primeiras peças exclusivas do museu. Há livros, “workshops”, cartazes, t-shirts, um mapa de preliminares para aprender a tocar no corpo feminino e até um “bule clitoriano”, uma versão de uma chaleira em porcelana feita por uma artista plástica a partir da anatomia do clítoris.