Decanos socialistas assinalam “momento histórico” no Comité Central do PCP

Francisco Assis, eurodeputado que contesta solução negociada pelo líder do PS, promete não fazer guerrilha à direcção.

Foto
António Costa à chegada para a reunião da Comissão Política do PS Nuno Ferreira Santos

Era a reunião da Comissão Política do PS que estava a começar, mas a noite deste domingo socialista parece estar marcada por um encontro que decorrera horas antes. Mais de um dos participantes da reunião do PS destacava o “momento histórico” que o país tinha testemunhado com o anúncio feito a partir da sede do PCP. Em causa estava o facto do secretário-geral comunista ter falado numa solução “na perspectiva da legislatura”. Era isso que o PS pretendia ouvir.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Era a reunião da Comissão Política do PS que estava a começar, mas a noite deste domingo socialista parece estar marcada por um encontro que decorrera horas antes. Mais de um dos participantes da reunião do PS destacava o “momento histórico” que o país tinha testemunhado com o anúncio feito a partir da sede do PCP. Em causa estava o facto do secretário-geral comunista ter falado numa solução “na perspectiva da legislatura”. Era isso que o PS pretendia ouvir.

O ex-deputado e candidato derrotado à Presidência, Manuel Alegre, fez questão de o assinalar. "Venho aqui partilhar um momento histórico. Ouvi com emoção as palavras do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e a posição do PCP", declarou Manuel Alegre, numa referência ao anúncio em que os comunistas deram por fechado o acordo político para a formação de um Governo do PS, suportado no parlamento pelas restantes forças de esquerda.

Também João Cravinho, ex-ministro das Obras Públicas (do Governo de António Guterres) , fez questão de sublinhar a forma como o líder do PCP saíra da reunião do Comité Central. Uma posição muito “muito clara” e que abria a porta a um espaço político capaz de “dotar o país de um governo com uma política de continuidade”. João Cravinho desvalorizou as medidas de aumento da despesa contidas no Programa de Governo revelado e que o essencial era o “passo histórico imenso” que Portugal estava a testemunhar.

À hora do arranque da reunião não existiam ainda, no entanto, sinais sobre alguns aspectos práticos do acordo à esquerda. Se parecia ser visto como certo que o entendimento daria lugar a assinaturas de um documento escrito, não estava ainda fechado se essas assinaturas se fariam em conjunto com todos os quatro partidos – PS, PCP, BE e Verdes – ou em separado.

Também ninguém dava como certo que estes partidos se viessem a entender em relação à apresentação de uma moção de rejeição conjunta ao programa do Governo da coligação de direita.

Ao mesmo tempo, Francisco Assis, o socialista que protagoniza a linha interna contestatária ao acordo à esquerda, chegou à reunião sem alterar uma linha das suas posições, apesar da decisão da Comissão Nacional. “As nossas divergências de fundo são de tal ordem que não é possível”, frisou o eurodeputado. A sua confiança no apoio do BE e PCP a um Governo do PS durante uma legislatura era muita reduzida.

“Governar é enfrentar situações desconhecidas e nós vamos entrar no terreno do desconhecido muitas vezes”, avisou. Mas acrescentou que não tencionava manter a contestação. “Não vou entrar em guerrilha”, disse à entrada da Comissão Política.

Mas se Assis não tencionava fazer guerrilha, não queria isso dizer que o PS não venha a ter de enfrentar resistência à sua governação. Como o dirigente socialista Jorge Lacão sentiu logo este domingo quando se preparava para entrar na sede do PS. Ladeado por outros dois membros da Comissão Política, foi confrontado por um transeunte que não se fez rogado em deixar transparecer o que pensava. “Vai ser com o nosso dinheiro que vão pagar a conta, não é?”