Os olhos estiveram postos em Suu Kyi em dia de votação histórica na Birmânia

Forte afluência nas primeiras legislativas livres na Birmânia em 25 anos. Observadores dizem não ter detectado indícios de fraude durante a votação.

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A líder da oposição birmanesa votou rodeada de seguranças e jornalistas Soe Zeya Tun

Em ambiente de festa, mas sem enganar a tensão que permanece no país, milhões de birmaneses participaram neste domingo nas primeiras eleições livres em 25 anos, um escrutínio que não vai retirar poder aos militares, mas que é decisivo no processo de transição iniciado em 2011.

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Em ambiente de festa, mas sem enganar a tensão que permanece no país, milhões de birmaneses participaram neste domingo nas primeiras eleições livres em 25 anos, um escrutínio que não vai retirar poder aos militares, mas que é decisivo no processo de transição iniciado em 2011.

A votação, sob fortes medidas de segurança, decorreu sem incidentes e, mal as urnas fecharam, a comissão eleitoral anunciou que a participação rondou os 80%. Os primeiros resultados com expressão nacional não são esperados antes de terça-feira, mas todos os indicadores sugerem que a vitória será da Liga Nacional para a Democracia (LND) de Aung Sun Suu Kyi, e foi na líder da oposição que as atenções estiveram concentradas.

Vestida com a cor vermelha do seu partido e rodeada de seguranças, a Nobel da Paz votou ao início da manhã em Rangum, pela segunda vez apenas em 70 anos de vida. “Vitória, vitória”, gritaram alguns apoiantes, que tiveram apenas tempo para a ver passar. “Há muito que esperávamos por este dia”, disse à Reuters Khin Myat Maw, uma birmanesa que em 1988 participou nos protestos pró-democracia que Suu Kyi encabeçou.

Thein Sein, o presidente que os militares colocaram no poder e que liderou as reformas que abriram o caminho ao fim do isolamento internacional da Birmânia, votou de forma mais discreta em Naypyidaw, a capital administrativa. O partido que encabeça, a União Social para o Desenvolvimento (USPD), é o principal obstáculo à maioria de dois terços que a Liga precisa para formar governo sozinha – a Constituição em vigor reserva um terço dos lugares no Parlamento para os militares, aliados naturais do USPD – e que será vital quando, em Março, os deputados elegerem o novo Presidente. Suu Kyi está constitucionalmente impedida de assumir o cargo que por ter filhos de nacionalidade estrangeira, mas assegura que se a LND vencer as eleições vai chefiar o governo e “ficar acima do Presidente”.

Os observadores asiáticos e europeus disseram não ter testemunhado indícios de fraude e, apesar de a oposição ter denunciado várias irregularidades, os birmaneses foram neste domingo às urnas como nunca antes tinham ido – há cinco anos a LND tinha boicotado as legislativas, só entrando no Parlamento nas intercalares de 2012, quando elegeu 43 dos 44 lugares em disputa. “Tenho 57 anos e nunca antes votei porque tinha dúvidas. Desta vez as eleições são livres e eu tinha de vir”, contou à BBC Wuhan Datong, já com o dedo manchado com a tinta que assinala o voto.

Mas a eleição fica também marcada pela exclusão de cerca de quatro milhões de eleitores, entre os que residem nas zonas afectadas pela violência étnica e os que pertencem à minoria muçulmana rohingya, a quem não são reconhecidos direitos no país.

E a pairar sobre as eleições continua o receio de que, tal como em 1990, os militares não reconheçam a vitória da LND. Um receio que alimenta a ansiedade no país enquanto se aguardam os primeiros resultados, mas que o chefe do Estado-Maior, Ming Aung Hlaing, garante ser infundado. “Se o povo escolher [a Liga] não há nenhuma razão para não aceitar os resultados”, garantiu.