Investigadores portugueses descobrem nova forma de calcular hora da morte
Métodos devem ser usados na área forense para determinar a hora em que, por exemplo, uma pessoa foi asssassinada.
Dois modelos matemáticos com análise sanguínea podem permitir calcular, com maior precisão, a hora da morte de cada pessoa, diz o presidente da Associação Portuguesa de Ciências Forenses, Ricardo Dinis, que anunciou ter desenvolvido estes métodos em colaboração com outros investigadores portugueses.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Dois modelos matemáticos com análise sanguínea podem permitir calcular, com maior precisão, a hora da morte de cada pessoa, diz o presidente da Associação Portuguesa de Ciências Forenses, Ricardo Dinis, que anunciou ter desenvolvido estes métodos em colaboração com outros investigadores portugueses.
O método "resultou numa análise a vários parâmetros sanguíneos" e, a partir daí, desenvolveram-se dois modelos matemáticos que podem diminuir "significativamente" os erros de estimativa, reduzindo a margem do engano para uma hora, afirma o investigador. "O que nós fizemos foi colher o sangue de pessoas vivas, dadores, e simulamos o comportamento post mortem [depois da morte] desse sangue. Ou seja, pusemos esse sangue em putrefacção, à semelhança do que acontece no cadáver. A partir daí desenvolvemos um modelo matemático. Depois aplicamos esse modelo a animais e funciona", descreve.
Para os responsáveis, o cálculo da hora da morte é "um dos maiores dogmas da área forense", sendo que a maior parte dos métodos utilizados são "tradicionais" baseados "em opiniões subjectivas do perito".
O método, desenvolvido com a colaboração do Instituto Superior de Saúde do Norte - CESPU, das faculdades de Farmácia e de Medicina da Universidade do Porto e da Universidade do Minho, "traz a possível inclusão ou exclusão de suspeitos associados a um local de crime".
"Eu estimo um intervalo de post mortem de aproximadamente sete horas, de alguém que teria morrido por exemplo às 7h, e se o suspeito foi visto com a vítima a essa hora, podemos incluir o suspeito naquele crime. Se a vítima morreu às 7h e eu digo que ela morreu às 18h e se a essa hora o agressor está a trabalhar e tem testemunhas, vou excluí-lo erradamente do crime", explica Ricardo Dinis.
Os modelos utilizados actualmente baseiam-se, entre outros, nas alterações que acontecem nos olhos, medição da temperatura corporal, alterações da cor da pele, com "erros de cálculo gigante, muitas vezes, de vários dias".
O investigador forense adiantou que a vantagem do método é que não "carece de pessoal muito especializado para entrar em rotina" e que o objectivo foi "trazer algo que seja facilmente implementado e que qualquer laboratório do país tenha condições para fazer esse tipo de diagnóstico".
O trabalho foi publicado no final do mês de Outubro numa revista internacional que se dedica à publicação de estudos científicos com impacto social, o que para os responsáveis foi o "atestar da credibilidade".
"A ferramenta foi criada, o modelo é fácil de ser aplicado, só precisa de ser transposto, agora, pelos potenciais interessados. Na minha modesta opinião, é perder algum conforto, alguma comodidade de estar sempre a fazer o mesmo e implementar coisas novas, é uma barreira que tem de ser passada individualmente por cada um dos interessados", defende.
O responsável pelo projecto salienta a "mais-valia" que representa o novo método, considerando-o "revolucionário" pela sua "facilidade de aplicação". O método está pronto para entrar em vigor a qualquer momento e os investigadores vêem o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses como "um grande potencial interessado".