A música de Hugo Carvalhais é originalíssima em qualquer parte do mundo
Ao terceiro disco, o contrabaixista portuense aventura-se pelo universo fora.
Os dois primeiros discos de Hugo Carvalhais, Nebulosa (2010) e Partícula (2012), revelaram um músico fora do comum. Do Porto surgia um novo contrabaixista na cena jazz nacional, distinto dos outros, difícil de catalogar: soberbo como instrumentista e originalíssimo como compositor, trabalhando temas sofisticados e complexos. Na base estava um sólido trio de piano, com Gabriel Pinto (piano, teclados) e Mário Costa (bateria), um grupo fluído e flexível, ao qual se juntavam outros convidados para expandir a música.
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Os dois primeiros discos de Hugo Carvalhais, Nebulosa (2010) e Partícula (2012), revelaram um músico fora do comum. Do Porto surgia um novo contrabaixista na cena jazz nacional, distinto dos outros, difícil de catalogar: soberbo como instrumentista e originalíssimo como compositor, trabalhando temas sofisticados e complexos. Na base estava um sólido trio de piano, com Gabriel Pinto (piano, teclados) e Mário Costa (bateria), um grupo fluído e flexível, ao qual se juntavam outros convidados para expandir a música.
Ao terceiro disco Carvalhais muda de registo. Agora sem o baterista, do trio original mantém-se Gabriel Pinto, que aqui não toca piano, apenas órgão e teclados. Dominique Pifarély, violinista que participou em Partícula, repete a colaboração com Carvalhais. E o grupo completa-se com a participação de Jeremiah Cymerman, na manipulação electrónica.
Se a música dos primeiros discos já seria difícil de caracterizar, este novo tomo é ainda mais desafiante. Fazendo jus à capa, a música do quarteto arranca em modo espacial, abrindo com pinceladas do teclado futurista de Pinto, para depois contrabaixo e violino se entrelaçarem. A introdução do segundo tema evoca a solenidade de órgão de igreja, para depois surgir um contrabaixo galopante, deixando um violino irrequieto em segundo plano, juntando-se a estes uns pozinhos de electrónica.
O contrabaixo não se exibe mas está sempre presente, no pizzicato ou com o arco, um som claro dotado de sentido melódico. O violino de Pifarély desenha malabarismos, os teclados de Pinto alternam de registo - ora vibrante, ora subtil, quase atmosférico. A electrónica chega em pequenas doses, aplicadas cirurgicamente.
Mais do que nunca, a música de Carvalhais é inclassificável, cruza mundos de modo surpreendente. Inclui improvisação, tem um certo lado de música de câmara, assume a vertente electrónica, atravessa galáxias sonoras. Questiona, desafia o ouvinte, leva-o para novos lugares, deixa-o sem referências. Esta música é originalíssima, em Portugal e em qualquer parte do mundo, e merece o aplauso total, sem reservas.