O arquitecto na mão das bruxas

Eli Roth, afilhado de Tarantino, prossegue a sua cruzada moral disfarçada de exploitation, num filme profundamente desagradável,

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Pode detestar-se um filme admitindo que a sua forma de ser detestável faz todo o sentido? A prova está aí, com o regresso aos écrãs portugueses de Eli Roth, um dos inventores do torture porn e afilhado de Quentin Tarantino (que lhe apadrinhou o segundo filme, Hostel, e o convocou como actor para Sacanas sem Lei). Roth continua a olhar para o filme de exploitation e para a ultra-violência como modo de apontar o dedo à podridão moral e à hipocrisia dos nossos dias, e esta remake disfarçada de Death Game, um velho exploitation de 1977, põe a nu o seu moralismo de vão de escada (poderoso, mas básico). Perigosas Tentações atira um arquitecto bem na vida e bem casado, sozinho em casa durante um fim-de-semana prolongado, para os braços de duas mocinhas bem proporcionadas e bem provocadoras que fingem estar perdidas mas, na realidade, têm como único intuito destruírem-lhe a vida em vingança pela exploração titiladora do sexo feminino. Que o arquitecto na mão das bruxas seja interpretado por uma vedeta como Keanu Reeves (solto como não o víamos há anos) é a primeira boa ideia de Roth; que tudo se passe no interior de uma luxuosa casa, percorrida incessantemente por uma steadycam desorientadora, é a segunda.

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Pode detestar-se um filme admitindo que a sua forma de ser detestável faz todo o sentido? A prova está aí, com o regresso aos écrãs portugueses de Eli Roth, um dos inventores do torture porn e afilhado de Quentin Tarantino (que lhe apadrinhou o segundo filme, Hostel, e o convocou como actor para Sacanas sem Lei). Roth continua a olhar para o filme de exploitation e para a ultra-violência como modo de apontar o dedo à podridão moral e à hipocrisia dos nossos dias, e esta remake disfarçada de Death Game, um velho exploitation de 1977, põe a nu o seu moralismo de vão de escada (poderoso, mas básico). Perigosas Tentações atira um arquitecto bem na vida e bem casado, sozinho em casa durante um fim-de-semana prolongado, para os braços de duas mocinhas bem proporcionadas e bem provocadoras que fingem estar perdidas mas, na realidade, têm como único intuito destruírem-lhe a vida em vingança pela exploração titiladora do sexo feminino. Que o arquitecto na mão das bruxas seja interpretado por uma vedeta como Keanu Reeves (solto como não o víamos há anos) é a primeira boa ideia de Roth; que tudo se passe no interior de uma luxuosa casa, percorrida incessantemente por uma steadycam desorientadora, é a segunda.

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Perigosas Tentações coloca o espectador na exacta posição de Reeves - testemunha da emasculação do herói por um feminismo fundamentalista, retórico e manipulador, vítima do sadismo amoral com que Lorenza Izzo e Ana de Armas, quais encarnações do Mal absoluto, atormentam sem aparente motivo. Damos por nós prisioneiros do jogo perverso do realizador, e a experiência torna-se tão visceralmente perturbante que quase faz esquecer o profissionalismo envernizado da produção e a desagradável impressão de calculismo metódico que o cinema de Roth sempre deixou. Não se pode ignorar que o realizador sempre quis erguer metáforas do voyeurismo implícito no cinema de terror e levar o espectador a pensar no que está a ver em vez de apenas o chocar, nem que o está a fazer de modo cada vez menos chico-esperto e mais pensado. Mas isso não torna Perigosas Tentações mais confortável, antes amplifica o seu modo de ser desagradável. Detestável, até.  

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