Hospital de Gaia detecta 102 doentes com bactéria multirresistente
Ainda há 45 pacientes internados na unidade de saúde, quatro dos quais com infecção.
O rastreio de portadores da bactéria multirresistente klebsiella pneumoniae (KPC) realizado no Hospital de Gaia depois de serem conhecidos vários casos de infecção, três dos quais mortais, permitiu identificar 102 doentes como infectados ou portadores (sem manifestações clínicas), revelou nesta terça-feira o Ministério da Saúde em nota.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O rastreio de portadores da bactéria multirresistente klebsiella pneumoniae (KPC) realizado no Hospital de Gaia depois de serem conhecidos vários casos de infecção, três dos quais mortais, permitiu identificar 102 doentes como infectados ou portadores (sem manifestações clínicas), revelou nesta terça-feira o Ministério da Saúde em nota.
"Em três doentes, a morte resultou, documentadamente, da infecção pela referida bactéria", destaca, como já se sabia, o balanço publicado no Portal da Saúde. Ainda permanecem internados no hospital 45 pacientes, quatro deles com infecção, acrescenta a mesma nota.
O balanço indica que todos os doentes (num total de 189) que contactaram com os casos diagnosticados, desde Agosto passado, foram rastreados no hospital e, destes, 102 — mais de metade, portanto — estavam infectados ou eram portadores (não infectados) de Klebsiella pneumoniae com resistência a carbapenemes (KPC-3).
Deste total, 12 tiveram infecção pela bactéria e os restantes são apenas portadores. A taxa de transmissão cruzada foi, assim, "elevada, mas muito variável, conforme o local de internamento". No grupo dos 102 doentes, 75 foram identificados através do programa de rastreio que está agora "completo", destaca a nota, sublinhando que, neste grupo dos rastreados, 40% estavam infectados ou eram portadores.
Os doentes estão "em regime de isolamento de contacto, ocupando duas áreas específicas do Hospital de Gaia (uma de Medicina e outra de Cirurgia)", explica-se na nota. Entretanto, foi criado "um sistema na urgência e na consulta que permite o seu reconhecimento imediato", de maneira a que os pacientes possam ser rastreados no momento de admissão e possam ficar isolados nas áreas criadas para o efeito no hospital, se tal se revelar necessário. Foi nas enfermarias de medicina e de cirurgia que a taxa de transmissão foi "muito elevada", ao contrário do que aconteceu nas unidades de cuidados intensivos polivalente e de cirurgia torácica, onde foi "nula a mínima", refere o ministério.
O hospital suspeita de que a origem do surto tenha sido uma doente que foi submetida a vários tratamentos com antibiótico e que partilhou, no dia 29 de Junho, a mesma unidade de pós-operatório com o primeiro paciente infectado.
O coordenador do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde sublinhou há uma semana, em declarações ao PÚBLICO, que esta resistência da Klebsiella pneumoniae ainda é rara em Portugal (1,8%) e que está mesmo um pouco abaixo da média europeia e muito longe daquilo que se verifica noutros países, como a Grécia (50%) e a Itália (mais de 30%). Mas José Artur Paiva admitia então alguma apreensão: "O que nos preocupa é o facto de estarmos a assistir a uma progressão significativa": passámos de 0,3%, há três anos, para 0,7% no ano seguinte e 1,8%, no ano passado.
Recordando que este tipo de resistência já está descrito em Portugal desde 2009, José Artur Paiva sublinhava que é necessário usar os antibióticos com parcimónia, mas admitia que, mesmo usando bem este tipo de medicamentos, possam surgir resistências.
Portugal está entre os países da União Europeia com maior prevalência de infecções hospitalares, apesar de a situação estar a melhorar nos últimos anos. Os dados relativos a 2014 indicam que 10,5% dos doentes contraíram uma infecção deste género nas unidades portuguesas. com Lusa