Túneis da ribeira de Albufeira tinham as comportas encerradas
Comerciantes querem ser ressarcidos e criticam a câmara, que vai pedir declaração de calamidade pública.
Os comerciantes de Albufeira deitam contas à vida, depois da primeira da chuvada, a sério, que se abateu sobre a cidade. “Queremos ser ressarcidos dos prejuízos”, proclama o presidente da Associação de Comerciantes, Luís Alexandre, apontando o dedo à câmara municipal, por não ter tomado as medidas cautelares que se impunham. Desde há sete anos, quando se verificou a última enxurrada, critica Luís Alexandre, “sabia-se que era deficiente o sistema de drenagem, e nada foi feito para corrigir a situação”.
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Os comerciantes de Albufeira deitam contas à vida, depois da primeira da chuvada, a sério, que se abateu sobre a cidade. “Queremos ser ressarcidos dos prejuízos”, proclama o presidente da Associação de Comerciantes, Luís Alexandre, apontando o dedo à câmara municipal, por não ter tomado as medidas cautelares que se impunham. Desde há sete anos, quando se verificou a última enxurrada, critica Luís Alexandre, “sabia-se que era deficiente o sistema de drenagem, e nada foi feito para corrigir a situação”.
Na rua dos bares, a água chegou ao tecto de alguns estabelecimentos, a praia dos pescadores virou num mar de lama – a baixa da cidade turística ficou irreconhecível.
O presidente da Câmara, Carlos Silva e Sousa, ao final da tarde desta segunda-feira, depois de um encontro com o ministro da Administração Interna, anunciou que iria pedir a declaração de calamidade pública, tendo em conta os “danos elevados” que tinha verificado, na visita que fez à zona inundada.
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Porém, o pedido de declaração de “calamidade pública” poderá virar-se contra o próprio município. Na origem da dita “calamidade” estão erros urbanísticos, acumulados ao longo dos anos. A antiga ribeira de Albufeira que regulava o sistema hidráulico chama-se agora Avenida 25 de Abril. O mini-mercado de Luís Alexandre situa-se precisamente nessa artéria, e não possuía seguro. Os prejuízos globais, estimados pelo município, situam-se na ordem dos milhões. A precipitação que se fez sentir, com maior intensidade ao princípio da tarde de domingo em Albufeira, não foi muito diferente da carga de água que se abateu sobre o concelho de Loulé, Faro, Silves e outras localidades. Porém, nesta cidade turística, existe um factor de risco adicional. A massa urbanística ocupou o leito de cheia, como se no Algarve não houvesse Inverno. Para agravar a situação, as comportas que regulam o caudal da ribeira que vem do Norte da cidade encontravam-se encerradas. Resultado: formaram-se três diques antes da chegada à rotunda das Descobertas, que foram engrossando até a água saltar em fúria. A partir desse ponto, a enxurrada seguiu avenida abaixo em direcção ao mar, arrastando todos os objectos que encontrou pela frente.
Críticas à Protecção Civil
As perdas de Joaquim Silva, comparadas com os milhões dos empresários de turismo, são de valor bem mais reduzido. “Perdi seis galinhas”, diz o homem, de 67 anos, morador perto da ribeira que recebe todas as águas da zona rural do concelho – desde o Cerro d’Oiro até à cidade.
Nas margens da linha de água, a câmara mandou construir um jardim, cuja obra chegou a estar embargada pelo ministério do Ambiente. Com uma correcção ao projecto, os trabalhos acabariam por ser concluídos. No leito da ribeira foram implantados túneis (com altura suficiente para circular um camião). No entanto, durante o Verão foram fechadas as quatro comportas metálicas dos túneis. Quando chegou a enxurrada, três encontravam-se encerradas – formaram-se então diques e, a partir desse ponto de estrangulamento, a água seguiu o seu percurso natural até ao mar. “Parece impossível tanto desmazelo”, comentou Joaquim Silva, queixando-se da falta de manutenção municipal na limpeza das linhas de água e equipamentos.
A Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Protecção Civil, por sua vez, aproveitou a ocasião para criticar a Autoridade Nacional por não ter alterado domingo o estado de alerta especial azul no Algarve, que estava sob aviso vermelho por previsão de chuva forte.
"A Asprocivil não entende como é possível que a ANPC, tendo conhecimento da previsão de condições de Risco Extremo (aviso vermelho, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera), tenha mantido inalterado o estado de alerta especial azul para aquela região". No documento, a Asprocivil refere que a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) devia ter aumentado o nível de alerta, já que o IPMA tinha colocado sob aviso vermelho - nível de situação meteorológica de risco extremo - o distrito de Faro, devido à previsão de chuva forte entre as 9h e as 15h de domingo.
Revela ainda a Asprocivil que a medida do IPMA alertou "o país e a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) de que haveria a previsão de risco extremo de períodos de chuva forte e persistente". Segundo o IPMA, entre as 5h e as 14h de domingo a precipitação atingiu os "102 litros (média habitual seria de 90 litros) por metro quadrado", acrescentando ainda de que "entre as 12h e as 13h foi a hora em que mais choveu", sendo que os dados recolhidos indicam 20 litros por metro quadrado naquela hora.