Governo pronto para entendimentos e compromissos com o PS "até ao fim"

Ministro dos Assuntos Parlamentares reuniu-se com o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues. Admite que possa haver conversas nos corredores entre a direita e o PS.

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Nuno Ferreira Santos

“Até ao fim” é o prazo que o Governo se dá para uma tentativa de entendimento com o PS porque, como argumentou esta segunda-feira o novo ministro dos Assuntos Parlamentares, mesmo sendo “diferentes, rivais e adversários” dos socialistas, PSD e CDS estarão sempre “muito mais próximos do PS do que jamais estarão do Bloco ou do PCP”. E deixou mesmo no ar que podem existir mais contactos – nomeadamente entre o PS e a direita - do que apenas os formais que se conhecem entre a esquerda.

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“Até ao fim” é o prazo que o Governo se dá para uma tentativa de entendimento com o PS porque, como argumentou esta segunda-feira o novo ministro dos Assuntos Parlamentares, mesmo sendo “diferentes, rivais e adversários” dos socialistas, PSD e CDS estarão sempre “muito mais próximos do PS do que jamais estarão do Bloco ou do PCP”. E deixou mesmo no ar que podem existir mais contactos – nomeadamente entre o PS e a direita - do que apenas os formais que se conhecem entre a esquerda.

A ideia de que PS, PSD e CDS são uma espécie de aliados naturais foi vincada várias vezes por Carlos Costa Neves aos jornalistas à saída do encontro de meia hora que teve com o presidente da Assembleia da República, o socialista Eduardo Ferro Rodrigues (que não prestou declarações).

“No essencial a posição do Governo é esta: nós estamos prontos para um entendimento e para compromissos até ao fim. Pensamos que é isso que corresponde ao interesse nacional”, garantiu. “Olhando não só para a história como para os princípios programáticos dos vários partidos em questões essenciais para o país, é óbvio, sendo [PSD e CDS] muito diferentes do PS, rivais do PS, adversários do PS, no entendimento que temos sobre o desenvolvimento do país, sobre a Europa e sobre a relação transatlântica, estamos muito mais próximos do PS do que jamais estaremos do Bloco de Esquerda ou do PCP”, descreveu o governante.

Enquanto ministro dos Assuntos Parlamentares, Carlos Costa Neves disse ser importante manter uma “relação institucional funcional” e “produtiva” com o presidente da Assembleia da República. E também com os vários grupos parlamentares, com quem tem audiências marcadas para esta terça-feira (o Bloco é às 10h, o PS às 15h).

O ministro defendeu que o Governo tem procurado “sempre estabelecer pontes” desde as eleições e disse estar “profundamente convencido” de que elas ainda são possíveis com o PS – e não vê sequer “com quem mais quer que seja”. Ou seja, a direita mantém-se disponível para dialogar com os socialistas mas só com eles e até já se mostrou aberta para adoptar medidas do PS no programa de Governo. Até porque, salienta o ministro, se se compararem os programas da direita e do PS “as divergências não são tantas como essas. Talvez a discussão se esteja a fazer à volta de outras questões que não propriamente as ideias essenciais.”

Ambiente de combate político entre PS e a direita é "natural"
O clima de crispação política a que se chegou pode muito bem ser um entrave ao entendimento. Sobre as declarações de Paulo Portas de que seria um “golpe de secretaria” o PS formar Governo, Costa Neves considerou a atitude “natural” por fazer parte do “combate político”: “O vice-primeiro-ministro tem o seu papel e fá-lo habitualmente bem (e fê-lo bem); e eu tenho o meu papel - de assegurar que as coisas se passem da melhor forma possível sem esquecer que esse combate existe - e os papéis conjugam-se. É um coro a várias vozes, espero que de forma harmoniosa.”

“A luta política às vezes sobe de tom, mas talvez pela natureza das coisas e porque o que interessa é buscar entendimentos, ao mesmo tempo que essas declarações públicas são feitas há com certeza pessoas a falarem em busca do melhor entendimento e em busca de encontrar soluções possíveis e melhores para o país do que aquelas que tanto se falam”, disse o ministro.

Recusando ser uma espécie de bombeiro do Governo, Costa Neves não quer também “construir cenários” sobre a vida do executivo a prazo. “Tudo o que vou fazer é no sentido de pôr as coisas no seu lugar e as coisas no seu lugar é: os portugueses pronunciaram-se, o interesse está acima de tudo, a instabilidade não interessa, devemos procurar pontes e não vejo mais nenhum partido com quem seja fácil estabelecer pontes que não com o PS.” E desejou que se conseguissem entender para que o PS recuasse na moção de rejeição.

Conversas e pontes construídas nos corredores?
Essas pontes podem até estar a ser construídas nos corredores, onde “há conversas”, “os grupos parlamentares falam, os deputados conhecem-se” – deixando no ar que haverá mais diálogo do que se aparenta. Costa Neves recusou, no entanto, manifestar-se sobre a vida interna do PS – “A liderança do PS é a que é, a liderança do PDS é a que é, a do Bloco é a que é, do PCP é a que é, do CDS é a que é, e é portanto com essas pessoas que temos que falar, eu não elegi os líderes dos outros partidos, não elegeram os líderes do meu partido.”

O ministro disse ainda que o programa de Governo será aprovado na reunião do Conselho de Ministros na quinta-feira, esperando entrega-lo na Assembleia da República “muito ao fim do dia de quinta-feira ou na sexta-feira”, para que possa começar a ser discutido na segunda-feira, 9, o último dia do prazo legal.

Sobre o encontro desta terça-feira com o presidente da bancada parlamentar do PS, Costa Neves não quis adiantar se vai deixar algum apelo especial a Carlos César, dizendo apenas que vão “conversar” e que conhece o líder parlamentar do PS há 40 anos. Costa Neves é açoriano, foi deputado na Assembleia Legislativa Regional e por duas vezes líder do PSD/Açores, e reencontra agora o antigo presidente do Governo regional dos Açores, Carlos César - ambos em novas funções.