A Anita e o João Neto
É skater desde a primeira tábua aos nove anos e surfista pela influência natural de quem vive à beira-mar. E é sobretudo ilustrador — e fotógrafo e...
Entrei no espaço e onde havia o maior foco de luz estavam dois artistas a ilustrar/pintar dois caiaques. 2014. Estava na Garagem das Artes do Festival Fusing, a convite da curadora Lara Seixo Rodrigues, e era o João “Capitão” Neto quem estava a desenhar um dos caiaques. O traço de grafismo americano da ilustração atraiu-me pela familiariedade de uma infância de entretenimento pelo Cartoon Network.
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Entrei no espaço e onde havia o maior foco de luz estavam dois artistas a ilustrar/pintar dois caiaques. 2014. Estava na Garagem das Artes do Festival Fusing, a convite da curadora Lara Seixo Rodrigues, e era o João “Capitão” Neto quem estava a desenhar um dos caiaques. O traço de grafismo americano da ilustração atraiu-me pela familiariedade de uma infância de entretenimento pelo Cartoon Network.
Com 23 anos e natural de Aljezur o interesse pela ilustração surge desde muito cedo e de forma natural, por isso foi sempre muito claro que as artes visuais fariam parte da sua vida. Especializou-se nesta área até ao 12º, que complementou com a recentemente concluida licenciatura em Design no IADE. Enquanto ainda estava a tirar a licenciatura empreende em trabalhos fora do âmbito escolar estabelecendo uma identidade e portefólio artístico na ilustração.
É skater desde a primeira tábua aos nove anos e na adolescência começou a praticar surf pela influência natural de quem vive à beira-mar. Ainda hoje é surfista e inevitavelmente estas fortes influências culturais integram também o seu percurso profissional.
A irmã gémea foi quem o desafiou a explorar a fotografia, que acaba por adoptar como arquivo de inspirações em filme preto e branco. São registos da observação do seu envolvente para as suas ilustrações. “É uma caracterização da minha visão do que acontece à minha volta, bastante pessoal e com algum humor”. A ligação da fotografia ao seu estilo de ilustração denota-se pelo uso dos contrastes do preto e branco e refere-me Robert Frank, Elliot Erwith, Ed Templeton, Stephen Shore e Lee Friedlander como uma constante na sua palete fotográfica de inspirações. As fotografias têm um objectivo muito delineado e desde o início que decidiu não as expôr digitalmente. Um dia estarão em paredes, levando-os à luz da janela do seu espaço de trabalho.
Usa a Internet como uma montra das suas ilustrações, mas destaca que estar ligado à Ementa SB foi algo que abriu várias portas e oportunidades para fazer trabalhos, como a participação na “The Thousand Words Campaign”, onde criou um grafismo com assinatura de artista para uma tábua de skate e esteve envolvido em toda a campanha, incluindo na produção das instalações. Outro projecto que destaca é a instalação em parceria com David Cabrita para o Cons Project Lisboa da Converse.
“Quando dei por mim ainda não tinha acabado a licenciatura e já tinha feito trabalhos para a Red Bull, Converse, Fuel TV e já estava associado à Vans e à Brixton pela Trsmssn como artista. Tive a sorte também de ter sido convidado pelo João Rei para ser um dos artistas da 3.ª edição do Sagres Surf Culture e de ter ganho um “call for artists” da Mistaker Maker e ter sido um dos artistas convidados do Festival Fusing 2014, que foi onde nos conhecemos.”
Agora sentados num banco dos jardins de Belém à luz do final de dia conta-me que a recordação mais longínqua da presença do desenho na sua vida é a de ver a mãe a desenhar o seu sonho em ser estilista e de desenhar com ela — e de acompanhar esta influência herdada do avô, que era alfaiate.
E quando lhe pergunto sobre o que deseja alcançar e como deseja posicionar-se no mundo das artes, a paródia que lhe é natural recua para dar lugar a um discurso tímido na partilha e a um João com objectivos certos e assertivos: estabelecer-se como artista plástico e quem sabe um dia expôr no Au Palais de Tokyo – centro de arte contemporânea em Paris. Nas artes plásticas, tanto na pintura como na ilustração indica-me Ed Templeton, Barry McGee, Margarett Killgalen, Raymond Pettiobon e Robert Crumb como fundações das suas influências. E, percorrendo um pouco o expólio destes artistas e compreendendo os trabalhos que o João tem desenvolvido, entende-se este complexo intelectual que se esconde atrás da imagem de um rapaz cheio de estilo e humor.
Neste momento tem sido o autor dos troféus para as etapas do Car Park Tour da Ericeira Surf Shop (um evento para o qual criou a identidade gráfica) e tem estado em preparações de uma exposição em nome próprio que ainda não tem data marcada. Fiquem atentos e se ainda não conhecem o trabalho do João Neto sugiro vivamente que sejam curiosos e cliquem aqui.