"É tempo de algumas franjas da população se reverem em quem está no Governo”

Fernando Ulrich, presidente do BPI, recusa "entrar na dramatização" de haver um Governo PS com o apoio do PCP e Bloco.

Foto
António Borges

É tempo de algumas franjas da população que habitualmente não votam em partidos do arco da governação se reverem em quem está no Governo, defendeu esta quarta-feira o presidente do BPI, Fernando Ulrich. A afirmação foi feita durante a divulgação das contas trimestrais, período em que o grupo apresentou lucros consolidados de 151 milhões de euros, dos quais 38,9 milhões provêm da actividade doméstica.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

É tempo de algumas franjas da população que habitualmente não votam em partidos do arco da governação se reverem em quem está no Governo, defendeu esta quarta-feira o presidente do BPI, Fernando Ulrich. A afirmação foi feita durante a divulgação das contas trimestrais, período em que o grupo apresentou lucros consolidados de 151 milhões de euros, dos quais 38,9 milhões provêm da actividade doméstica.

"Estamos em democracia há 40 anos. Já é tempo de nos consciencializarmos que somos uma democracia adulta. As pessoas votaram” e “é bom que uma parte da população que não está habituada se sinta representada” no Governo. As palavras de Ulrich surgiram após ter sido questionado em conferência de imprensa sobre os resultados das legislativas de 4 de Outubro e a hipótese de constituição de um Governo de esquerda liderado pelo PS com o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda.

“A última coisa que me passa pela cabeça é criticar a forma como as pessoas votaram”, observou o presidente do BPI. “Há uns de nós que estão mais contentes e outros menos. É a vida. É a democracia” a funcionar. E qualquer que seja a solução de governação final diz que espera que resulte “em mais entendimento” entre forças políticas para garantir um quadro de estabilidade ao país.

Esta quarta-feira o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Fernando Faria de Oliveira, desejou que o próximo Governo “se aproxime mais dos países do centro da Europa e que não ande para trás, para se tornar uma Cuba da Europa”. Instado a comentar Ulrich começou por dizer que não quer "entrar na dramatização", mas “que o paralelismo entre Cuba e Portugal” talvez decorra do facto de “os dois países terem praias bonitas.”

Em jeito de conclusão, o banqueiro esclareceu que Portugal está hoje “melhor, melhor nas contas públicas e no desemprego” do que em 2011, ano em que Portugal pediu a intervenção da troika. O país “está "mais confiante, mais tranquilo" e, por isso, acredita que seja qual for o Governo este vai actuar "em linha” com o quadro de “estabilidade” que se verifica.

Sobre a proposta de cisão apresentada pela equipa de Ulrich para cindir as operações africanas do BPI (o Banco de Fomento de Angola e o moçambicano BIM), Ulrich notou que este é um processo em curso e “muito exigente” e complexo (por envolver acordos com a Unitel) e a autorizações dos bancos centrais de Portugal, Angola e Moçambique, bem como do BCE.

Com 49,9% do BFA, a Unitel tem uma palavra relevante para validar a solução que visa possibilitar ao banco português cumprir os limites aos grandes riscos exigidos pelo BCE.

Interrogado sobre se a Unitel (controlada por Isabel dos Santos, o segundo maior accionista do BPI com 19,9%) tinha apresentado uma oferta de aquisição de 10% do BFA (o que aliviava o BPI da pressão do BCE), o banqueiro explicou que até ao momento não foi dirigida ao conselho de administração “nenhuma proposta nesse sentido”. “Mas estamos em conversações com a Unitel”, disse. Isabel dos Santos já enviou indicações ao mercado de que poderia chumbar a operação de separação de activos.

BPI com lucros de 151 milhões
O BPI registou um lucro consolidado de 151 milhões de euros entre Janeiro e Setembro deste ano (o que compara com os prejuízos de 114,3 milhões registados no mesmo período de 2014). A actividade doméstica foi responsável por 38,9 milhões de euros do resultado líquido.

 Olhando apenas para as contas de Julho e Setembro de 2015, os dados indicam um lucro líquido consolidado de 74,8 milhões de euros, dos quais 32,3 milhões correspondem às operações no mercado português. 

De acordo com os números do BPI, a margem financeira subiu 30,8% (mais 116,3 milhões) e o rácio de crédito em risco desceu para 5,1%, com o crédito a clientes vencido há mais de 90 dias a situar-se nos 3,7% do total.  Entre 2008 e Setembro deste ano, Ulrich reduziu o quadro de trabalhadores em 24% (saíram do banco 1833 pessoas), que passou a contar com 5934 colaboradores. E fechou 222 balcões e postos de venda, possuindo hoje uma rede comercial de 585 agências.