"Estamos todos atordoados e incrédulos, à espera do que vai dar o julgamento"

O músico Kalaf Epalanga diz que nunca se discutiu se discutiu tanto sobre democracia em Angola, mas além da questão da greve da fome, não se fizeram avanços.

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Daniel Rocha

O PÚBLICO procurou saber qual o impacto que a greve de fome de Luaty Beirão, e a atenção internacional dada à sua prisão e de outros 14 companheiros acusados no mesmo processo, teve em Angola. Perguntamos ao músico angolano Kalaf Angelo:

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O PÚBLICO procurou saber qual o impacto que a greve de fome de Luaty Beirão, e a atenção internacional dada à sua prisão e de outros 14 companheiros acusados no mesmo processo, teve em Angola. Perguntamos ao músico angolano Kalaf Angelo:

“O caso foi amplamente discutido, e o facto de estarmos agora ao telefone é sinal do impacto profundo que teve. Mas ainda não podemos dizer nada ao certo, a não ser que continuamos todos muito apreensivos, a aguardar o próximo dia 16 de Novembro, que é a data do início do julgamento.

Porque tirando a questão preocupante que a greve de fome representava, não houve propriamente grandes avanços. O caso está ainda longe do fim. As questões que foram levantadas ao longo destes dias, o excesso da prisão preventiva e a própria insensibilidade do sistema, não foram resolvidas.

Na verdade, a maior parte dos angolanos com quem tenho falado têm sentimentos muito confusos em relação ao momento que estamos a viver. Há tanta coisa neste momento que nos faz reflectir. Nunca se discutiu tanto sobre democracia e sobre liberdades cívicas em Angola, não me lembro de uma discussão tão intensa e tão presente.

Estamos a assistir a um debate sobre os direitos que todos os angolanos têm e que são postos em causa quando não agradam aos dirigentes deste país. A questão da democracia, da liberdade de expressão e do direito à reunião, tudo o que está consagrado na nossa Constituição, e não tem vindo a ser posto em prática e não é visível na sua plenitude por todos os angolanos: é isso o que mostra este episódio triste e lamentável.

É óbvio que não se sabem todos os contornos que levaram à prisão e à acusação. O que saiu e é visível é a questão da rebelião e do golpe de Estado. Mas ninguém em Angola acha que será preso por ler um livro subversivo. O que está claro é que esse grupo representa uma ameaça ao poder executivo, e está a sofrer na pele. Está mais do que provado que há dois pesos e duas medidas. Muito se tem escrito sobre o que se passa em Angola, eu próprio faço isso, e nunca recebi nenhuma ameaça.

Estamos todos atordoados e incrédulos, à espera do que vai dar o julgamento. Isso é que é o importante."