Querença expõe obra de um dos grandes mestres do desenho biológico
Alfredo da Conceição, o pintor que desenhou bichos à lupa, colocava 15 pontinhos coloridos num centímetro quadrado
Os elefantes a passear pelos verdes prados do sotavento algarvio é uma das imagens em destaque na exposição que evoca o trabalho de Alfredo da Conceição – mestre do desenho biológico – inaugurada no passado fim-de-semana, na biblioteca da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença. O artista, que morreu há quatro anos, deu cor e traço científico a uma vasta colecção de obras sobre a fauna e flora. Um dos exemplos é a série de borboletas para o trabalho “Insectos da Arrábida”, da autoria de Passos de Carvalho.
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Os elefantes a passear pelos verdes prados do sotavento algarvio é uma das imagens em destaque na exposição que evoca o trabalho de Alfredo da Conceição – mestre do desenho biológico – inaugurada no passado fim-de-semana, na biblioteca da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença. O artista, que morreu há quatro anos, deu cor e traço científico a uma vasta colecção de obras sobre a fauna e flora. Um dos exemplos é a série de borboletas para o trabalho “Insectos da Arrábida”, da autoria de Passos de Carvalho.
O artista que se destacou na pintura realista e naturalista – ilustrou vários livros científicos de etnologia, mamíferos, aves e flora – foi ainda o autor de quatro aguarelas que reconstituem os mais recuados períodos geológicos do Algarve, na zona de Castro Marim. A mostra, patente ao público até final do ano, de segunda a sexta-feira, recria o ambiente de uma região, de clima tropical, recuando 8 milhões de anos. Mas esta é apenas uma das faces (pintura da paisagem) do pintor que se destacou na área do desenho biológico. Alfredo da Conceição trabalhou para o então Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico (SNPRPP, hoje Instituto da Conservação da Natureza e Florestas - ICNF) na altura em que foi secretário de Estado do Ambiente, Manuel Gomes Guerreiro, 1º reitor da Universidade do Algarve. Numa primeira fase da carreira, em Moçambique, onde viveu durante 33 anos, trabalhou como desenhador do Serviço de Indústria, Geologia e Minas e no Museu de História Natural Álvaro de Castro
O director do SNPRPP naquela altura, Fernando Pessoa lembrou, durante a inauguração da exposição, que foi ele quem o incentivou a enveredar pela pintura mais abstracta para poupar a vista que lhe restava. Perdeu a visão, recordou, em consequência das décadas a desenhar, com tanto rigor que tinha de socorrer-se de uma lupa para não deixar escapar os mais pequenos elementos anatómicos. “Chegava a fazer 15 pontinhos dentro de um milímetro quadrado”, sublinhou. O levantamento da obra de Alfredo, como assinava os trabalhos, está por fazer, embora o Museu da História Natural, em Lisboa, disponha de uma parte dos seus trabalhos que estavam na posse do ICNF. Na função de ilustrador no SNPRN retratou várias áreas protegidas - da reprodução fiel dos seres vivos que aí habitavam até às paisagens naturais e humanizadas. Em relação à ligação com académicos algarvios, nas áreas do ambiente e antropologia, além da ligação a Gomes Guerreiro - com quem colaborou ainda em Moçambique, trabalhou ainda com Manuel Viegas Guerreiro. De resto, as imagens do livro Esboço de monografia etnográfica Pitões das Júnias, da autoria do antropólogo, têm a sua assinatura.
A exposição fica patente até 31 de Dezembro, podendo ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.