Indústria da carne diz que é “inapropriado” apontar todas as culpas aos produtos transformados
Há centenas de empresas a produzir charcutaria em Portugal, onde o consumo per capita de fiambre ultrapassa os dois quilos
Dos industriais da carne, aos empresários da restauração e hotelaria, chegam apelos à calma e críticas ao relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS).
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Dos industriais da carne, aos empresários da restauração e hotelaria, chegam apelos à calma e críticas ao relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em Portugal há centenas de empresas que produzem produtos de charcutaria e enchidos (só a APIC, Associação Portuguesa dos Industriais de Carne, tem 83 associados), algumas com uma presença importante nas prateleiras dos supermercados como a Nobre e a Sicasal. Nenhuma quis prestar declarações sobre os impactos que o relatório da OMS pode ter no consumo (e em consequência nas vendas), remetendo comentários para a APIC.
A associação subscreveu a posição oficial da sua congénere europeia, que considerou "inapropriado atribuir a um único factor um risco aumentado de cancro". "É um assunto muito complexo que pode depender de uma combinação de muitos outros factores como a idade, a genética, o ambiente e o estilo de vida. Não é um único grupo de produtos que, por si só, define os riscos associados à saúde, mas a dieta [alimentar] como um todo, a par de muitos outros factores", defende a Clitravi (Centre de Liaison des Industries Transformatrices de Viande da UE). Por seu lado, a APIC recomendou à OMS uma "abordagem mais holística", considerando "que da vasta fama de produtos de carne produzidos na União Europeia todos têm valor nutricional ideal e cumprem os diferentes requisitos dos consumidores".
Em Portugal produziram-se em 2013 perto de 170 mil toneladas de preparações de carne (incluindo charcutaria), valor record registado pelo INE. Nesse mesmo ano, a empresa de estudos de mercado Nielsen dava conta que, por exemplo, 91,7% das famílias portuguesas consumiam fiambre. O consumo médio per capita é de 2,14 quilos. Os números do INE quanto à produção de presunto mostram que, em 2013, produziram-se 10.535 toneladas, também o mais alto desde 2000.
A OMS também apontou baterias às carnes vermelhas e de porco, produção que representa mais de 8% no total da agricultura europeia. Os maiores produtores de carne de bovino são França, Espanha, Reino Unido e Irlanda que, juntos, têm mais de 70% dos animais. Em Portugal, o consumo anual de carne é de cerca de 100 quilos per capita, dos quais 18,5 quilos são de vaca. Quanto à carne de porco, tem vindo a reduzir a produção na ordem dos 10% na UE, numa altura em que o embargo russo a este produto também coloca desafios aos produtores. Por cá, em 2014, a produção aumentou 4,2% atingindo as 382 mil toneladas.
A preocupação com a alimentação tem estado na ordem do dia e os consumidores são cada vez mais sensíveis aos estudos científicos ou opiniões que todos os dias surgem sobre os benefícios (e malefícios) dos alimentos. Para o director-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp) o relatório da OMS “deve ser encarado tranquilamente e sem pânico”. “Tranquilamente, vamos todos, cada um por si como consumidores, estar sempre atentos, mas sem pânico. O relatório da OMS é positivo. É bom que a população esteja sensibilizada, mas sem pânico", declarou à Lusa, sublinhando que o mais importante é o equilíbrio alimentar.