Sobre a noite passada: The Walking Dead matou outra vez?
O PÚBLICO foi às filmagens de série (e à Internet) em busca de explicações para o final do episódio que está a exasperar os espectadores.
É uma história que os espectadores de séries impiedosas conhecem bem: intriga leva a situação desesperada; cliffhanger deixa em suspenso destino de personagem querida mas aponta para uma morte sangrenta; Internet explode; responsáveis da série prestam “esclarecimentos”; fica tudo mais ou menos na mesma. A sexta temporada de The Walking Dead, a série-de-zombies-que-não-é-sobre-zombies, atingiu um novo pico graças a um momento que está a ser equiparado ao final da última temporada de Guerra dos Tronos.
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É uma história que os espectadores de séries impiedosas conhecem bem: intriga leva a situação desesperada; cliffhanger deixa em suspenso destino de personagem querida mas aponta para uma morte sangrenta; Internet explode; responsáveis da série prestam “esclarecimentos”; fica tudo mais ou menos na mesma. A sexta temporada de The Walking Dead, a série-de-zombies-que-não-é-sobre-zombies, atingiu um novo pico graças a um momento que está a ser equiparado ao final da última temporada de Guerra dos Tronos.
Televisão sem misericórdia, portanto. E se não viu o episódio 3 da temporada 6 da série The Walking Dead e não quer ficar a saber pontos importantes da história dos sobreviventes liderados por Rick Grimes, há spoilers daqui em diante. No episódio transmitido pela Fox na noite da passada segunda-feira, e no domingo à noite nos EUA, a vaga de acção iniciada no primeiro capítulo desta temporada continuou a abater-se sobre os grupos que lutam com diferentes ameaças fora e dentro de Alexandria.
Isolados numa manada de walkers, a gíria Walking Dead para os mortos-vivos, as personagens Glenn (Steven Yeun) e Nicholas terminam uma fuga da pior maneira – encurralados, Nicholas suicida-se a tiro, arrastando com ele a personagem que conhecemos desde a primeira temporada, o antigo entregador de pizzas Glenn Rhee, para o chão onde acaba soterrado por centenas de zombies. Grita enquanto vísceras várias são devoradas pelos atacantes. Primeiro nos EUA, depois mundo fora, os espectadores foram para o Twitter e para o Facebook mostrar a sua frustração. “Recuso-me a aceitar que o Glenn tenha morrido!”, escreve Joana Coelho no Twitter. “Hoje é uma daquelas noites onde os fãs de The Walking Dead experimentam o que os fãs de Game of Thrones sofrem toda a temporada”, compara Guilherme Jacobs; “Então… como é que estão todos?”, pergunta a actriz Sonequa Martin-Green, que interpreta Sasha na série.
Vamos até uma casa nas imediações de Alexandria, a vila muralhada que tenta proteger-se dos zombies e dos humanos tão ou mais perigosos do que eles. Rick Grimes, aliás Andrew Lincoln, pinga suor - não há tempo para pausas no apocalipse. “Matamos mesmo personagens amadas, o que parte o coração do público”, dizia Lincoln aos jornalistas em Setembro, falando sobre o rol de nomes que foi desaparecendo do ecrã ao longo destes quase seis anos. “Haverá sangue, há sempre sangue. Vivemos num universo muito perigoso”, riu-se sobre esta temporada.
Os fãs não estão muito sorridentes. Um dos traços de séries como The Walking Dead e a incontornável Guerra dos Tronos (da HBO, que passa em Portugal no canal SyFy e as primeiras temporadas também no TV Séries) é o facto de arriscarem o valor-choque até ao ponto da eliminação de personagens interessantes e pelas quais o público “torce”. Isso e, estreitadas as janelas de exibição com os EUA, manterem-se como experiências audiovisuais colectivas de appointment viewing. “Perdemos personagens muito boas” pelo caminho, diz Andrew Lincoln no mesmo encontro em Setembro. E mesmo para quem está na série desde o primeiro dia, como ele, ou como o produtor executivo e realizador Greg Nicotero, custa. “Tenho uma vantagem: sei para onde vai a história, sei que personagens vão sobreviver e as que não”, diz, noutra casa bem conhecida da série e na Georgia profunda e húmida, Greg Nicotero.
E às vezes tem de gerir essa informação. “É a pior sensação, especialmente porque há alturas em que eu sei antes deles… e às vezes estou nas filmagens a olhar para eles e…”, contrai-se Greg Nicotero, dando o exemplo da morte de Hershel (Scott Wilson), o idoso médico pai de Maggie, a namorada de Glenn (que na temporada passada perdeu também a irmã Beth). “Às vezes estamos numa espécie de negação”.
Negação, ou cortinas de fumo, parece ser a palavra-chave agora para o showrunner da série, Scott Gimple, e para Nicotero. Nas horas após a transmissão do episódio nos EUA, no canal AMC, Nicotero e Gimple vieram a terreiro dar uma ajuda sobre o destino propositadamente dúbio de Glenn. “De alguma maneira, veremos outra vez o Glenn, alguma versão do Glenn, ou partes do Glenn, ou num flashback ou na história actual, para ajudar a completar a história”, disse em comunicado Scott Gimple.
Greg Nicotero falou com a revista Entertainment Weekly horas depois de o episódio ir para o ar e disse: “Parece bastante claro que alguém morreu naquela sequência. A nossa série é dura, meu. As pessoas morrem de formas bastante desavisadas, por isso temos de deixar que os nossos olhos nos digam o que viram”, comparando as dúvidas e a relutância dos espectadores de Guerra dos Tronos em meados de Junho.
Nicotero admite ainda que a cena foi filmada de forma propositadamente ambígua – “adiciona-lhe mistério” -, uma “intenção muito específica” de Gimple para “não necessariamente ser enganadora, mas para ter uma sensação mais realista”. Um desses elementos é a dúvida sobre quem está a ser de facto devorado, Glenn ou o que resta de Nicholas.
Outro produtor, David Alpert, falou com a Variety para dizer que, “independentemente do que aconteceu ao Glenn, ele pagou um preço tremendo por ter sido humano para Nicholas”, personagem que o traiu na temporada passada, “e de um ponto de vista emotivo – quer Glenn esteja vivo ou morto ou outra coisa – o Glenn que conhecíamos, o que acreditava no lado melhor da humanidade, penso que está morto”.
The Walking Dead baseia-se numa longa série de comics de Robert Kirkman, na qual a personagem do rapaz das pizzas já encontrou o seu final. Digam o que disserem, e à semelhança do que se passa com uma personagem central de Guerra dos Tronos, muitos fãs não acreditam – ou não querem acreditar - que Glenn esteja morto. O AMC tem um talk-show, The Talking Dead, em que os actores que perdem a vida na série tradicionalmente vivem o seu epitáfio após o episódio em causa. O actor Steven Yeun não esteve presente. As sondagens nos sites das revistas Variety ou Entertainment Weekly mostram que os seus utilizadores estão maioritariamente (60 a 70% dos inquiridos) do lado “Glenn não morreu”.
O próximo episódio da série será especial, com uma duração de 90 minutos e ao que tudo indica será centrado na personagem de Morgan, que regressou ao convívio de Rick Grimes depois de cinco temporadas de separação. O cliffhanger de Glenn, ou a confirmação sem sombra de dúvidas deste revés na intriga, pode muito bem ficar pendurado mais umas semanas.