DGS atribui surto da bactéria em Gaia ao uso indevido de antibióticos
Bactéria que afecta desde Agosto o Hospital de Gaia já foi identificada em 30 doentes. Francisco George garante que situação está controlada.
Para o director-geral da Saúde, o surto da bactéria multirresistente que está, desde Agosto, a afectar o Hospital de Gaia tem uma explicação: o “uso indevido e inadequado de antibióticos”. Apesar disso, Francisco George garantiu nesta quinta-feira que está “em crer que o problema, que é grave, está controlado”, o que foi possível com as medidas tomadas por aquela unidade hospitalar em articulação com a Direcção-Geral da Saúde (DGS).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Para o director-geral da Saúde, o surto da bactéria multirresistente que está, desde Agosto, a afectar o Hospital de Gaia tem uma explicação: o “uso indevido e inadequado de antibióticos”. Apesar disso, Francisco George garantiu nesta quinta-feira que está “em crer que o problema, que é grave, está controlado”, o que foi possível com as medidas tomadas por aquela unidade hospitalar em articulação com a Direcção-Geral da Saúde (DGS).
Francisco George, que falava em Mirandela, à margem de uma prova pública de alheira, começou por dizer que “esses antibióticos, uma vez indevidamente utilizados, podem dar origem a resistências das bactérias”. O responsável da DGS explicou que “há bactérias que são resistentes e não são inactivadas pelo antibiótico, exactamente por uso indevido”, como, por exemplo, “o excesso de dias de antibioterapia”, a utilização “para tratar erradamente infecções de origem viral, uma vez que os vírus não são sensíveis e não devem ser tratados com antibióticos”.
O director-geral da Saúde lembrou que “há muitos problemas que não dizem só respeito à saúde pública humana mas, também, à veterinária e ao tratamento dos animais”, até porque “as bactérias, uma vez em contacto com os antibióticos, podem desenvolver essas resistências e foi isso que aconteceu em Gaia”. “Há doentes que foram infectados, outros foram colonizados, tidos como portadores de uma bactéria que é especialmente preocupante porque adquiriu resistências. A sua composição genética adquiriu resistências, que são propagadas de geração em geração de bactérias”, explicou o mesmo responsável.
George considerou, ainda, que “é preciso distinguir a infecção provocada pela bactéria resistente de uma outra condição que é a identificação da bactéria em pacientes que não estão doentes devido a esta bactéria”. Depois, assegurou que “foram tomadas medidas de isolamento, pisos evacuados, no sentido de não possibilitarem mais riscos” porque “quem está no hospital não pode ser exposto a riscos evitáveis”.
Desde 7 de Agosto foram identificados no Hospital de Gaia mais de 30 doentes portadores de Klebsiella pneumoniae, uma bactéria multirresistente que terá surgido em consequência do uso de grandes doses de antibióticos. A bactéria é de rápida disseminação, transmite-se pelo toque, sobrevive na pele e no meio ambiente e desconhece-se a sua durabilidade. Até ao momento foram contabilizadas três mortes devido a este problema.
Antes de George, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, Silvério Cordeiro, já tinha garantido à Lusa que a infecção está controlada.
Na quarta-feira, em comunicado, a unidade tinha avançado que suspeita que o surto tenha tido origem numa doente que fez vários ciclos de antibiótico e que partilhou, no dia 29 de Julho, a mesma unidade de pós-operatório com o primeiro paciente infectado. Adiantou também que foram já criados sete quartos de isolamento individual, três enfermarias na área médica e três enfermarias na área cirúrgica. O centro hospitalar respondia desta forma à tomada de posição do presidente do Sindicato dos Enfermeiros, José Azevedo, que na quarta-feira defendeu o encerramento do pavilhão central do hospital, de forma a impedir a disseminação da bactéria.
O coordenador do Programa de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde (DGS) sublinhou ao PÚBLICO que esta resistência da Klebsiella pneumoniae ainda é “rara” em Portugal (1,8%), que está mesmo um pouco abaixo da média europeia e muito longe daquilo que se verifica noutros países, como a Grécia (50%) e a Itália (mais de 30%). Mas José Artur Paiva admite alguma apreensão: “O que nos preocupa é o facto de estarmos a assistir a uma progressão significativa: passamos de 0,3% há três anos, para 0,7% no ano seguinte e 1,8%, no ano passado”.
Recordando que este tipo de resistência já está descrito em Portugal desde 2009, José Artur Paiva sublinha que é necessário usar os antibióticos "com parcimónia", mas lembra que, "mesmo usando bem" este tipo de medicamentos, surgem resistências. Refere o caso do Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) que se encontra numa fase endémica (taxa alta em todo o lado), mas com a boa notícia de Portugal já estar a conseguir reduzir essa resistência nos últimos anos.
Em dois anos, o programa da DGS conseguiu também reduzir em 8% o consumo de antibióticos nos hospitais, mas persistem vários problemas, sobretudo na prescrição feita fora do contexto hospitalar. Portugal continua a figurar na lista dos dez países da União Europeia que mais antibióticos consomem e praticamente 10% dos doentes que são internados ainda contraem uma infecção hospitalar, em média.