Diplomacia tenta apagar o fogo da retórica entre israelitas e palestinianos

Kerry encontrou-se com Netanyahu e diz ter ficado "prudentemente optimista" sobre hipótese de desanuviamento da tensão. Um palestiniano morto após novo ataque em Israel.

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“É absolutamente crucial pôr fim a todo o incitamento, pôr fim a toda a violência", disse Kerry no encontro com Netanyahu Carlo Allegri/Reuters

O fosso que separa israelitas e palestinianos cresceu de tal forma que o reinício das negociações de paz não é agora mais do que uma miragem e a diplomacia concentra-se tão só em impedir que o actual surto de violência se transforme numa guerra aberta. “É absolutamente crucial pôr fim a todo o incitamento, pôr fim a toda a violência e encontrar uma via que permita criar a possibilidade, que não existe hoje, de um processo [de paz] mais abrangente”, pediu o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

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O fosso que separa israelitas e palestinianos cresceu de tal forma que o reinício das negociações de paz não é agora mais do que uma miragem e a diplomacia concentra-se tão só em impedir que o actual surto de violência se transforme numa guerra aberta. “É absolutamente crucial pôr fim a todo o incitamento, pôr fim a toda a violência e encontrar uma via que permita criar a possibilidade, que não existe hoje, de um processo [de paz] mais abrangente”, pediu o secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

A violência em Israel e na Cisjordânia não dá sinais de abrandar. Na manhã desta quinta-feira, dois palestinianos tentaram entrar num autocarro que transportava crianças numa cidade a oeste de Jerusalém e, não o tendo conseguido, esfaquearam um jovem israelita que estava na paragem antes de terem sido alvejados pela polícia. Os dois atacantes eram oriundos da Cisjordânia e um deles acabou por morrer no hospital. Desde o início do mês, oito israelitas morreram e dezenas ficaram feridos em ataques que envolveram armas brancas, uma sequência protagonizada sobretudo por jovens e adolescentes palestinianos – 24 foram mortos pelas forças de segurança. Em simultâneo, multiplicam-se os confrontos entre o Exército e grupos de palestinianos, sobretudo na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que fizeram já 25 mortos, entre eles crianças.

O Governo israelita culpa os líderes palestinianos pela violência, acusando-os de propagarem mentiras sobre a alegada intenção de Israel em alterar o estatuto do Pátio das Mesquitas, lugar sagrado para as três religiões monoteístas em Jerusalém Oriental, sob custódia da Jordânia e onde só os muçulmanos podem rezar. A Autoridade Palestiniana diz que os jovens pegam em facas enfurecidos pela recusa israelita em travar a expansão dos colonatos e com as restrições no acesso ao Pátio das Mesquitas, repudiando as “execuções extrajudiciais” dos atacantes.

“É preciso deixar para trás as condenações, deixar para trás a retórica”, insistiu Kerry, falando aos jornalistas mas dirigindo-se quer ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, com quem se encontrou nesta quinta-feira em Berlim, quer ao presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, com que falará no sábado durante uma visita em Amã.

Acalmar o fogo da retórica é a prioridade mais urgente da ronda diplomática em curso, num momento em que quer o Departamento de Estado norte-americano, quer as Nações Unidas admitem que são quase nulas as hipóteses de reatar as negociações de paz, interrompidas no início de 2014. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, encontrou-se nos últimos dias com os dois líderes e, no relato que apresentou quarta-feira ao Conselho de Segurança, “surpreendeu toda a gente pelo tom pessimista que usou”, contou o embaixador britânico na ONU.  

Kerry disse que a conversa com o primeiro-ministro israelita o deixou “prudentemente optimista” quanto às hipóteses de um desanuviamento. Mas depois de ter deitado lenha na fogueira – ao afirmar que foi o grande mufti de Jerusalém da época quem teria sugerido a Hitler o extermínio dos judeus na Europa –, Netanyahu chegou ao encontro repetindo as acusações à Autoridade Palestiniana. “Não há dúvidas que esta onda de ataques é resultado directo do incitamento. Incitamento da parte do Hamas, dos movimentos islamistas em Israel e, lamento dizê-lo, do presidente Abbas.” Do outro lado, não há também sinais de compromisso. “Nem Abbas nem ninguém podem controlar a situação enquanto Netanyahu continuar a dar aos seus soldados autorização para matar e para intervir no Pátio das Mesquitas”, disse ao jornal israelita Yedioth Ahronoth, Adnan Gaith, chefe do braço armado da Fatah. “Ninguém consegue controlar o que está a acontecer e a situação só vai ficar pior”, avisou.