O novo Bond é cinco estrelas?

Os críticos britânicos já viram o novo filme da saga 007. “Caos que é acção pura”, dizem uns, “dolorosamente cool”, acrescentam outros. Mas houve quem moderasse, e muito, o entusiasmo.

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No regresso de James Bond, os elogios são muitos. E vão, em boa parte, para um Daniel Craig que é capaz de ser, ao mesmo tempo, protagonista de cenas de acção de cortar a respiração e um homem em luta com as suas próprias emoções. As que vêm do passado e as que o presente lhe traz, e que envolvem, por exemplo, a inconvencional viúva de um mafioso.

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No regresso de James Bond, os elogios são muitos. E vão, em boa parte, para um Daniel Craig que é capaz de ser, ao mesmo tempo, protagonista de cenas de acção de cortar a respiração e um homem em luta com as suas próprias emoções. As que vêm do passado e as que o presente lhe traz, e que envolvem, por exemplo, a inconvencional viúva de um mafioso.

É certo que nem todos os que já viram Spectre, o novo filme daquele que é um dos mais bem sucedidos franchises da história do cinema, ficaram absolutamente rendidos, mas muitas das críticas nos jornais britânicos dão-lhe nada mais nada menos do que cinco estrelas.

Os críticos britânicos viram o novo 007 na quarta-feira e puderam constatar, na sua maioria, que o realizador Sam Mendes optou por uma abordagem que não se distancia muito da que usou no filme anterior, Skyfall, que fora também muito bem recebido pelo público e pela crítica. Daniel Craig volta a conquistar, mostrando, uma vez mais, por que razão se lhe atribui o feito de ter revitalizado por completo a figura do agente secreto criado por Ian Fleming, dando-lhe densidade ao mostrar que também ele, e apesar de tudo, é humano.

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Peter Bradshaw, crítico do The Guardian, escreve que em Spectre há um “caos que é acção pura” e dá-lhe as cinco estrelas que merece um filme que é “altamente emocionante”, “espectacular”, “ruidosamente divertido”. E mesmo admitindo que algumas das personagens chegam a ser um pouco “tontas”, como o icónico Q, Bradshaw não abdica de afirmar: “No fim, quase me senti culpado por gostar tanto [do filme] – quase.”

Para o Times este novo 007 é “dolorosamente cool” e, para um dos críticos do jornal The Independent, Spectre pode mesmo causar “crises de masculinidade”, tal é o desempenho de Craig no papel do agente que está sempre ao serviço de sua majestade, mesmo quando para o fazer é preciso quebrar todas as regras e correr todos os riscos. A ironia, o sarcasmo mesmo, atravessa todo o texto de Christopher Hooton, que nem por isso deixa de transparecer a eficácia da “fórmula Bond”: as cenas de acção incríveis do agente que é “f***ing cool”, que não come e tem sempre um guarda-roupa impecável, podiam dar um filme completamente sem interesse, mas Mendes torna-o “elegante e cativante”. “Não invejo o próximo realizador que terá de alcançar o mesmo feito”, conclui.

O seu colega Geoffrey MaCnab dá-lhe quatro estrelas e, lembrando que está cheio de referências a Bonds anteriores, elogia-lhe a produção, o elenco e as sequências de acção: “Até mais de meio, Spectre é do melhor que já se viu num Bond.” “[É um] thriller estrondoso com muito estilo”, diz. O único problema neste novo filme é que, a certa altura, Sam Mendes começa a debater-se com a impossibilidade de conciliar dois objectivos: o de fornecer um “entretenimento eficiente” e o de garantir uma viagem “às emoções e ao passado de James Bond”.

Léa Seydoux (ela é uma das actrizes da Palma de Ouro de Abdellatif Kechiche A Vida de Adèle), no papel da jovem Madeleine Swan, e Monica Bellucci, que em Spectre é Lucia Sciarra, a belíssima (com Bellucci não poderia ser de outra maneira) viúva de um mafioso, dão corpo a um elenco feminino “intrigante”, já que, segundo o crítico do Independent, estas “duas actrizes europeias formidáveis” estão longe de ser as “típicas Bond girls”.

Quando se passa para os tablóides, como o Daily Mirror e o Sun, o que é sublinhado é a qualidade das sequências de acção, sobretudo a de abertura, e o trabalho dos duplos, que é “de fazer cair o queixo”.

O arranque do filme é também motivo de elogio para a revista Variety, embora a sua crítica seja bem menos entusiasta do que as anteriormente referidas. A Hollywood Reporter e a Screen International, uma publicação e um site especializados em cinema, também não ficaram rendidos ao 24.º título da série Bond.

Reconhecendo que tenta “reescrever" um ou outro "mito Bond”, falta a Spectre a capacidade de fazer com que algumas das personagens se transcendam, como a do misterioso Franz Oberhauser, o vilão a que o actor austríaco Christoph Waltz dá corpo e que se revela competente, mas previsível (Variety). “Em resumo, parece um filme menor do que Skyfall, voltando a cair em clichés e convenções”, defende a Hollywood Reporter; um filme que regressa à "fórmula para [nos] dar uma versão ligeiramente chata e antiquada de 007” (Screen International).

No Reino Unido Spectre estreia para a semana, mas a Portugal só chega a 5 de Novembro.