Justin Trudeau andou à deriva mas agora mostrou que sabe nadar

O futuro primeiro-ministro do Canadá vai regressar à casa onde nasceu e cresceu: a residência oficial do chefe de Governo em Otava.

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Justin Trudeu com a famíla durante a noite eleitoral Chris Wattie/reuters

Subestimado, gozado pelos seus adversários por vezes condescendentes, Justin Trudeau surpreendeu tudo e todos ao vencer, aos 43 anos, as legislativas para ser o próximo primeiro-ministro do Canadá, seguindo os passos do seu pai.

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Subestimado, gozado pelos seus adversários por vezes condescendentes, Justin Trudeau surpreendeu tudo e todos ao vencer, aos 43 anos, as legislativas para ser o próximo primeiro-ministro do Canadá, seguindo os passos do seu pai.

Filho do antigo primeiro-ministro, Pierre Elliott Trudeau, Justin conseguiu, dois anos depois de ter tomado as rédeas do partido, vingar a afronta da derrota esmagadora dos liberais nas legislativas  de 2011. Depois de nove anos de poder conservador, o Canadá torna-se Liberal, sob a liderança de um jovem político em quem ninguém apostava no início da longa campanha eleitoral de 78 dias face a dois adversários mais aguerridos, o conservador Stephen Harper e o social-democrata Thomas Mulcair.

“Justin: ainda não está pronto”, proclamava um anúncio de campanha dos conservadores, não encontrando por debaixo dos seus “belos cabelos” nem o estofo nem a experiência para se tornar primeiro-ministro. Resumindo, ele não passava de um filho do papá sem solidez política.

“Aprendi muito cedo na vida a não me deixar afectar por pessoas que me detestam por causa do meu pai”, ódio de estimação dos nacionalistas do Quebeque e das companhias petrolíferas de Alberta, confessou Justin Trudeau numa entrevista recente ao Globe and Mail.

A verdade é que o jovem líder dos liberais fez uma campanha quase sem falhas, brilhou nos debates eleitorais e arrasou quando chegou a hora de defender as suas ideias em termos de política internacional, aspecto qie era tido pelos analistas como o seu ponto mais fraco.

Justin Trudeau fez campanha pela defesa da classe média e afirmou querer melhorar a imagem do Canadá no estrangeiro, apresentando-se como o homem capaz de reunir consensos num país muito polarizado.

Filho de peixe

Justin Trudeau entrou na cena política no dia em nasceu, a 25 de Dezembro de 1971, quando o seu pai estava no poder, tendo tido honras de primeiras páginas dos jornais. Cresceu no nº 24 de Sussex Drive em Otava, a residência oficial do primeiro-ministro, cargo que o seu pai ocupou quase sem interrupções entre 1968 e 1984, e depois em Montreal, para onde o pai se mudou com os seus três filhos depois de se divorciar.

Nos seus 20 anos, diplomado em literatura inglesa e ciências da educação, Justin Trudeau foi um jovem como tantos, à procura de um rumo. Reaproxima-se da mãe, que vive na costa Oeste, trabalha com guia de rafting, monitor de snowbord, empregado de bar, antes de vaguear um pouco pelo mundo.

A morte do irmão mais novo, Michel, numa avalanche de neve em 1998, afecta-o profundamente. Dois anos mais tarde, na vibrante homenagem que fez em Montreal no funeral de Estado do seu pai, na presença de Fidel Castro e Jimmy Carter, mostra uma capacidade oratória que não passou despercebida. Mas resistiu aos apelos de algumas figuras do partido para fazer o salto para a política.

Em 2005 casou-se com uma apresentadora televisiva, Sophie Grégoire, amiga de infância do seu irmão Michel, com quem teve três filhos, dois rapazes e uma rapariga.

Em 2007, lançou-se finalmente na política, para disputar uma circunscrição em Montreal que a direcção do partido lhe recusa. Acaba por se candidatar a um círculo eleitoral vizinho, Papineau, um dos mais pobres e mais multi-étnicos do Canadá. Foi finalmente eleito em 2008 e reeleito nas eleições seguintes.

Em Abril de 2013, chegou a líder de um partido que dois anos antes tinha sido arrasado nas urnas pelos conservadores. De mangas arregaçadas, monta uma eficaz máquina eleitoral e voltou a mobilizar as bases desmoralizadas e descrentes.

Quatro meses depois, reconheceu ter fumado cannabis “umas cinco ou seis vezes”, mas garantiu não ter nenhum tipo de dependência, nem mesmo no que toca ao café. A promessa, essa, ficou feita. Com ele primeiro-ministro, o Canadá vai legalizar o consumo de cannabis.