Inspector de automóveis e dois agentes da PSP suspeitos de corrupção
Em causa está a atribuição de certificados de inspecção a carros que não cumpriam requisitos obrigatórios.
Um inspector de um centro de fiscalização automóvel, em Lisboa, e dois agentes da PSP são suspeitos de envolvimento num esquema de corrupção que permitia atribuir certificados de inspecção a carros que não cumpriam os requisitos obrigatórios. A investigação do caso está a cargo da Divisão de Investigação Criminal da PSP, que na passada terça-feira deteve os três suspeitos.
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Um inspector de um centro de fiscalização automóvel, em Lisboa, e dois agentes da PSP são suspeitos de envolvimento num esquema de corrupção que permitia atribuir certificados de inspecção a carros que não cumpriam os requisitos obrigatórios. A investigação do caso está a cargo da Divisão de Investigação Criminal da PSP, que na passada terça-feira deteve os três suspeitos.
Após o primeiro interrogatório judicial, o inspector de automóveis foi suspenso de funções. Segundo um comunicado divulgado esta segunda-feira no site da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, os três arguidos ficaram proibidos de frequentar centros de inspecção e de contactarem entre si.
Nem a PSP nem o Ministério Público identificaram os centros de inspecção alvo de buscas, mas o PÚBLICO sabe que se tratam de duas unidades da empresa CIMA - Centro de Inspecção Mecânica de Automóveis, uma em Poço do Bispo e outra em Prior Velho. Estes centros fazem parte do grupo Tavfer detentor de mais de três dezenas de centros de inspecção em todo o país. Contactados pelo PÚBLICO, um funcionário do centro de Prior Velho remeteu comentários sobre o caso para a sede do grupo. Contudo, até ao momento não foi possível obter nenhuma reacção.
O inspector suspenso garantiria a aprovação da inspecção dos veículos a troco de contrapartidas que variavam entre os 20 e os 50 euros por viatura. Os polícias, um que trabalha na direcção nacional e outro no comando de Lisboa, serviriam de angariadores, recebendo uma comissão por cada cliente que arranjassem. Os “dois arguidos que são agentes da PSP agiam com elementos de ligação que encaminhavam os interessados para os centros de exame em causa e tomando ulteriores medidas para que não fossem autuados em caso de fiscalização”, lê-se na nota do Ministério Público.
Um deles, precisa-se, ainda recolhia viaturas com anomalias que levava a outro centro de exame, onde supostamente eram resolvidas. Por esta tarefa recebia 75 euros por viatura.
O subcomissário Hugo Abreu, do Comando Metropolitano de Lisboa, adiantou ao PÚBLICO que foi aberto um processos disciplinar aos dois agentes envolvidos neste caso, mas estes mantém-se em funções, já que não foi aplicada qualquer medida cautelar.
Os arguidos estão indiciados pela prática dos crimes de corrupção passiva para acto ilícito, falsificação de documento, abuso de poder e favorecimento pessoal. Segundo a nota, os factos investigados concentram-se entre Junho de 2014 e Outubro de 2015.
O inquérito é dirigido pela 9.ª secção do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa, que delegou a investigação, com cerca de um ano de duração, na PSP. Na passada terça-feira, aquela polícia desencadeou uma operação policial com vista ao cumprimento de sete mandados de busca domiciliária, três mandados de busca em centros de inspecção/oficina automóvel e três mandados de detenção. Os detidos foram ouvidos na 1.ª Secção de Instrução Criminal do Tribunal da Comarca de Lisboa, tendo saído em liberdade.
Recorde-se que em Maio uma outra investigação levada a cabo pela PJ culminou com a detenção de nove inspectores que trabalhavam num centro localizado na zona industrial do Porto, indiciados pelo crime de falsificação de notação técnica. O inquérito terá detectado a existência de veículos que passariam na inspecção sem nunca sequer terem entrado no centro. Tal permitia a circulação de viaturas com anomalias, o que coloca em risco a circulação rodoviária, constatava a PJ.