Cursos técnicos de dois anos atraíram mais 2500 alunos para o ensino superior

Depois de um arranque a meio gás no seu primeiro ano de funcionamento, novas formações começam a chamar a atenção dos estudantes.

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Vagas fixadas nas diferentes instituições de ensino superior estão desfasadas da realidade Daniel Rocha

Mais de 2500 estudantes entraram no ensino superior nas últimas semanas para frequentar um dos novos cursos Técnicos Superiores Profissionais (Tesp), a formação de dois anos introduzida pelo Governo no sector. Trata-se de um crescimento de quase sete vezes da procura, face a um primeiro ano que arrancou a meio gás. Uma oferta alargada e maior divulgação junto dos alunos do secundário, nomeadamente do ensino profissional, ajudam a explicar crescimento.

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Mais de 2500 estudantes entraram no ensino superior nas últimas semanas para frequentar um dos novos cursos Técnicos Superiores Profissionais (Tesp), a formação de dois anos introduzida pelo Governo no sector. Trata-se de um crescimento de quase sete vezes da procura, face a um primeiro ano que arrancou a meio gás. Uma oferta alargada e maior divulgação junto dos alunos do secundário, nomeadamente do ensino profissional, ajudam a explicar crescimento.

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No primeiro ano de actividade dos Tesp apenas funcionaram 13 dos 92 cursos autorizados, tendo-se inscrito 379 alunos. Agora o panorama é bem diferente e, de acordo com dados recolhidos pelo PÚBLICO junto das instituições de ensino superior, estão inscritos, até ao momento, 2546 alunos nos chamados cursos curtos. Este número diz respeito apenas às instituições de ensino superior públicas onde existe esta oferta e pode ainda aumentar, nas próximas semanas, uma vez que há politécnicos onde o processo de inscrição dos alunos está ainda a decorrer.

Os Tesp tiveram um arranque frouxo no ano passado, motivado sobretudo pelos atrasos na aprovação do funcionamento dos cursos por parte da Direcção-Geral do Ensino Superior, o que levou a maior parte das instituições a deixar apenas para 2015-2016 a sua entrada em funcionamento. Este ano o processo de análise das propostas de novas formações começou mais cedo e, antes do Verão, a tutela já tinha dado luz verde às formações que as instituições pretendiam fazer arrancar.

As instituições ganharam assim tempo para fazerem uma maior divulgação da sua oferta. O caso de maior sucesso neste ano lectivo é o do Instituto Politécnico de Leiria, com 841 alunos inscritos em 29 cursos. Ou seja,  cerca de um terço dos inscritos nos Tesp de todo o país estão aqui. O presidente desta instituição, Nuno Mangas, acredita que  o facto de ter sido criada na região uma rede de ensino profissional, junto da qual a instituição de ensino superior pode comunicar a sua oferta de cursos técnicos, foi importante para atrair maior procura.

Estes números, sublinha o mesmo responsável, significam um aumento de 6% na procura face aos anteriores cursos de especialização tecnológica – a anterior oferta técnica no ensino superior, que está a ser extinta. Esta evolução deve-se, para Nuno Mangas, ao facto de os novos cursos serem “mais actuais e atractivos”. O alargamento da oferta – no ano passado havia apenas três cursos Tesp em Leiria teve também impacto nesta evolução.

De resto, esta é uma tendência em todo o ensino superior público, observando-se um processo de quase normalização da oferta, depois do arranque conturbado no ano passado. Até ao momento, há inscritos em quase 160 cursos, um número bem superior aos 13 que abriram no último ano lectivo.

No primeiro ano de funcionamento dos Tesp, o Politécnico do Cávado e Ave tinha sido a única instituição a contrariar a tendência, tendo conseguido atrair praticamente metade dos 379 alunos inscritos em todo o país.  Este ano, é a segunda instituição mais concorrida da rede pública, tendo visto entrar 353 novos alunos este ano lectivo. O Politécnico do Cávado tem 20 turmas em 13 cursos, que funcionam em três locais distintos. Além do campus de Barcelos, onde está sediado o instituto, e do pólo de Braga, foi criado este ano um novo pólo de formação exclusivamente dedicado aos Tesp, no Parque de Ciência e Tecnologia de Guimarães – Avepark.

Propinas entre 500 e 940 euros
Na generalidade das instituições públicas, as propinas dos Tesp cursos rondam os 600 euros anuais. Há apenas dois casos em que os valores são diferentes. Estão nessa situação o Politécnico da Guarda, onde a propina é a maias barata de todos os Tesp, custando 500 euros anuais, e o Politécnico de Leiria, que tem o preço mais elevado, 940 euros anuais – valor que a instituição justifica com a “forte componente aplicada e laboratorial” das formações.

O modelo de funcionamento dos cursos faz com que o panorama de procura seja algo diverso, ainda que a tendência seja de crescimento transversal. Por exemplo, a Universidade dos Açores tem apenas dois Tesp em funcionamento (40 alunos), ao passo que a da Madeira tem quatro. Mesmo assim, as duas instituições conseguiram preencher quase a totalidade das vagas disponíveis – no caso da Madeira, houve 210 candidaturas para 76 lugares. Outras instituições fizeram avançar maior número de cursos e têm, por isso, mais alunos. Acima dos 200 alunos nos Tesp estão os Politécnicos de Santarém (305), Guarda (250) e Porto (220), bem como a Universidade de Aveiro (283).

O aumento da procura “é um excelente sinal”, valoriza o vice-reitor da Universidade de Aveiro, Gonçalo Paiva Dias. O maior número de inscritos, “combinado com o grande interesse das empresas no acolhimento de estagiários destes cursos”, dão à instituição a “certeza que esta foi uma aposta certa”, observa.

O crescimento da procura dos cursos técnicos superior acontece num ano que já tinha sido marcado por um aumento das entradas em licenciaturas e mestrados integrados no ensino superior. No concurso nacional de acesso às instituições públicas foram colocados mais de 50 mil novos estudantes, o número mais alto dos últimos anos. A tendência positiva no número de alunos inscritos verificou-se também no sector privado, onde, em alguns casos, esse crescimento chegou aos 30%.

O modelo de funcionamento dos Tesp é diferente das licenciaturas. Por um lado, os estudantes candidatam-se individualmente junto da instituição de ensino superior a que querem concorrer. Como consequência, não existe informação centralizada acerca do número de candidatos ou inscritos. Por outro lado, nem todos os cursos com autorização de funcionamento vão, necessariamente, receber alunos. Formalmente, há 373 Tesp em instituições públicas às quais a Direcção-Geral do Ensino Superior deu autorização de abertura, mas só 158 têm alunos este ano. A estes juntam-se 117 cursos registados no sector privado. Somadas, estas formações têm lugar para mais de 15 mil estudantes. No entanto, as instituições têm optado por abrir apenas um conjunto mais limitado de cursos e, em alguns casos, acabam por abdicar do seu funcionamento quando não há procura suficiente.

Estes cursos foram uma novidade introduzida no ano passado, pelo Governo no ensino superior e funcionam no ensino politécnico – ou em universidades que têm escolas politécnicas nelas integradas. Além de Aveiro, é o caso do Algarve. Duram quatro semestres lectivos e conferem uma qualificação de nível 5 do quadro nacional de qualificações, juntando uma componente de formação geral e científica, uma de formação técnica e outra de formação em contexto de trabalho, através de um estágio com uma duração não inferior a um semestre. A intenção do Ministério da Educação é que, a médio prazo, possam absorver cerca de 10 mil alunos em cada ano lectivo. 

O vice-reitor da Universidade de Aveiro acredita que o impacto destes cursos no país começará a sentir-se, a partir de Julho do próximo ano, quando os primeiros alunos estiverem diplomados, depois de concluídos os estágios nas empresas. Para o vice-presidente do Politécnico do Porto será, no entanto, necessário esperar um pouco mais para perceber as consequências desta nova oferta para o ensino superior. “No prazo de três anos, parece-nos que será possível fazer uma primeira avaliação mais séria sobre a sustentabilidade desta oferta formativa e sobre a possibilidade de os seus primeiros diplomados encontrarem empregos compatíveis com a sua formação”, defende António Marques.