No Egipto, umas legislativas para reforçar o poder de Sissi

Sem candidatos da oposição, a votação decorre num clima de quase-indiferença.

Foto
“Os egípcios perderam todo o interesse por este escrutínio”, diz o politólogo Hazem Hosny, MOHAMED EL-SHAHED/AFP

Os egipcíos começaram a votar neste domingo para eleger um Parlamento que vai reforçar o poder absoluto do Presidente Abdel Fattah al-Sissi, dada a total ausência de uma oposição que foi violentamente reprimida depois da destituição do seu antecessor, o islamista Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, há mais de dois anos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os egipcíos começaram a votar neste domingo para eleger um Parlamento que vai reforçar o poder absoluto do Presidente Abdel Fattah al-Sissi, dada a total ausência de uma oposição que foi violentamente reprimida depois da destituição do seu antecessor, o islamista Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, há mais de dois anos.

O único desafio deste escrutínio, que se vai arrastar ao longo de um mês e meio, será o nível da participação eleitoral. Segundo os analistas, a maior ou menor abstenção permitirá saber se a grande popularidade, o quase culto da personalidade, de que goza o ex-chefe do Exército vai ser confirmada nas urnas.

“Este vai ser o Parlamento do Presidente”, diz, sem ambiguidade, Hazem Hosny, professor de ciências políticas da Universidade do Cairo.

Depois de ter erradicado da cena política a Irmandade Muçulmana, principal força da oposição ao diferentes poderes saídos do Exército ao longo de mais de 80 anos, o novo regime proíbe e reprime violentamente todas as manifestação da oposição laica e liberal, tento ordenado a prisão das principais figuras da juventude que liderou a revolta que em 2011 levou à queda de Hosni Mubarak.

Daí que, na ausência da oposição (interdita, reprimida ou com medo de represálias), nos boletins de voto só existam nomes de candidatos que apoiam Sissi.

As legislativas, as primeiras desde a dissolução em Junho de 2012 do Parlamento dominado pela Irmandade Muçulmana, acontecem num clima de quase-indiferença, com uma maioria dos egípcios aliviados por o país voltar a ser governado por “um homem forte” depois dos três anos de caos após a revolução.

“Os egípcios perderam todo o interesse por este escrutínio”, diz o politólogo Hazem Hosny, que prevê uma taxa de abstenção elevada.

“Ninguém conhece os candidatos”, queixa-se Islam Ahmed, um contabilista de 32 anos, que passa à frente da assembleia de voto de Haram. Ele não vai votar e explica porquê: “Este Parlamento vai ser fraco e inútil, só serve para dizer que fizemos umas legislativas.”

Quem votou foi Bouthaina Shehata, um homem de 66 anos: “Sissi é a nossa alma, a nossa luz. Sem ele, seríamos todos migrantes como aqueles dos países à nossa volta.”

A votação, para eleger 596 deputados, começa neste domingo e segunda-feira em 14 das 27 províncias do país. A segunda etapa, nas restantes 13 províncias realiza-se a 22 e 23 de Novembro. Uma segunda volta está prevista para os dias 31 de Novembro, 1 e 2 de Dezembro e os resultados serão conhecidos dois dias depois.