Nas legislativas espanholas, todos querem ser amigos de Albert Rivera

A batalha eleitoral vai jogar-se ao centro, com um desvio para a esquerda. Ou seja, o Cidadãos é o partido-chave da próxima votação, definindo-se como centrista e capaz de fazer alianças com PP e PSOE. O Podemos perdeu gás.

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Albert Rivera, líder do Cidadãos, o único político que não gera reacções negativas entre os espanhóis Susana Vera/Reuters

Com as eleições legislativas de 20 de Dezembro, a política espanhola vai dar um salto geracional. Com o Partido Popular (PP) enfraquecido e no qual todos apostam como o grande perdedor, os novos protagonistas nasceram todos na década de 1970 e vêm à conquista de um espaço no centro e na esquerda da sociedade espanhola. Albert Rivera, o líder do novo partido Cidadãos, o único político que não gera reacções negativas entre os espanhóis, é o homem que todos querem do seu lado.

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Com as eleições legislativas de 20 de Dezembro, a política espanhola vai dar um salto geracional. Com o Partido Popular (PP) enfraquecido e no qual todos apostam como o grande perdedor, os novos protagonistas nasceram todos na década de 1970 e vêm à conquista de um espaço no centro e na esquerda da sociedade espanhola. Albert Rivera, o líder do novo partido Cidadãos, o único político que não gera reacções negativas entre os espanhóis, é o homem que todos querem do seu lado.

Rivera, de 35 anos, enfrenta esta noite Pablo Iglésias, de 35 anos, o líder do Podemos, um partido assumidamente de esquerda, mas também novo – surgiu no início de 2014 para disputar as eleições europeias desse ano – num debate televisivo a dois na televisão La Sexta. É uma oportunidade para ver os dois líderes da nova geração de políticos espanhóis em confronto de ideias, num momento em que ambos reivindicam a realização de debates na televisão a quatro – com o PP e com os socialistas do PSOE – para as legislativas. Para que os eleitores confrontem os candidatos de um sistema de deixou de ser bipartidário e se tornou verdadeiramente multipartidário.

Durante muito tempo o PP e o PSOE alternaram no poder. Mas as últimas sondagens dizem que não continuará a ser assim. Um estudo Metroscopia feito para o jornal El País, publicado há uma semana, dá o PSOE e o PP empatados (23,5% para o primeiro e 23,4% para o segundo), 21,5% para o Cidadãos, 14,1% para o Podemos e 5,6% para a Esquerda Unida.

Para o Cidadãos, é uma subida espectacular em relação a Janeiro, quando tinham apenas 8%. Para o Podemos, é um trambolhão, porque em Janeiro tinham 28%. Para os tradicionais PP e PSOE, é um problema, porque percebem que terão de fazer acordos pós-eleitorais com estes dois partidos para chegarem ao governo.

Adolfo Suaréz é referência
“É quase certo que o Cidadãos deslocará o PP para a direita, instalando-se no espaço do centro que este ocupava. O Podemos, por seu lado, que não pode deixar para trás a sua imagem de partido de esquerda, e relegará o PSOE mais para o centro, com o inconveniente de que aí já o espera o Cidadãos”, sintetiza no El País o politólogo Fernando Vallespín, da Universidade Complutense de Madrid.

“Para além da interessante batalha que se disputará na esquerda”, diz ainda Vallespín, “a mais fascinante será a que se vai travar na centralidade do espectro politico. E aí o Cidadãos é o pior pesadelo dos partidos tradicionais.”

Albert Rivera, jovem, bem-parecido, com ar de modelo, está a construir um imaginário ideológico para o seu partido que tem como referência o centro – e Adolfo Suaréz, “o presidente do Governo dos compromissos”, como é definido pelo Cidadãos.

Suárez será mesmo tomado como o referente para uma série de actos: por exemplo, a 1 de Novembro, a comissão executiva do partido reúne-se em Ávila, a província em que nasceu e foi enterrado este governante da Transição espanhola que conseguiu sentar à mesa de negociações políticos de ideologias que pareciam irreconciliáveis. E para reforçar a ideia de solidez do seu projecto, Rivera rodear-se-á na quinta-feira de dirigentes do grupo do Parlamento Europeu Liberais e Democratas, que governa em sete países da UE, diz o jornal espanhol ABC, para apresentar o seu programa internacional.

Mostrar-se como um partido com um projecto sólido, centrista e pronto a governar é a ideia de Rivera. Afinal, os espanhóis são, como povo, essencialmente centristas, dizem os sociólogos: “Desde 1997, na escala 0-10, a maioria das pessoas situa-se no 5. Nos extremos não há ninguém. Quando se faz a média, sistematicamente está entre 4,7 e 4,9. É um centro ligeiramente deslocado para a esquerda. O que não impede que em determinados momentos as pessoas votem PP, que percebem como um 6”, disse ao El País José Juan Toharia, presidente da empresa de sondagens Metroscopia.

Podemos repensa-se
O Podemos sofreu um forte revés nas eleições autonómicas da Catalunha, em que concorreu integrado na plataforma Catalonia si que es Pot, com a presidente da câmara Ada Colau (ficou com 11 deputados, tantos como o PP), e em resultado disso demitiu-se a direcção catalã. Agora, o Podemos procura um plano para recuperar o terreno perdido a tempo das eleições de 20 de Dezembro – só que desta vez, não é de Iglésias que todos falam.

No jogo das alianças pós-eleitorais, aquele em que todos pensam é em Rivera, que já fez acordos para viabilizar governos locais tanto com o PP como o PSOE. Os analistas – e os partidos – apostam mais na sua proximidade aos socialistas, até porque no PSOE tem um líder, Pedro Sanchez, mais próximo da sua geração (nasceu em 1972) e da sua forma de fazer política, do que Mariano Rajoy (1955). E os líderes do PP que negociaram com Rivera para tentar obter o seu apoio para fazer passar o seu orçamento local ou regional – Madrid, Castela e Leão, La Rioja e Múrcia – já avisaram Rajoy, diz o El País: Rivera prefere Pedro Sanchez.

Susana Díaz, a líder socialista da Junta da Andaluzia, que fez um acordo com o Cidadãos para sustentar a sua liderança, disse há dias que pacto que fez “mostra o caminho para o país”. Rivera, no entanto, recusa abrir o jogo, como um jogador de poker. “Quem quiser extrapolar a partir daí, equivoca-se profundamente”, afirmou numa entrevista

O Podemos só prevê entrar no jogo dos pactos pós-eleitorais se tiver mais votos que o PSOE. “A forma como concebemos um acordo de governo com o PSOE é o Podemos obter melhores resultados que o PSOE”, afirmou Carolina Bescansa, co-fundadora do partido e especialista em estudos de opinião, e agora responsável pela elaboração do programa eleitoral. Mas, pelo que se pode ver na pré-campanha, isso só acontecerá se o Podemos conseguir de facto uma ideia fabulosa para uma grande reviravolta, conquistando votos aos próprios socialistas. “Creio que é fundamental que os socialistas entendem que o voto útil é no Podemos”, afirmou Pablo Iglésias.

Se isso não acontecer, tudo volta a Rivera, o homem mais desejado das eleições legislativas espanholas de 2015. O desafio que tem pela frente é suscitar confiança aos eleitores espanhóis de que cuidará bem dos votos que lhe derem, mantendo a ambiguidade da sua política centrista.