Os católicos não têm partido?

O candidato à Presidência Edgar Silva falou sobre o seu passado religioso e referiu que “os católicos não têm um partido”. Será verdade?

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Edgar Silva, na apresentação da sua candidatura à Presidência da República Daniel Rocha

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O contexto

Edgar Silva, 53 anos, licenciado em Teologia e antigo padre madeirense, é o candidato apoiado pelo Partido Comunista às eleições Presidenciais de 2016. Nesta quinta-feira, na apresentação da candidatura no Hotel Altis, em Lisboa, o responsável pelo PCP/Madeira discutiu os limites e princípios de um Estado laico, defendendo que um Presidente da República não se deveria “imiscuir” na vida da Igreja ou nas declarações de responsáveis religiosos. Deu quase a mesma justificação quando perguntado sobre se estaria mais bem posicionado para o exercício do cargo de Chefe de Estado devido à sua experiência como padre. “Os católicos não têm partido, não há uma fronteira até onde podem ir”, mas realçou que essa “aprendizagem e trajectória de vida assente nos valores da solidariedade e da protecção dos mais fracos e pobres” lhe deu uma grande base de vida.

Os factos

Para esta Prova dos Factos socorremo-nos de dois estudos extensivos sobre a realidade social e religiosa de Portugal e relação partidária: “Identidades religiosas em Portugal: Representações, valores e práticas” (2012), relatório apresentado na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa por Alfredo Teixeira, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica e doutorado em Antropologia Política; e “Identificação Partidária e Comportamento Eleitoral – Factores estruturais, atitudes e mudanças no sentido de voto” (2008), dissertação de doutoramento de Rui Jorge Antunes em Psicologia Social pela Universidade de Coimbra.

Estes estudos permitem-nos tirar algumas conclusões: Portugal continua a ser um país vincadamente católico, mas pode observar-se um decréscimo relativo da população que se declara crente, de 86,9% em 1999 para 79,5% em 2011. A região de Lisboa e Vale do Tejo é aquela que apresenta maior diversidade quanto aos credos religiosos, mas também em relação aos não-crentes, sendo que 16,1% da população afirma não acreditar em nenhuma vertente religiosa e somente 68% diz ser católica. O Norte é o grande bastião católico de Portugal, com quase 90% da população ligada à Igreja, seguido da região Centro, que acumula 87,5% de católicos. Bastante mais baixa é a percentagem de católicos no Alentejo, com 76%, mas ainda longe do recorde algarvio de apenas 59,5%. Alfredo Teixeira diz-nos ainda que o ambiente rural é mais propício ao catolicismo. Estes dados, em conjunto com os resultados das eleições legislativas de 2015, que nos dizem que a direita é mais forte no Norte do país, enquanto o Sul é dominado pelos partidos de esquerda, permite fazer um inferência tosca de que o voto católico poderá estar relacionado com o voto à direita.

Esta possibilidade é confirmada por Rui Jorge Antunes, pois na amostra estudada na sua tese de doutoramento os dados são claros: apenas 21% dos inquiridos que afirmavam votar no Partido Comunista e 24% das pessoas que se associavam ao BE eram religiosas, em contraste com os 62,7% do PS, 78,2% do PSD e 80,4% do CDS-PP.

Em resumo

De certeza que haverá comunistas católicos (embora o comunismo negue a religião) e sociais-democratas ou eleitores do CDS que são ateus, mas esse não parece ser o caso comum da maior parte dos eleitores portugueses, pelo menos nos estudos de Rui Jorge Antunes e Alfredo Teixeira. 

A frase “os católicos não têm um partido” pode ter várias leituras. Contudo, face aos estudos enunciados, poderemos dizer que os católicos portugueses votam maioritariamente PSD e CDS, além de que os comunistas (mais concentrados no Sul do país) têm uma clara tradição ateia.

Texto editado por Bárbara Wong

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