Jerónimo e Catarina admitem que negociações com PS são "complexas" mas estão bem encaminhadas
Líderes do Bloco de Esquerda e do PCP reuniram-se para afinar estratégia nas conversas com os socialistas – mas nenhum respondeu qual o período temporal para que estão a negociar.
“As negociações fazem-se à mesa.” Esta foi uma das frases que a porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, mais repetiu à comunicação social, depois do encontro que teve nesta sexta-feira com o PCP. Isso e as três bandeiras das quais não abre mão nas negociações em curso: pensões, emprego e salários.
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“As negociações fazem-se à mesa.” Esta foi uma das frases que a porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, mais repetiu à comunicação social, depois do encontro que teve nesta sexta-feira com o PCP. Isso e as três bandeiras das quais não abre mão nas negociações em curso: pensões, emprego e salários.
Da convergência que possa ou não vir a ser atingida quanto aos três temas está também dependente a estabilidade de um futuro governo à esquerda liderado pelo PS, disse a bloquista. O líder comunista, Jerónimo de Sousa, também frisou que, embora ainda não haja um acordo, o PCP continua “firme” em rejeitar um governo de direita.
Os jornalistas insistiram sobre o alcance temporal do acordo que está a ser negociado – se é para quatro anos, o tempo da legislatura, ou apenas para o próximo Orçamento do Estado. As respostas, contudo, não foram directas.
“A estabilidade passa por um processo de convergência entre forças políticas diferentes, que estão empenhadas, e que tem de ser liderado pelo PS, porque teve mais votos e é o único em condições de formar governo. O BE não deixa de fazer propostas concretas”, respondeu a porta-voz bloquista. Reconheceu que “é um processo necessariamente complexo, mas que está bem encaminhado” e que “nada dará mais estabilidade ao país” do que a defesa dos salários, das pensões e do emprego. Garantidas estas três questões, o BE não faltará a essa estabilidade, explicou.
Catarina Martins reiterou que o BE viabilizará um governo do PS, mas que ainda decorrem as conversações para “tentar perceber pontos de convergência”. O objectivo é que um eventual executivo à esquerda tenha “políticas de facto diferentes” das que a maioria de direita concretizou nos últimos quatro anos. Quanto aos três temas-chave do Bloco, Catarina Martins admitiu que “há possibilidade de convergência” com o PS; já que no que toca ao PCP, há “convergências muito relevantes”.
Aqueles continuam a ser os três temas que o Bloco coloca em cima da mesa, e não a renegociação da dívida. Isso não significa, porém, que os bloquistas não a defendam. Catarina Martins salientou que “a dívida pública é muito alta em Portugal, tem de ser tratada” e essa é uma questão com a qual o país “será sempre confrontado mais tarde ou mais cedo”.
Apesar de ainda não haver acordo, Catarina Martins reconhece que “o país tem pressa” e garante que o BE está “empenhado” e a trabalhar “com muita determinação”. Mesmo sem acordo ainda e, por isso, sem possibilidade de se comprometerem ou não para os próximos quatro anos, a porta-voz reconhece que “este é também o momento para se começarem a concretizar compromissos”.
E mais uma vez reiterou a “certeza de que Portugal tem condições para ter um governo diferente”. No que respeita ao Bloco, os líderes da coligação Portugal à Frente, Passos Coelho e Paulo Portas, não serão governo, garantiu.
Políticas, não lugares ou “privilégios”
Já o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, voltou a reafirmar que o PCP apresentará uma moção de rejeição a um governo de direita e, apesar de empenhado numa solução à esquerda, não é o poder que move os comunistas, ou seja, não andam “atrás de lugares ou qualquer privilégio” no caso de um eventual governo do PS. “O PCP está genuinamente empenhado no diálogo”, disse o líder comunista, defendendo que há condições para um governo PS, sejam quais forem as “manobras” que o Presidente da República possa fazer.
Para os comunistas o que está em causa é a defesa de políticas de promoção do trabalho, do emprego, o aumento do salário mínimo nacional, o alívio de alguma carga fiscal, entre outras medidas enunciadas pelo secretário-geral, que se referiu também à “indispensável renegociação da dívida”.
Também Jerónimo de Sousa recusou dizer se o acordo em causa é ou não para quatro anos, tal como Catarina Martins. Até porque ele ainda não existe. “Como podemos responder a uma coisa que não existe?”, questionou, garantindo que as conversas prosseguem. No meio da confusão das questões dos jornalistas sobre a estabilidade do governo, Jerónimo de Sousa ainda desabafou antes de sair da sala: os comunistas estão “a pensar mais na estabilidade da vida dos portugueses do que governativa”.