Virginie leva um pouco de África através da moda
Os padrões e cores dos tecidos africanos foram a inspiração para esta família criar uma linha de roupa. A Virginie está no mercado há poucos meses, apostando na venda online, mas quer ganhar asas e voar, levando um pouco de África para o resto do mundo
Diogo Mendes é mais um jovem que, devido à situação económica de Portugal, partiu à procura de uma nova oportunidade. A influência da cultura e dos costumes de Angola, onde esteve emigrado, fez com que a vontade de criar um projecto de moda crescesse ainda mais. Um desejo que se materializou na Virginie, marca de roupa que criou há poucos meses com os pais, detentores de uma larga experiência na indústria têxtil.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Diogo Mendes é mais um jovem que, devido à situação económica de Portugal, partiu à procura de uma nova oportunidade. A influência da cultura e dos costumes de Angola, onde esteve emigrado, fez com que a vontade de criar um projecto de moda crescesse ainda mais. Um desejo que se materializou na Virginie, marca de roupa que criou há poucos meses com os pais, detentores de uma larga experiência na indústria têxtil.
Foi um processo longo para chegar até aqui, até pôr no mercado t-shirts, calças, casacos de padrões garridos que respiram influências angolanas. Depois da licenciatura em Luz, Som e Efeitos Cénicos na Academia Contemporânea do Espectáculo, no Porto, o jovem barcelense até teve alguns trabalhos na área, mas já há muito tempo que estava decidido a emigrar. Angola era a opção mais cativante, uma porta aberta para uma oportunidade de negócio. Assim foi. Durante uma semana, o pai esteve com ele no país para o ajudar a adaptar-se; ao fim de sete dias, já tinham uma empresa têxtil criada, um primeiro passo para o que aí vinha.
Em Angola, Diogo apaixonou-se pela cultura do povo africano, nomeadamente pelo padrão samakaka, um tecido com figuras geométricas amarelas e vermelhas, divididas com linhas pretas e brancas. “Quando saía de casa, só via angolanos a usar aqueles tecidos", conta, em entrevista ao P3. "No meio da poeira e dos tons cinzentos característicos de Luanda, o que mais se destacava eram as cores daqueles panos, que eram usados como avental, para se sentar, andar com os filhos às costas, para tudo.”
"Cresci no meio dos farrapos"
A paixão pelo mundo da moda já vinha detrás. Cresceu com ele — os pais trabalham na indústria têxtil há mais de 20 anos. "Posso dizer que cresci no meio dos farrapos", graceja, recordando-se das idas frequentes a feiras com os pais. Decidiu, por isso, enviar-lhes algumas amostras de tecido com o padrão samakaka, com o objectivo de criar peças de roupa fáceis de utilizar no dia-a-dia. No entanto, devido à fraca qualidade dos panos, demasiado grossos e rijos, a ideia parecia não estar destinada ao sucesso. Diogo não desistiu: pediu aos pais que colocassem esse mesmo estampado e cores mas num tecido de boa qualidade.
Os pais do jovem assim fizeram. Criaram algumas peças básicas, como "leggings" e t-shirts sem bolsos ou fechos. O processo era simples: fabrico feito em Portugal, comercialização em Angola, por Diogo. “Correu muito bem: em tempo recorde vendemos 10 mil peças”, conta ao P3. “A roupa voou e os angolanos adoraram! Não apenas por estarem familiarizados com o padrão, mas também por causa do tecido de alta qualidade, bem estampado e com cores que não desbotam.”
Contudo, Diogo não esteve em África por muito tempo. A experiência demorou cerca de dois anos. Em Abril de 2014 regressou: "Angola ou se ama ou se odeia, não me consegui adaptar." Durante um ano esteve sem rumo. Chegou a trabalhar na área em que estudou mas não se sentia realizado. O bichinho da moda continuava lá. Por isso, decidiu, juntamente com os pais, ressuscitar o conceito das roupas com o padrão samakaka e desenhar uma colecção mais elaborada. Num mês, a família Mendes idealizou todas as peças, estampou as malhas, produziu a roupa. Da noite para o dia, uma pequena cave transformou-se num atelier e nascia, oficialmente, a Virginie, um nome muito simbólico para a família.
“Quando os meus pais se juntaram, quiseram criar uma marca de roupa e chamaram-lhe Virginie, o nome de uma irmã desaparecida do meu pai. Começaram a vender com esse nome nas feiras, no mesmo sítio onde conheceram importantes clientes", conta o jovem empreendedor, hoje com 25 anos. No entanto, com o passar do tempo, e à medida que o negócio corria cada vez melhor, acabaram por deixar a própria marca para trás. Esta foi então a oportunidade perfeita para "repescar" o nome. Até porque na altura a palavra Virginie deu sorte, logo, vinte anos depois, o mesmo pode acontecer.
Aliar experiência à inovação
A Virginie, criada no fim de Junho, alia então o “know-how” dos fabricantes com mais de 20 anos de experiência ao bom gosto e ideias frescas de Diogo. Em Angola, a marca tem um distribuidor oficial, pois a venda "é quase garantida". EUA, Brasil e outros países africanos são outros potenciais destinos, bem como Berlim, onde, diz o jovem, há uma grande paixão pela moda africana. Lojas físicas em Portugal não são, para já, uma aposta, até porque a família acredita que a Internet é o "futuro". Por isso, criaram uma loja online onde a roupa é vendida para todos os países.
O objectivo principal da Virginie é identificar as necessidades do mercado e aproveitar essas falhas na indústria têxtil para produzir o que os consumidores mais procuram. Começaram por criar peças com o padrão samakaka, mas as ideias para novas colecções já têm outros padrões e estampados. À parte desta linha, mas ainda associada à marca, está a ser idealizada uma colecção “plus size” porque, na opinião da família, a roupa com “números grandes” ainda é uma falha no mercado. É certo que a ideia de criar roupa "comercial" com padrões africanos pode não ser totalmente inovadora, mas Diogo acredita que a Virginie se pode distinguir pela qualidade e pelos preços acessíveis.
Mais de 110 mil portugueses emigraram em 2014, segundo uma estatística do Observatório da Emigração. Para combater o desemprego, Diogo acredita que é preciso deixar de ter uma atitude derrotista e procurar novos conceitos e ideias inovadoras. Foi o que fez. “O maior obstáculo somos nós mesmos.”