Portugal – uma democracia ao contrário

Agora que a democracia em Portugal se agita em novidade é que parece ser importante explicar o que consta dos programas eleitorais dos vários partidos. Tudo isto é estranho e bizarro

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Daniel Rocha

Portugal tem uma democracia muito estranha. Tivemos uma campanha eleitoral cheia de polémicas e imensos factos políticos (ou não) mas só agora surgem as discussões políticas a sério.

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Portugal tem uma democracia muito estranha. Tivemos uma campanha eleitoral cheia de polémicas e imensos factos políticos (ou não) mas só agora surgem as discussões políticas a sério.

Entre arruadas, espectáculos montados pela propaganda, marketing eleitoral e candidatos mediatizados pelo brilho artificial das luzes dos média, quase nunca se falou dos conteúdos. Até se deu tempo de antena ao penteado da Catarina, às confissões familiares chorosas do Paulo, à calvície do Pedro, à ascendência étnica do António e às rugas do Jerónimo. Os outros nem a essas irrelevâncias políticas tiveram direito.

Agora que a democracia em Portugal se agita em novidade é que parece ser importante analisar e explicar o que consta dos programas eleitorais dos vários partidos. A permanência no Euro, a NATO, o Estado Social ou Estado Mínimo, a laicidade, as novas liberdades individuais e direitos que se querem conquistar. Só agora surgem as supostas análises sérias e informativas. Tudo isto é estranho e bizarro.

Para espanto geral, até de ideologias e valores orientadores partidários se fala. Voltamos aos marxismos, leninismos, estalinismos, trotskismos, bernsteinismos, liberalismos e todos os “ismos” que andavam ocultos mas existiam nos programas eleitorais de todos os partidos. Saem peças informativas, ora escritas ora televisivas, a tentar explicar às massas quais os efeitos dos votos que depositaram na urna, especialmente alertando para os perigos à Esquerda. Essa informação é útil e pertinente porque já tardava, mas o liberalismo de Direita deveria merecer também o mesmo escrutínio racional. A isenção a isso obriga. Alguém uma vez disse: “Quem diz que não existem ideologias é porque é de direita”.

Finalmente os média parecem querer formar cidadãos e não consumidores. Como diz José Gil, “quem não aparece na televisão não existe publicamente em Portugal”. Será que o aparecer dos conteúdos políticos na televisão deixará os cidadãos mais informados e a sociedade civil mais forte? Será que a partir de agora em diante estamos preparados para ir votar, uma vez que finalmente começamos a ser informados sobre o que realmente importa em política?