PS: ontem, hoje e amanhã
Os eleitores que confiaram no PS não perdoarão uma troca dos seus votos por cargos de poder.
Por isso, num momento de intenso debate em torno da formação de um Governo saído das eleições legislativas de 4 de Outubro, vale a pena lembrar como o PS se afirmou sempre como um partido de projeto com uma visão forte para Portugal. E como, tal como no passado, o PS precisa de voltar a ter um posicionamento claro e uma visão mobilizadora no sistema político e na sociedade.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Por isso, num momento de intenso debate em torno da formação de um Governo saído das eleições legislativas de 4 de Outubro, vale a pena lembrar como o PS se afirmou sempre como um partido de projeto com uma visão forte para Portugal. E como, tal como no passado, o PS precisa de voltar a ter um posicionamento claro e uma visão mobilizadora no sistema político e na sociedade.
Nos 41 anos de democracia, o PS liderou três ciclos longos de poder em nome de três grandes bandeiras que transformaram por completo a sociedade portuguesa.
O primeiro ciclo, tendo Mário Soares como grande referência política, foi desenvolvido em torno da defesa da consolidação da liberdade conquistada na Revolução de 25 de Abril de 1974 e da Integração Europeia. Sob a bandeira da “Europa Connosco” o PS impulsionou o modelo de democracia pluralista e liderou a transformação económica e social do país, com iniciativas históricas no plano do direito à educação, à saúde e à segurança social. Liderou a adaptação da Constituição da República aos critérios europeus e ousou avançar para a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE).
O segundo grande ciclo, sob comando de António Guterres e o mote da “Paixão pela Educação", foi marcado pelo combate às desigualdades. Foi um tempo de forte investimento na escola pública e no Serviço Nacional de Saúde, no ensino pré-escolar. E, também, na melhoria e extensão dos serviços públicos de proximidade a todo o território nacional.
No terceiro grande ciclo, sob a liderança de José Sócrates e a bandeira das “Novas Fronteiras”, Portugal reforçou o investimento na educação e na ciência e a aposta na modernização de infraestruturas. Em particular, das infraestruturas digitais, levando a banda larga a todo o território, disponibilizando computadores a jovens estudantes, simplificando o acesso de todos os cidadãos aos serviços públicos, à tecnologia e ao conhecimento.
Na era democrática, o posicionamento político do PS tem oscilado entre duas escolhas: a vontade nobre de se afirmar como a casa comum da esquerda ou a pulsão alternativa de se afirmar como o grande partido da modernidade.
A realidade mostra que sempre que o PS tentou ser a casa comum da esquerda perdeu eleições e que sempre que assumiu bandeiras mobilizadoras de modernidade as ganhou. Nestes 40 anos, os portugueses foram claros em dizer o que querem do PS.
As legislativas de 2015 foram atípicas. O PS não clarificou a escolha e não conseguiu afirmar nenhuma bandeira mobilizadora. Os resultados obtidos, abaixo dos objetivos e das expetativas legítimas face aos últimos quatro anos de profundo retrocesso económico e social, refletem essa incapacidade de definição clara de uma alternativa estratégica.
Tendo presentes as lições da sua riquíssima história, o PS deve definir soluções para o curto prazo, mas também assumir um claro posicionamento estrutural no sistema político português.
No imediato, a prioridade do PS deve ser demonstrar competência na representação dos mais de 1,7 milhões de votos recebidos. Os eleitores que confiaram no PS não perdoarão uma troca dos seus votos por cargos de poder. Esperarão, antes, o uso desses votos para concretizar melhorias concretas na vida do país e nas suas vidas. Deve ser essa a linha condutora das negociações em curso. A solução terá de ser muito clara na demonstração de que será aquela que melhor salvaguarda o mandato sufragado pelos eleitores do PS.
No congresso a realizar após as eleições presidenciais terá que ser feita uma outra escolha. Quererá o PS amarrar-se às categorias políticas tradicionais e ser o líder da casa comum das esquerdas ou ousará assumir-se como o grande partido progressista do sistema político português? Ousará o PS conjugar causas históricas como o acesso à educação, à saúde, à segurança social, o direito a uma vida digna, com a defesa das grandes causas modernizadoras e globais que emergem, por exemplo, da revolução digital, das alterações climáticas, do agravamento das desigualdades e da aceleração dos fluxos migratórios?
Bater-me-ei pela segunda destas opções, com a convicção que resulta da minha análise e experiência de trabalho técnico e político em áreas de fronteira na mudança tecnológica e social. A sociedade portuguesa precisa de um grande partido progressista e referencial de modernidade. Um partido que assuma uma nova centralidade do cidadão e do indivíduo no desenvolvimento económico e social. Entendo que esse é o lugar histórico do PS.
Deputado europeu eleito pelo PS