Um milhão de empregos climáticos

Reconstruir a noção de emprego e reinventar a utilidade do trabalho pode ser a chave para travar a destruição do planeta. Porque "se a Natureza fosse um banco, já teríamos 1 milhão de empregos públicos úteis”

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Lucy Nicholson/ Reuters

Evoluir para uma economia baseada no uso de energias renováveis e defesa do interesse público, em deterioração dos interesses privados, pode ser a solução para a crise económica que nos persegue desde 2007. Uma crise que resultou em medidas de austeridade impostas por instituições focadas em defender o capital e o poder político e que têm como objectivo destruir o Estado Social e substituí-lo por corporações. Ou seja, pôr toda a sociedade a girar em torno da riqueza de 1% da população mundial.

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Evoluir para uma economia baseada no uso de energias renováveis e defesa do interesse público, em deterioração dos interesses privados, pode ser a solução para a crise económica que nos persegue desde 2007. Uma crise que resultou em medidas de austeridade impostas por instituições focadas em defender o capital e o poder político e que têm como objectivo destruir o Estado Social e substituí-lo por corporações. Ou seja, pôr toda a sociedade a girar em torno da riqueza de 1% da população mundial.

E se revertêssemos este cenário? Reconstruir a noção de emprego e reinventar a utilidade do trabalho pode ser a chave para travar a destruição do planeta. Basta virar a economia à esquerda e seguir políticas de emprego que contribuam para uma sociedade justa, equitativa e sustentável, em vez de andarmos só a produzir a riqueza de outros e a contribuir para a destruição do planeta. A ideia não é nova e Jonathan Neale tem sido pioneiro na defesa da criação de postos de trabalho centrados na protecção do Ambiente, que lidem directamente com o corte nas emissões de gases de estufa e que contribuam para o desacelerar das alterações climáticas.

O que é que tem corrido mal até agora? O fosso entre ricos e pobres: a desigualdade tomou posse numa sociedade em que as empresas e corporações aumentam os seus rendimentos à custa da exploração da classe trabalhadora e do desemprego. Depois, os lucros e investimentos associados à especulação dos mercados e empréstimos que transformam o mundo num casino gigante, mas acessível só para alguns. Neste casino, “brinca-se aos mercados” e destroem-se postos de trabalho. Resultado? Uma taxa de desemprego alta, com menos pessoas a contribuir para a sustentabilidade da economia do Estado Social e o Governo a desembolsar mais de 3 mil milhões de euros só no caso BPN, sem contar com o BCP, BPP e BES.

É possível baixar a taxa de desemprego e resgatar o planeta com a criação de emprego público útil. O Estado podia usar o dinheiro que gasta nos incentivos económicos (como os estágios IEFP que beneficiam a NESTLÉ, EDP, SONAE [proprietária do PÚBLICO], BPI ou BNP Paribas e cujos os lucros não param de aumentar!) para investir na criação de emprego público útil: emprego relacionado com a produção de electricidade ligada às energias eólica e solar; com o desenvolvimento dos transportes públicos; com a reconversão das casas e dos edifícios para que se tornem sustentáveis; e com a reinvenção da indústria, para que não seja prejudicial ao ambiente e se aposte no desenvolvimento local e sustentável, invertendo a lógica da Globalização.

E se nos dedicássemos tanto aos serviços públicos como somos obrigados a dedicarmo-nos às empresas? E se fôssemos "Public Interest Focus" em vez de "Client Focus"? E se o trabalho se tornasse útil e parássemos de trabalhar para contribuir apenas para a riqueza das corporações, bancos e sociedades de advogados?

Como diria o activista internacional Jonathan Neale, responsável pela campanha mundial Global Climate Jobs (Empregos Climáticos Globais) e que estará em Lisboa este sábado, 17 de Outubro, às 21h no MOB, para debater estes temas, “se a Natureza fosse um banco, já teríamos 1 milhão de empregos públicos úteis”.