Israel monta checkpoints em Jerusalém Oriental arriscando inflamar a revolta

Além do reforço policial foram anunciadas várias medidas punitivas contra autores de ataque.Polícia mata dois palestiniano, incluindo um que esfaqueou uma mulher.

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Os primeiros postos de controlo foram montados no acesso ao bairro onde viviam os três atacantes de terça-feira Menahem Kehana/AFP

As forças de segurança israelitas começaram nesta quarta-feira a controlar os acessos aos bairros árabes de Jerusalém Oriental, uma medida excepcional para tentar travar a vaga de ataques dos últimos dias. Apesar do reforço, e após algumas horas de acalmia, um palestiniano foi morto junto a uma das entradas da Cidade Velha, aparentemente quando brandia uma faca na direcção de soldados. À tarde, um outro homem foi morto depois de esfaquear e ferir uma senhora idosa numa estação de camionetas.

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As forças de segurança israelitas começaram nesta quarta-feira a controlar os acessos aos bairros árabes de Jerusalém Oriental, uma medida excepcional para tentar travar a vaga de ataques dos últimos dias. Apesar do reforço, e após algumas horas de acalmia, um palestiniano foi morto junto a uma das entradas da Cidade Velha, aparentemente quando brandia uma faca na direcção de soldados. À tarde, um outro homem foi morto depois de esfaquear e ferir uma senhora idosa numa estação de camionetas.

A resposta israelita aos dois ataques de terça-feira foi anunciada já durante a madrugada, quando terminou finalmente a reunião do Gabinete de Segurança convocada pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Em poucas horas, a Polícia de Fronteiras, uma unidade paramilitar, colocou os seus homens nas entradas de vários bairros árabes, entre eles Jabel Mukaber. Foi dali que, 24 horas antes, partiram os dois homens que se apoderaram de um autocarro no vizinho bairro judeu de Armon Hanatziv, matando dois passageiros e ferindo vários outros. Era também ali que morava o homem que, minutos depois, atropelou e esfaqueou duas pessoas numa paragem de autocarro na parte ocidental da cidade, matando uma delas.

Foi o culminar de uma semana em que o clima de medo se instalou em Jerusalém, com uma sucessão de ataques à facada, levados a cabo por palestinianos, alguns ainda adolescentes. Os esfaqueamentos estenderam-se a outras cidades, provocando mais de uma dezena de feridos, mas os serviços de segurança adiantam que quatro em cada cinco agressores eram oriundos de Jerusalém Oriental – os habitantes da zona, ocupada e anexada por Israel, possuem documentos de identificação israelita que lhes permitem circular livremente pelo país, ao contrário do que acontece com os residentes na Cisjordânia.

Temendo ser acusado de dividir uma cidade que Israel reivindica como sua “capital indivisível”, o Governo israelita resistiu aos apelos da direita mais radical para um bloqueio total aos bairros árabes, adiantando que em causa está apenas o controlo das entradas e saídas daquelas zonas. “Ninguém vai cercar Jerusalém Leste”, sublinhou o ministro da Justiça, Ayelet Shaked.

Nesta quarta-feira, em Jabel Mukaber não eram visíveis os blocos de betão que caracterizam os checkpoints do Exército na Cisjordânia; ao invés patrulhas fortemente armadas mandavam parar os carros que saiam do bairro, revistando os ocupantes um a um.

Mas ainda que seja temporária, esta é uma das medidas mais drástica adoptadas em Jerusalém Oriental desde a segunda Intifada, quando os atentados-suicidas era quase diários, e ameaça inflamar ainda mais a tensão na cidade, palco de reivindicações religiosas e territoriais como nenhuma outra: a população árabe, 37% dos residentes de Jerusalém, vive em bairros pobres e acossados pela expansão dos colonatos; na Cidade Velha somam-se os confrontos em redor do disputado Pátio das Mesquitas.

Um risco que aumenta tendo em conta outras medidas decididas na mesma reunião. Além da mobilização de forças paramilitares para auxiliar a polícia no patrulhamento das cidades, o Gabinete de Segurança israelita decidiu revogar as autorizações de residência em Israel aos envolvidos nos ataques e acelerar a demolição das suas casas, proibindo novas construções nesses locais. “Estamos perante uma punição colectiva em total violação da lei internacional”, reagiu um porta-voz de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana.

Como se não bastasse, o Governo israelita anunciou também que não vai devolver os corpos dos atacantes abatidos pela polícia. “A família dos terroristas transformam os funerais em manifestações de apoio ao terrorismo e incitamento a novos assassínios e nós não podemos permitir isso”, declarou Gilad Ergan, ministro da Segurança Pública, adiantando que “tal como no passado” os corpos serão sepultados em cemitérios reservados a autores de atentados.

As cerimónias fúnebres são muito importantes tanto para judeus como muçulmanos, pelo que, a concretizar-se, a decisão promete acirrar ainda mais a revolta palestiniana que alimenta o actual surto de violência. Isto sobretudo depois de a Autoridade Palestiniana ter acusado as forças de segurança israelitas de estarem a cometer “execuções extrajudiciais”, citando vídeos em que os autores dos esfaqueamentos são mortos já depois de desarmados ou de se terem rendido – imagens que são mil vezes partilhadas nas redes sociais.

São ainda pouco claras as circunstâncias da tentativa de ataque desta quarta-feira junto à porta de Damasco, uma das principais entradas da Cidade Velha. A polícia israelita afirma que o jovem, oriundo de Hebron, na Cisjordânia, chamou a atenção dos agentes que patrulhavam a zona e foi morto depois de se ter aproximado deles com uma faca. Mas ainda antes de as informações serem confirmadas, já as imagens do seu corpo estendido junto a um dos locais emblemáticos de Jerusalém circulavam na Internet.