Estado Islâmico decreta jihad à Rússia

Moscovo faz agora parte dos alvos a abater pelos jihadistas, para além dos Estados Unidos. Embaixador em Damasco admite que a campanha aérea russa quer abater também o braço da Al-Qaeda na Síria.

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A Rússia começou a sua campanha aérea na Síria a pedido de Assad, no final de Setembro. Louai Beshara/AFP

O autoproclamado Estado Islâmico decretou uma jihad, ou guerra santa muçulmana, contra a Rússia e Estados Unidos. No espaço de uma semana, tornou-se no segundo grande grupo extremista na Síria a ameaçar Moscovo  pela sua campanha aérea a favor de Bashar al-Assad.

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O autoproclamado Estado Islâmico decretou uma jihad, ou guerra santa muçulmana, contra a Rússia e Estados Unidos. No espaço de uma semana, tornou-se no segundo grande grupo extremista na Síria a ameaçar Moscovo  pela sua campanha aérea a favor de Bashar al-Assad.

A Rússia será derrotada”, disse um dos porta-vozes do grupo extremista, numa mensagem áudio publicada nesta quarta-feira. Nela, Abu Mohamed al-Adnani apela a que “muçulmanos por toda a parte lancem uma jihad contra os russos e americanos”, responsáveis, segundo ele, por uma “guerra de cruzada contra os muçulmanos”.

Há muito que os Estados Unidos são referência habitual nas ameaças do grupo extremista, mas esta é a primeira vez em que a Rússia é expressamente visada. Moscovo começou a bombardear posições de grupos insurgentes na Síria no dia 30 de Setembro, a pedido do Presidente sírio e sob o pretexto de atacar o Estado Islâmico. Os caças russos já fizeram vários ataques contra os jihadistas na Síria, embora estes representem apenas uma fracção das suas ofensivas aéreas.

Os alvos da Rússia na Síria são motivo de divergências com o Ocidente, que acusa Moscovo de atacar grupos de rebeldes moderados, alguns deles financiados pelos Estados Unidos. Os caças russos atacam sobretudo o Noroeste do país, território onde o Estado Islâmico não tem uma presença relevante – à excepção de Aleppo. Esta área é maioritariamente controlada por alianças de grupos islamistas radicais, embora haja lá também grupos do fragmentado Exército Livre da Síria, apoiado pelo Ocidente e aliados árabes. Vários grupos ditos moderados aliaram-se a jihadistas para fazerem frente à dupla ofensiva de Moscovo e Damasco aos seus territórios. 

O embaixador da Rússia na Síria afirmou nesta quarta-feira que, para além do Estado Islâmico, a ofensiva de Moscovo é dirigida também contra a Frente al-Nusra, o poderoso braço da Al-Qaeda no país. “Está tudo claro: estas organizações são reconhecidas como terroristas por todo o mundo e constam da respectiva lista do Conselho de Segurança da ONU”, disse Alexandre Kinchtchak.

A Frente al-Nusra declarou também guerra contra a Rússia esta semana. Em comunicado, o grupo islamista – uma das principais facções na guerra da Síria –, pediu aos jihadistas no Cáucaso que atacassem a população russa e prometeu que o envolvimento de Moscovo na guerra “fará com que os russos esqueçam os horrores que encontraram no Afeganistão”. 

Do Ocidente, disse o embaixador russo na Síria, há “especulações, deformações e tentativas de apresentar estes grupos de bandidos como rebeldes, membros do braço armado da oposição moderada na Síria”. Alexandre Kinchtchak põe o dedo na ferida do Ocidente, que resiste à noção de que a oposição moderada na Síria é em larga medida inviável e que em nada se compara aos mais fortes e bem preparados grupos extremistas.

“À medida que a guerra civil na Síria se radicalizou, os ditos grupos de rebeldes moderados foram ou derrotados ou absorvidos pelos grupos islamistas, que passaram ao primeiro plano”, afirmou, citado pela AFP.