Com um misto de impulso e reflexão, Maria de Belém concorre para “disputar a vitória”

Portugal precisa de um Presidente da República “independente” que saiba “interpretar a vontade do povo”, disse a socialista na apresentação da candidatura presidencial. No Centro Cultural de Belém, em Lisboa, estiveram socialistas como Manuel Alegre, Almeida Santos, ou Jorge Coelho.

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Portugal precisa de um Presidente da República “independente” que saiba “interpretar a vontade do povo”. As palavras são de Maria de Belém Roseira que, movida por um “imperativo patriótico”, por um “impulso de cidadania” e depois de uma “reflexão séria e profunda” sobre o país, tomou a decisão “amadurecida” de se candidatar à Presidência da República.

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Portugal precisa de um Presidente da República “independente” que saiba “interpretar a vontade do povo”. As palavras são de Maria de Belém Roseira que, movida por um “imperativo patriótico”, por um “impulso de cidadania” e depois de uma “reflexão séria e profunda” sobre o país, tomou a decisão “amadurecida” de se candidatar à Presidência da República.

Ao longo do discurso de apresentação formal que fez nesta terça-feira na sala Sophia de Mello Breyner do Centro Cultural de Belém, a ex-ministra recebeu muitas palmas, agradeceu a todos os que lhe ensinaram a ser quem é e garantiu duas vezes: “Candidato-me a esta eleição para disputar a vitória.”

Ao contrário do candidato Marcelo Rebelo de Sousa, que falou diante de uma plateia praticamente constituída só por jornalistas, Maria de Belém contou na cerimónia com a presença de socialistas como Almeida Santos, Manuel Alegre, Jorge Coelho, Alberto Martins, Eurico Brilhante Dias, António Galamba, Óscar Gaspar, Miguel Laranjeiro ou António Braga - na sua maioria, antigos dirigentes da liderança de António José Seguro.

O PS decidiu não apoiar nenhum dos candidatos da área socialista - como Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém, mas também Henrique Neto e Cândido Ferreira -  na primeira volta das eleições presidenciais. .

Aos presentes, a antiga ministra da Saúde e da Igualdade em governos de António Guterres, e ex-presidente do PS durante a liderança de António José Seguro, disse que avança porque considera que o país “precisa” de um Presidente da República que “saiba ser independente”, que “sabia interpretar a vontade do povo” e “dar voz às pessoas mais frágeis”.

No discurso, referiu-se ainda a todos os portugueses espalhados pelo mundo e lembrou a história e o “prestígio” de Portugal. Frisou que defende o “primado das pessoas sobre a economia” e uma “globalização justa” que salvaguarde o ambiente.

Durante a reflexão que fez antes de se candidatar, Maria de Belém olhou para o seu país e viu “como uma parte da população está descrente”, viu o avanço “impiedoso das desigualdades”, viu a crise dos últimos anos que agravou as condições de vida, viu a pobreza alastrar, viu uma geração de jovens “forçada” a emigrar.

Sem “interesses” ou “agendas partidárias” a nortear a sua decisão de entrar nesta corrida presidencial de Janeiro próximo, Maria de Belém diz mesmo que a afirmação da autonomia e independência políticas é um “teste” que considera “essencial” para aferir da “credibilidade” de uma candidatura presidencial. É isso que garante que o mandato presidencial será exercido com “autonomia” e “isenção” em relação “às agendas partidárias”.

"O programa de um Presidente da República é um – a Constituição da República Portuguesa", disse.

Almeida Santos quer experiência à esquerda
Maria de Belém entende que Portugal precisa de um Presidente que saiba ser “moderador”, que tenha isenção, “autoridade desinteressada”. Defende uma presidência que tenha um papel na eliminação do flagelo da pobreza infantil, que combata as desigualdades salariais entre homens e mulheres, entre muitos outros objectivos. Um Chefe de Estado deve ter “maturidade” política, não está no exercício das suas funções para cumprir um programa político, afirmou.

A socialista admitiu que se vivem “tempos complexos e de soberania partilhada”, mas a sua convicção é a de que Portugal “deve fazer tudo ao seu alcance para manter e aprofundar o projecto da União Europeia”. Porque este é “vital” para garantir a paz e a cultura de “direitos humanos universais”. Apesar disso, e referindo-se à história do país, ressalvou que Portugal “é mais, muito mais” do que a Europa.

Sobre a crise, defendeu que é necessário tirar “as lições correctas” e que a “coesão social e territorial”, bem como a redução das desigualdades, são fontes de desenvolvimento económico. Destacou o lugar “central” que deve ter o Estado Social, defendeu uma economia “social e solidária”, da “cooperação e da partilha”, mas também deixou claro que tal não é incompatível com a existência do sector privado.

Citou ainda o Papa Francisco, quando disse que este tempo descentrou a pessoa, colocando no centro o deus do dinheiro, para sublinhar que é preciso “inverter” esta “inversão de valores”.

Maria de Belém fez também uma incursão pela sua biografia e destacou que tem “40 anos de vida pública”. Lembrou que não nasceu “hoje” para a política, que foi ministra, deputada, presidente do PS, o partido da “liberdade”, dos “valores humanistas”, do “projecto europeu”. Foi ainda deputada municipal, esteve ligada a muitas instituições de solidariedade, entre vários outros cargos que enumerou.

Foi a 17 de Agosto que se soube que Maria de Belém era candidata à Presidência da República, embora a cerimónia pública de apresentação só estivesse prevista para depois das eleições legislativas. O tema das legislativas foi, aliás, abordado por alguns socialistas apanhados à chegada pela comunicação social.

Almeida Santos considerou, por exemplo, que “tudo se encaminha para um Governo de esquerda” em Portugal e defendeu que a “experiência” de uma coligação à esquerda “deve ser feita”. Manuel Alegre – para quem Maria de Belém é a melhor candidata – considerou mesmo “grave” que o Presidente da República não venha a aprovar um executivo de coligação de esquerda que lhe seja apresentado.

Também presente na cerimónia, Jorge Coelho não quis comentar as negociações em curso tendo em vista a formação de Governo e optou antes por destacar a “enorme maturidade” de Maria de Belém para exercer o cargo a que se candidata, defender os que “não tem voz” e “unir os portugueses”.

No fim, Alberto Martins também comentava que um Presidente não deve ter programas de convergência com o Governo e que a Constituição é que o único programa que deve ter. Isso é “exigível” a um candidato e “Maria de Belém acabou de o afirmar” num discurso que considerou “muito forte”.